Entidades convocam seleção de 11 defensores de direitos humanos durante a Copa

Publicado em 10/06/2014 - 19:32 Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Em alusão à Copa do Mundo, organizações não governamentais lançaram hoje (10), na capital paulista, uma campanha para chamar a atenção para o trabalho de onze brasileiros que defendem direitos fundamentais e que, por isso, têm suas vidas em risco e são criminalizadas.

A iniciativa, batizada de "Linha de Frente: Defensores de Direitos Humanos", tem como objetivo “sensibilizar a opinião pública a respeito das sistemáticas violações de direitos no país do futebol”.

“É uma situação gravíssima a condição de vulnerabilidade, de ameaça e de violência em que muitos defensores se encontram ainda hoje”, disse a assessora jurídica da organização Terra de Direitos, Luciana Pivato.  Ela destaca que essa realidade está em conflito com a posição assumida pelo Estado brasileiro, que é signatário de diversos tratados e convenções internacionais de Direitos Humanos.

A seleção de defensores dos direitos humanos que encabeça a campanha é formada por pessoas que lutam por avanços nas áreas de meio ambiente, acesso à terra, diversidade sexual, na defesa de populações indígenas, entre outras questões sociais. A organização, composta também pela Justiça Global e pela Front Line Defenders, avalia que essas pessoas, em vez de serem reconhecidos por esse trabalho, são perseguidas por empresas e pelo próprio Estado.

O cacique Ládio Veron, da etnia Guarani-Kaiowá, faz parte do time da campanha e representa a luta pela demarcação do território indígena em Mato Grosso do Sul. “Há anos estamos lutando e há anos estamos perdendo as nossas lideranças. Hoje estamos batalhando para sobreviver e às vezes até fugindo por causa das ameaças”, relatou.

Ele destacou que, de 2003 a 2012, 287 líderes indígenas foram mortos no processo de retomada de terras. Umas dessas pessoas foi o pai do cacique, assassinado há 11 anos. “E quem matou está impune”, apontou.

Em Rio dos Macacos, no município baiano de Simões Filho, a quilombola Rosemeire dos Santos Silva também teme pela vida dela e da família. De acordo com o Ministério Público da Bahia, a comunidade existe há mais de 200 anos e, desde a década de 1970, enfrenta um conflito com a Marinha do Brasil. O local onde a comunidade está instalada foi escolhido para a construção da Vila Naval de Aratu. Desde então, a comunidade passou a ser alvo de ações violentas por parte dos oficiais com a intenção de expulsar as famílias do quilombo.

“O nosso território era de mais de 900 hectares de terra e hoje se resume a 301. Um local que tem mais de 500 pessoas”, explicou Rosemeire. Segundo ela, as atividades desenvolvidas no quilombo, como pesca e agricultura, estão prejudicadas em razão do conflito. A quilombola denunciou que, desde a infância, presencia agressões e hoje continua sendo agredida e ameaçada. “A gente escutava dos mais velhos que não podia denunciar, porque o nosso povo ia acabar. Hoje, estou dando a minha vida para defender o quilombo”.

Outra representante do time é Débora Silva, fundadora da organização Mães de Maio, que luta por justiça pelas mortes de mais de 600 jovens negros da periferia paulista em 2006. Segundo organizações de direitos humanos, os assassinatos foram uma reação de grupos de extermínio com a participação de agentes do Estado a ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

As dificuldades e lutas da comunidade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) foram trazidas à tona por Indianara Siqueira, do Rio de Janeiro, e Márcio Marins, do Paraná. A luta do povo Tupinambá pelo reconhecimento da identidade indígena e do território foi narrada pelo cacique Babau, da Bahia.

Além dos seis defensores de direitos humanos que estiveram em São Paulo hoje para o lançamento, completam o time o carioca Vitor Lira, que traz a experiência das recentes violações em nome dos megaeventos; Rosivaldo Correia, do Pará, em nome da resistência quilombola;  João do Cumbe, do Ceará, que denuncia a vulnerabilidade dos modos de vida tradicionais de pescadores e ribeirinhos;  e Laísa Santos Sampaio e Osvalinda Pereira, do Pará, vítima de conflitos agrários e as violações de direitos no campo no estado.

Estão previstas atividades da seleção de defensores de direitos humanos em outras três cidades-sede da Copa do Mundo: Curitiba, no dia 16, Fortaleza e Rio de Janeiro, ainda sem datas divulgadas.

Edição: Luana Lourenço

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