Filhos de Gandhy levam mensagem de paz a centro histórico de Salvador

Com presença do cantor e compositor Gilberto Gil, bloco saiu às ruas

Publicado em 26/02/2017 - 19:15 Por Sayonara Moreno – Correspondente da Agência Brasil - Salvador

Salvador Bloco Afoxé Filhos de Gandhy desfila no centro histórico de Salvador com mensagem de paz e de resistência (Sayonara Moreno/Agência Brasil)

Bloco Afoxé Filhos de Gandhy desfila no centro histórico de Salvador pelo 68º ano com mensagem de paz e de resistênciaSayonara Moreno/Agência Brasil

De mortalha branca e detalhes azuis, os Filhos de Gandhy saíram às ruas do centro histórico de Salvador, na tarde de hoje (26), levando mensagens de paz e de resistência do povo negro. Esta é a 68ª vez que o Afoxé Filhos de Gandhy desfila no carnaval de Salvador e estende, pelas ruas do Pelourinho, o tapete da paz com as cores das vestimentas.

O tema deste ano – Diáspora Africana: A travessia não me abateu, Tornou-me forte! – é uma forma de ressaltar as conquistas do povo negro, mesmo diante das dificuldades enfrentadas. Para o guru espiritual do Afoxé, Valdemar José de Souza, conhecido por Tio Souza, a homenagem é uma forma de reforçar a resistência das pessoas negras, sobretudo as trazidas da África em navios negreiros.

“Estamos homenageando as nações africanas, com a diáspora. Essa é a nossa responsabilidade, de representar bem uma entidade mundialmente conhecida, nos esforçarmos para fazer do sacrifício o exercício. Nossa roupa tem uma representatividade forte e com muito sentido espiritual, até porque tudo que fazemos é com cunho espiritual. Não denominamos como alegoria, mas é tudo voltado para a espiritualidade e a individualidade de cada pessoa”, explica Tio Souza.

Ritual pela paz

Antes da saída dos integrantes pelas ruas do Pelourinho, os participantes fizeram o tradicional Padê, cerimônia religiosa do candomblé, seguido pela soltura de milho branco sobre os presentes. Segundo Tio Souza, as oferendas [são feitas] ao Orixá Escravo, o guardião da casa.

Salvador Cantor e compositor baiano Gilberto Gil participou do desfile do Filhos de Gandhy (Sayonara Moreno/Agência Brasil)

Cantor e compositor baiano Gilberto Gil participou do cortejo Sayonara Moreno/Agência Brasil

Após a cerimônia, centenas de homens vestidos em tecidos que lembram vestes indianas começaram o desfile, enquanto borrifavam alfazema na multidão. O músico e compositor baiano Gilberto Gil participou do cortejo.

Um grupo de músicos seguiu o cortejo, tocando agogôs e outros instrumentos que compõem o ritmo Ijexá, tocado por 80 percussionistas. Com vestimenta em cor diferente da dos demais, Marcos Lopes, da ala de canto do Afoxé, conta que o preparo não é só espiritual, mas vocal e físico para aguentar três desfiles no carnaval.

“Compensa muito ver a alegria dos associados. É uma coisa que não tem preço, esse amor e essa dedicação fazendo o povo feliz e pedindo pela paz”, declara.

A procura pela fantasia dos Filhos de Gandhy intensificou o comércio do centro histórico de Salvador. Até para a colocação da toalha branca na cabeça dos integrantes, é preciso experiência para manter o padrão.

Melhoria de renda

Há 14 carnavais, a dona de casa Lúcia Araújo aproveita os desfiles do Afoxé Filhos de Gandhy para melhorar a renda. Segundo Lúcia, um ex-dirigente do bloco a incentivou a fazer o curso de costura da toalha branca na cabeça. O processo envolve a costura, a mão, com a presença do participante, já que é tudo feito sob medida, na hora do desfile.

“O pessoal me procura muito para fazer o serviço, e isso me ajuda muito a melhorar a renda durante o carnaval. Eu agradeço muito a ele [ex-dirigente], por ter me dado a ideia do curso que durou cinco meses. Desde então, sempre venho no carnaval fazer a costura das toalhas”, disse Lúcia, que tem um pequeno bar em casa.

A indumentária, que lembra túnicas indianas, assemelha-se a vestidos. Esse foi um motivo que a produtora de eventos Sueli Souza encontrou para desconstruir o machismo e o sexismo no filho Jonatan Salvador, de 5 anos. Segundo Sueli, a criança sempre questionou o uso das roupas em homens por entender que vestidos são para mulheres. Para acabar com a ideia, ela resolveu vestir o filho este ano para ensinar que roupa não têm gênero.

“Eu resolvi vesti-lo assim, porque ele tem a ideia de que é um vestido, e ele disse que homem não usa isso. Agora eu o trouxe para mostrar que não há roupa exclusiva de homem ou mulher. Apesar de ter resistido, ele está aceitando por ver outros homens assim também”, diz a mãe de Jonatan.

Após a concentração, no Pelourinho, o bloco composto somente por homens seguiu para as ruas do Campo Grande, onde foi puxado por um trio. Amanhã (27), o bloco de 3 mil associados volta às ruas, mas no circuito Barra–Ondina, às 15h. Na terça-feira (28), último dia de carnaval, será a última saída do Afoxé, no contrafluxo no Circuito Osmar-Campo Grande.

Edição: Wellton Máximo

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