Festival Panorama chega aos 25 anos celebrando a dança como gesto político

Publicado em 03/11/2016 - 21:59 Por Paulo Virgílio - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Considerado o maior evento de artes do corpo, dança e performance do Brasil e um dos mais importantes da América Latina, o Festival Panorama celebra 25 edições, apresentando de hoje (3) até o dia 23 mais de 20 atrações internacionais e brasileiras em linguagens diversas. São performances, mostras, intervenções urbanas, workshops e conversas públicas, que ocorrem em oito espaços culturais do centro e das zonas sul e norte do Rio de Janeiro, todos com preços acessíveis  ou entrada franca.

Trazer à cidade novos espetáculos da cena contemporânea mundial sempre foi uma preocupação da curadoria do Panorama. Esse ano, dois trabalhos internacionais fazem suas estreias no Rio de Janeiro: Dub Love (França) e O Que Fazer Daqui Para Trás (Portugal).

Festival Panorama traz espetáculos nacionais e internacionais de dança

O espetáculo The Show Must Go On, do coreógrafo francês Jérôme Bel, retorna ao Festival PanoramaDivulgação/Festival Panorama

O primeiro, dos coreógrafos e bailarinos François Chaignaud e Cecilia Bengolea, desconstrói a formalidade e tradição do balé clássico em uma peça toda dançada em ponta (dançar na ponta, no balé, é subir até as pontas dos dedos, de modo que o peso do corpo se concentra totalmente nesta pequena área), ao som de um remix de dub e reggae criado pelo DJ High Elements. Já em O Que Fazer Daqui Para Trás, o bailarino e coreógrafo português João Fiadeiro, da Companhia RE.AL, explora a duração do tempo suspenso, o intervalo, focando a atenção no que não está acontecendo diante do público, ou seja, a ausência se sobrepõe à presença.

Alguns destaques internacionais retornam à programação do festival, como Tempo e Espaço: Os Solos da Marrabenta,  performance do moçambicano Panaibra Gabriel, apresentado pela primeira vez em 2010. O artista desconstrói a ideia de corpo colonizado africano, com o acompanhamento do músico Jorge Domingos, que executa ao vivo a "marrabenta", estilo de música urbana típica de seu país.

O espetáculo The Show Must Go On, do coreógrafo francês Jérôme Bel, estreou em 2001 e no ano seguinte foi apresentado no Panorama. O trabalho coloca em cena 20 intérpretes, entre dançarinos profissionais e pessoas comuns, ao som dos hits da música mundial dos últimos 30 anos.

São trabalhos que reforçam o caráter do evento, desde sua primeira edição. “O Panorama tem um histórico de ser um festival ligado às questões da sociedade, um festival político. E neste momento em que a gente está vivendo, com pensamentos retrógrados ganhando espaço nas redes sociais, o gesto como potência politica é uma coisa muito importante. Muitos trabalhos nesta edição utilizam o corpo como modo de fazer política”, explicou a diretor e curadora Nayse López.

Entre os destaques nacionais, o Panorama apresenta o novo trabalho de Angel Vianna, que terá sua pré-estreia no festival. Com 87 anos de idade e 65 de carreira, Angel é uma patrimônio da cultura brasileira. No espetáculo Angel Vianna – o que eu mais gosto é de gente,  sete mulheres e quatro homens, em infinitas conversas, carregam influências da artista em suas histórias. Em cena, nomes importantes da dança carioca, em uma emocionante homenagem à mestra.

Outras três estreias nacionais marcam a edição de 2016. Médelei – eu sou brasileiro (etc) e não existo nunca, de Cristian Duarte (SP); Looping: Bahia Overdub, Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino (BA), e Batucada, uma coprodução Brasil/Holanda, do piauiense Marcelo Evelin/demolition inc., uma intervenção político-alegórica, em que mascarados batucam panelas, frigideiras e latas, em uma espécie de desfile apoteótico e revolucionário.

Segundo Nayse López, o evento este ano também tem motivos para celebrar sua própria realização. “Sem dúvida, a gente teve um orçamento menor que nos anos anteriores, mas eu gosto de olhar pelo lado do sim. Nós estamos conseguindo fazer um festival de 20 dias e somos privilegiados por ter condições de comemorar à altura os nossos 25 anos, num ano em que muitos eventos sequer puderam acontecer”, disse.

O Festival Panorama ocorre no Oi Futuro Flamengo, Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Centro de Artes da Maré, Sala Cecília Meireles, Teatro Cacilda Becker, Teatro Municipal Carlos Gomes e o Museu de Arte do Rio (MAR). Uma exposição, uma videoinstalação, workshops e debates também fazem parte da programação, que está disponível no site www.panoramafestival.com .

O evento é patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, pelo CCBB e pelas empresas Oi e Petrobras, por meio das leis federal e estadual de incentivo à cultura.


Fonte: Festival Panorama chega aos 25 anos celebrando a dança como gesto político

Edição: Fábio Massalli

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