Vítimas torturadas na Casa Azul depõem sobre centro clandestino à CNV

Publicado em 16/09/2014 - 00:51 Por Maíra Heinen - Especial para a Agência Brasil - Marabá

Ontem (16), um dos maiores centros clandestinos de tortura e morte da ditadura militar foi reconhecido por algumas vítimas e também por um ex-soldado. A chamada Casa Azul, abrigava o extinto DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) e hoje é a sede do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em Marabá, no Pará. Os membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV)- Maria Rita Kehl, José Carlos Dias e Pedro Dallari, coordenador do grupo de trabalho Araguaia - acompanharam a visita.

Foram colhidos depoimentos emocionados de vítimas como Raimundo de Sousa Cruz, de 84 anos, conhecido como “Barbadinho”. Ele se emocionou ao entrar novamente nos cômodos da casa onde levou choques, apanhou e viu mais pessoas sendo torturadas em 1973. Segundo ele, os militares o prenderam por supostamente colaborar com guerrilheiros. “Choque eu peguei demais ali... empurrão, ponta pé....Perguntavam se eu conhecia alguém.”

Outro relato importante de reconhecimento foi o de Manuel Messias Guido Ribeiro. O ex-soldado foi recrutado aos 20 anos para servir com os militares na “guerra contra os comunistas” no Araguaia. Ao ser convocado, ele também foi torturado, o que era chamado pelos militares de treinamento.

Segundo Guido, a intenção era fazer com que o soldado se brutalizasse e não sentisse pena das vítimas. Ele enfatizou não ter participado de nenhuma sessão de tortura e que sentia muita pena dos prisioneiros.

Em uma das salas da casa, o ex-soldado emocionou-se. “Aqui havia presos a mais do que poderia caber em uma cela. Eram torturados com todo tipo de tortura que se possa imaginar. Tinha até uma música.... horrível... não consigo esquecer aquela desgraça”, disse, chorando.

Para Pedro Dallari, a Comissão Nacional da Verdade tem o papel de encorajar novos depoimentos de violações, o que dá maior convicção para o trabalho feito pela equipe.

O grupo continua em Marabá hoje (16), onde vai visitar, pela manhã, o Cemitério da Saudade, no bairro de Nova Marabá, e colher depoimentos de vítimas em audiência pública que será feita na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

Edição: Fábio Massalli

Últimas notícias