Carandiru: promotor acusa advogado de legitimar "limpeza social"

Publicado em 19/03/2014 - 13:46 Por Fernanda Cruz - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

A quarta etapa do julgamento do massacre do Carandiru recomeçou hoje (19), no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, com a réplica do promotor Márcio Friggi. Estão sendo julgados dez policiais que agiram no quinto pavimento (quarto andar) do Pavilhão 9. Durante a réplica, o promotor disse que o advogado de defesa, Celso Vendramini, usou um discurso que legitima a limpeza social, de que “bandido bom, é bandido morto”.

Após o intervalo de almoço, o julgamento retoma com a tréplica da defesa. A expectativa é que, logo após esta fase, ainda hoje, os sete jurados que formam o Conselho de Sentença se reúnam para decidir se condenam os réus.

Friggi rebateu a principal tese da defesa, de que os dez policiais acusados não teriam agido no quinto pavimento (quarto andar) do Pavilhão 9. O promotor citou o depoimento de um preso que ocupava o quinto pavimento e que reconheceu o capitão Wanderley Mascarenhas, por meio de uma touca usada exclusivamente pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).  Mascarenhas era responsável pela equipe de policiais do Gate.

O relato do comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos, que atuou no segundo pavimento, também sugere que os dez policiais acusados tenham agido no quinto pavimento, a mando do Coronel Ubiratan Guimarães.

Friggi citou trechos do livro Rota 66, do jornalista Caco Barcellos, que apontam o capitão Mascarenhas como um dos maiores matadores da Polícia Militar. De acordo com a obra, Mascarenhas é responsável por 34 mortes, inclusive de seis pessoas com doenças mentais na rebelião de um manicômio judiciário. O capitão especializou-se em repressão a rebeliões.

A promotoria também criticou o advogado de defesa por ter abandonado o julgamento, o que lhe rendeu uma multa de R$ 50 mil. “Abandonou o plenário porque não estava contente com o que acontecia. Isso é lamentável, nunca abandonei um plenário em 10 anos”, disse Friggi.

O promotor disse que o advogado de defesa usa um discurso a favor da matança,  e quer transformar o julgamento num espetáculo. Friggi trabalhava em um programa popular de televisão. “É inadmissível que [o julgamento] vire um programa de auditório, um circo. Isso não vai acontecer nesse plenário”, disse.

O Massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos durante invasão policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 da casa de detenção.

Edição: José Romildo

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