Jornada do Patrimônio incentiva cuidado com espaços tombados e afetivos de SP

Publicado em 19/08/2017 - 17:55 Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil - São Paulo

“Uma demonstração de amor a São Paulo nesta tarde de chuva”. Foi assim que o guia Francivaldo Gomes – ou Popó, como também gosta de ser chamado, – iniciou a visita ao Cemitério da Consolação, que “é um verdadeiro museu a céu aberto”. Popó tem razão. Os túmulos de marqueses, condessas, escritores modernistas, abolicionistas, entre outros, ajudam a contar a história de São Paulo e do Brasil.

A atividade faz parte da Jornada do Patrimônio, organizada da Secretaria Municipal de Cultura, que ocorre neste fim de semana na capital paulista.

O evento tem por objetivo aproximar o público de espaços tombados ou com valor afetivo da cidade. Este é uma das 86 visitas guiadas que estão na programação da jornada, que inclui ainda 77 roteiros, 52 palestras, 32 oficinas, 103 imóveis, 13 apresentações artísticas e cinco lançamentos de livros.

Cemitério

O secretário de Cultura do município, André Sturm, destacou que esta é uma forma de despertar o interesse do público pelos espaços e, consequentemente, pela história e pela valorização do patrimônio histórico e cultural da cidade.

No Cemitério da Consolação, a visita começou pelo túmulo de José da Costa Carvalho, o Marquês de Monte Alegre, que foi um dos ministros do Império brasileiro, tendo sido regente quando Dom Pedro II ainda era menor de idade. A lápide data de 1850 e tem formas simples.

À frente, está Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos, que ficou conhecida como a amante de Dom Pedro I. Ela foi uma das doadoras das terras para construção do cemitério. Outra figura de destaque entre os sepultados é o líder abolicionista Luiz Gama, que, por meio da advocacia, libertou mais de 500 escravos.

Memória

Declamando poesias ou cantarolando canções, Popó, que trabalha há 16 anos no cemitério, é uma atração à parte. “De noite eu rondo a cidade. A lhe procurar sem encontrar”, cantou o guia antes de apresentar a lápide de Paulo Vanzolini, compositor da música Ronda.

Durante cerca de 1 hora e meia de visita, ele desafiou o grupo de dez pessoas a falar o nome de uma rua paulistana e ele diria o nome completo do homenageado, a data da morte e o local de sepultamento. O médico e jornalista Líbero Badaró, o historiador Caio Prado e o advogado e empreendedor Eusébio Matoso foram alguns dos nomes citados pelos participantes. A resposta estava na ponta da língua de Popó.

“Ele conhece e sabe de tudo. É o amor que ele passa pelo trabalho e pela cidade de São Paulo. A gente começa a se apaixonar e a se encantar mais ainda. É fundamental ter pessoas e figuras como ele nesses patrimônios”, disse o apresentador de tevê Filipe Borges, 33 anos, de Mogi das Cruzes, que aproveitou a passagem por São Paulo para fazer a visita guiada.

Espaços

Segundo ele, conhecer os espaços contribui para a preservação. Juan Carlos Ribeiro, 26 anos, que também fez a visita, concordou. “A partir de agora, sempre que passar por essa avenida vou olhar para esse cemitério com outro olhar, a partir de todo esse conhecimento que tivemos aqui”, afirmou.

A Jornada do Patrimônio, que segue até amanhã (20), é organizada em sete eixos, que tratam do modo de viver em São Paulo: estudar, trabalhar, morar, comprar e vender, circular, lembrar e divertir.

Além disso, inclui espaços já conhecidos da região central, mas também locais em bairros mais distantes, como a Casa de Cultura da Vila Guilherme – Casarão, na zona leste. O imóvel já abrigou uma escola no período republicano.

“Eram grupos escolares, colégios religiosos, liceus técnicos, que podem ser reconhecidos por sua linguagem arquitetônica eclética”, diz texto de apresentação da secretaria. O Casarão recebe o espetáculo Folias Galileu, de Bertold Brecht, hoje (19), às 20h.

A programação completa pode ser conferida no site do evento. 

Edição: Armando Cardoso

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