Da realidade virtual à Lava Jato, Bienal do Livro do Rio tem atrações diversas

Publicado em 03/09/2017 - 19:35 Por Paulo Virgilio - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A realidade virtual nos games e no cinema foi o tema de um bate-papo na tarde de hoje (3) no Geek & Quadrinhos, espaço cultural que tem sua estreia nesta 18ª edição da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Sob a mediação de Affonso Solano, curador do espaço, o debate reuniu Flávia Gasi (do blog Garotas Geek), André Falcão (fundador da agência digital Arco Labs) e Didi Braga (do site Matando Robôs Gigantes), para responder à indagação: "afinal, até quanto a realidade virtual vai avançar a ponto de ser uma experiência desagradável?".

ara os especialistas no assunto, a tecnologia criada nos anos 50, nos EUA, para simulações de voo, caminha a passos largos para proporcionar ao usuário uma experimentação cada vez mais humana, mas que ainda está distante de substituir as interações humanas. "Certas tecnologias vão transformar nossas relações pessoais, mas não serão capazes de nos modificar a ponto de nos transformar em outra coisa que não humanos", comentou Flávia.

Sobre os malefícios da realidade virtual para as crianças, os três debatedores foram conclusivos ao afirmar que não há estudos que comprovem a capacidade de interferência negativa no desenvolvimento infantil. No entanto, eles destacaram que os responsáveis devem ser os administradores dessas mídias em casa, na escola ou em outros ambientes. "A educação das crianças é de responsabilidade dos adultos. Ninguém conseguiu mensurar ainda o quanto um jogo ou filme de realidade virtual é capaz de fazer mal a uma criança, o problema é o excesso. E isso serve para qualquer coisa”, concluiu Didi.

Fenômenos teens

Com um foco cada vez maior no leitor jovem de todas as plataformas, a Bienal do Livro teve neste sábado (2) uma de suas atrações mais concorridas, quando a Arena #SemFiltro recebeu as artistas Maísa Silva e Priscila Alcântara, muito esperadas pelo público adolescente. Crescer com a exposição da mídia foi o tema do bate-papo descontraído que reuniu as duas jovens que se tornaram referências no mundo digital.

Ambas já têm livros publicados e falaram ainda sobre a importância da literatura. "Os jovens leem muito e estão lendo cada vez mais. O mercado entendeu essa necessidade e hoje nós temos espaços como esse para falar sobre coisas do nosso interesse", afirmou Priscila.

Apesar de não ser muito mais velha que seus seguidores e leitores, nas redes sociais e nos livros, Maísa disse que tenta ser um bom exemplo para eles. Ela também disse não ter planos de transformar seu livro, que é baseado nos seus tweets, em uma biografia.

Lima Barreto e Lava-Jato

Homenageado na última edição da Festa Literária de Paraty (Flip), o escritor Lima Barreto (1881-1922) foi tema de debate na noite de sábado no Café Literário, uma das principais atrações adultas da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. A historiadora Lilia Schwarcz falou sobre seu lançamento Lima Barreto: triste visionário, livro que conta a trajetória do escritor com forte foco na questão racial.

Lila Schwarcz ressaltou a “escandalosa atualidade” que o autor, falecido aos 41 anos, apresenta em sua obra e ao longo da vida. “Negar o racismo é a grande mentira deste país”, reforçou ela, que fez uma pesquisa de campo para a produção da biografia, indo às casas em que Lima Barreto morou e conhecendo de perto o bairro de Todos os Santos, na Zona Norte da capital fluminense, onde ele viveu sua infância.

A noite de sábado do Café Literário terminou com a participação do procurador Deltan Dallagnol e do jornalista Fernando Gabeira no debate A Lava Jato e a democracia brasileira. O público lotou o espaço para o debate em que corrupção, reforma política e indignação com a situação do País foram os temas abordados.

Tanto Dallagnol como Gabeira se mostraram preocupados em não desestimular os brasileiros no combate à corrupção. Segundo eles, a indignação deve ser o motor das mudanças e as eleições de 2018 devem ser sinônimo de renovação na política.

Dallagnol chamou a atenção para os ataques à Operação Lava Jato, hoje em sua 45ª fase e, segundo ele, alvo constante de investidas políticas e jurídicas para bloquear os avanços, descredibilizar os processos e, com isso, levar à impunidade políticos e executivos de grandes empresas. “É preciso envolver a sociedade na defesa das dez medidas contra a corrupção”, ressaltou o procurador em referência à lei proposta por iniciativa popular.

Já Gabeira elogiou a nova geração que está em busca de nomes com propostas mais modernas e alinhadas no combate à corrupção. “Ela [a lei] não soluciona tudo, há muito a avançar. Mas cobramos o básico dos políticos: não roubem e prestem contas do que fazem a serviço da população brasileira”, concluiu. Com uma plateia participativa, os dois autores saíram sob aplausos do debate, o mais político da noite de sábado na Bienal.

De acordo com os organizadores, milhares de pessoas frequentaram neste fim de semana todos os espaços da Bienal do Livro, que ocupa até o próximo dia 10 uma área de 80 mil m² no Riocentro, na Barra, zona oeste da cidade. Todas as atividades, como as sessões de autógrafos, os encontros com autores, debates e recreações infantis estiveram repletas.

A expectativa é de que o evento realizado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) atraia até o encerramento cerca de 700 mil visitantes.

Edição: Lidia Neves

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