Com Eduardo Coutinho, morre um pedaço do cinema nacional, diz Antonio Pitanga

Publicado em 03/02/2014 - 19:16 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - Velório do cineasta Eduardo Coutinho. O corpo foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul.     Na foto, o ator Antônio Pitanga (Tomaz Silva/Agência Brasil)

O ator Antonio Pitanga disse, no enterro de Eduardo Coutinho, que o cineasta ficará para sempre como um gênio do documentárioTomaz Silva/Agência Brasil

“A família do cinema brasileiro está destroçada”, comentou hoje (3) o ator Antonio Pitanga, durante o enterro do cineasta Eduardo Coutinho, morto ontem (2) em seu apartamento, aos 80 anos, pelo filho Daniel, de 41 anos, segundo a polícia. Para Pitanga, Coutinho era um cineasta e também um ser humano “genial”, que sucumbiu diante da insegurança e da violência que marcam o mundo na atualidade. “É uma dor muito grande. Nós sabemos quanto foi duro a gente erguer o cinema brasileiro, colocá-lo em um patamar mundial”.  Coutinho ficará para sempre, para o ator, como um gênio do documentário, talvez o maior do mundo. "Com ele, morre um pedaço do cinema nacional", admitiu.

O cineasta Breno Silveira, diretor de  Dois Filhos de Francisco e de Gonzaga, diz que  aprendeu com Eduardo Coutinho tudo o que sabe. “Coutinho foi o meu mestre. Acho que esse olhar  bonito que ele tinha com as pessoas simples, com o ser humano, era uma coisa muito difícil de encontrar. Muito do que eu olho, do que eu vejo,  a forma como eu filmo, aprendi com ele. Tem muito disso no Dois Filhos de Francisco, tem muito disso no Gonzaga”. Coutinho foi o primeiro cineasta com quem Breno Silveira trabalhou  depois de se formar em cinema na França. “Foi meu primeiro grande mestre”.

O ator Tonico Pereira salientou as virtudes de Coutinho enquanto cineasta. “Ele tinha uma linguagem muito clara, muito explícita, muito precisa. E a substância dele foi sempre o homem. Acho isso, verdadeiramente o grande lance da obra dele: a substância humana que ele colocava registrado através das máquinas.  Mas, fundamentalmente, o homem”.

Especializada em videoarte e documentários, a cineasta Sandra Kogut sublinhou que pessoas que  foram personagens de Coutinho em seus filmes e muitas que sequer estiveram retratadas nas histórias mas que tiveram algum tipo de contato com ele, fizeram questão de levar  sua última homenagem. “Só o maior documentarista do mundo  pode ter essa honra, uma expressão tão concreta do valor  de como  era uma pessoa única e tão preciosa”. A qualidade humana foi destaque para a cineasta em toda a vida de Coutinho. “Ele conseguiu estabelecer esse nível de conexão com as pessoas, o que é uma coisa difícil. E ele sabia fazer. Um grande mestre”.

O cineasta Neville de Almeida, famoso por filmes como A Dama do Lotação e Os Sete Gatinhos, lamentou que as homenagens a Eduardo Coutinho não tivessem sendo feitas na dimensão que ele merecia e que não tivessem sido prestadas enquanto estava vivo. “Era um documentarista e cineasta que, com talento, paixão e inventividade, renovou o conceito de documentário. Agora,  o que a gente deve registrar, que é uma coisa recorrente e acontece sempre,  é que esperam morrer para homenagear”.

O reconhecimento que Coutinho teve foi muito pouco, apesar dos prêmios, segundo Neville de Almeida, pelo talento e pela grandeza que eram suas características. “A gente tem que homenagear as pessoas enquanto elas estão vivas, fazer as festas, reconhecer o talento, essa coisa maravilhosa que é a força do cinema brasileiro e as pessoas que fizeram isso”. Ele ressaltou que Eduardo Coutinho foi um dos maiores cineastas do mundo, que conseguiu influenciar o documentário, “que é uma coisa que milhares de pessoas fazem, mas ele conseguiu, dentro desse gênero, ser um dos melhores do mundo”.

Diretor de fotografia de filmes como A Febre do Rato, Central do Brasil, Lavoura Arcaica, o  cineasta brasileiro Walter Carvalho disse que Coutinho era uma  pessoas especial. “Coutinho era uma pessoa que, na largada, já avançou com um tipo de preocupação  com a vida que ele tentou retratar no cinema. E, curiosamente,  essa própria maneira de ele examinar a vida, se voltou contra ele, de certa forma”.

Carvalho acentuou que Eduardo Coutinho se interessava muito pelo drama humano. “Não exatamente a tragédia em si, mas o drama humano, o drama familiar, o drama social e político”. Nesse sentido, ele indicou que o cinema de Coutinho, tanto na ficção como no documentário, se destacava pela lucidez. “É um exemplo para os outros colegas de profissão. E um exemplo para quem quer entender o Brasil. Coutinho é um dos  responsáveis, ao lado de tantos [brasileiros] como Graciliano Ramos, Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer,  pela possibilidade de,  por meio dele, se compreender o Brasil”. Carvalho avaliou que isso não era um elogio, e sim uma constatação. “Você pode compreender melhor a vida e o Brasil se olhar as coisas feitas pelo Coutinho. O resto é silêncio”.

Edição: Fábio Massalli

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