Bienal enfoca literatura oriental entre desafios atuais e herança autoritária

Publicado em 16/04/2014 - 20:53 Por Helena Martins - Repórter da Agência Brasil - Brasília

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Livros que tratam de sexo, drogas, mudanças identitárias, indivíduos, e não mais das culturas milenares ou dos desafios políticos dos distintos países. Essa é a nova literatura oriental, debatida hoje (16), na 2ªBienal Brasil do Livro e da Leitura. São obras produzidas por uma geração de escritores que se defronta com fenômenos como a globalização, a internet e as migrações entre diferentes países.

No caso chinês, essa literatura enfrenta a resistência do regime político do país. O escritor Murong Xuecun descreveu a situação de forma categórica: “A liberdade de expressão é inimiga natural do governo chinês”. De acordo com ele, “existe um grande aparato de censura que funciona dia e noite. Todo dia, muitas palavras viram palavras 'delicadas'. Todos os dias, muitas pessoas entram na lista negra. Todos os dias, fiscais ligam avisando quais eventos podem ser noticiados, quais nomes não podem ser citados”.

Com o livro Deixe-me em Paz, Xuecun vendeu cerca de 1 milhão de exemplares na China, tornou-se fenômeno literário e uma das vozes que mais ecoam denúncias sobre a ausência de pluralidade política, no país. Ele contou que na edição de suas obras viu parágrafos serem omitidos e palavras serem trocadas. Qualquer referência ao Massacre da Paz Celestial, a um trator ou mesmo ao ano do acontecimento foram proibidas; o nome “Índia” também não podia ser citado, segundo o escritor, pois tematizar o assunto poderia gerar problemas diplomáticos, na visão do governo.

Por conta da censura, Murong Xuecun usou a internet para divulgar a literatura que produz. Ele conseguiu ampliar o alcance pelas redes sociais, dentre as quais o microblog Weibo – similar ao Twitter, que é proibido no país – no qual o escritor chegou a ter quase 4 milhões de seguidores, antes da conta ser encerrada pelo governo. Ele afirmou que 3.000 blogueiros da China foram presos, apenas no ano passado, inclusive por publicação de piadas. “A manifestação da opinião, na China, praticamente está morta”, avalia.

Na Coreia do Sul, país em que a internet é a mais rápida do mundo, smartphones e redes sociais são as plataformas mais utilizadas para os amantes da literatura. Expoente de uma nova geração de escritores, Kim Young-ha escolheu a vida contemporânea como tema de seus livros, nos quais, filiando-se à perspectiva pós-moderna, Young-ha fala de sexo, tédio, amor, violência, a partir da vivência de indivíduos particulares. No livre de estreia, Eu Tenho o Direito de Me Destruir, ele tratou do suicídio e gerou polêmica. A obra posterior, Império da Luz, aborda a identidade coreana “em um mundo cada vez mais veloz”, explica. Já A Flor Negra trata da migração de coreanos para o México. “Embora seja um romance histórico, fala de cada indivíduo e do que ele enfrenta”, diz.

A professora de literatura Leide Rozane, 27, foi para o debate para conhecer pessoalmente os autores, especialmente Kim Young-ha, que já havia lido: “Eu me interesso bastante pela literatura oriental, foi um puxando o outro, até chegar ao sul-coreano”. Ela explica que gosta das obras orientais pelas narrativas e pelo contato com outras culturas: “É diferente você imaginar a situação em outros países, outros continentes”.

Editor de livros de Murong Xuecun e Kim Young-ha no Brasil e também curador da bienal, Luiz Fernando Emediato afirma que a literatura oriental tem sido bem recebida. Para ele, “o que define o sucesso de um livro não é de onde ele vem, é do que ele trata”. Emediato explica que o público tem curiosidade pelas diferenças de comportamento e de valores: “Para quem gosta de ler, é a coisa clássica. Literatura é uma viagem. Você lê e imagina outras realidades, outros povos, outras vozes. E, com a globalização, mais ainda. Há toda uma vontade de saber, de descobrir o planeta Terra com suas peculiaridades”.
 


Fonte: Bienal enfoca literatura oriental entre desafios atuais e herança autoritária

Edição: Stênio Ribeiro

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