Negro corre mais risco de morte violenta que branco entre jovens no DF e Entorno

Publicado em 23/10/2014 - 19:10 Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília

Um jovem negro morador do Distrito Federal (DF) ou Entorno tem 4 vezes mais chances de morrer de causas violenta que outro da mesma faixa etária que não seja negro. Principalmente se morar na periferia da região metropolitana de Brasília, onde o risco dele se tornar vítima de um homicídio é cinco vezes mais que a de um jovem branco que viva na mesma região. A conclusão consta de um estudo feito pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

Divulgado hoje (23), o levantamento aponta que a violência - incluido acidentes de trânsito – é a principal causa de mortes entre a população de 15 a 29 anos. O estudo analisa as mortes de jovens dessa faixa etária registradas no Distrito Federal e em mais 12 cidades goianas do chamado Entorno do DF, entre os anos de 2000 e 2012. Período em que a Secretaria de Vigilância do Ministério da Saúde foi notificada a respeito de 19.543 óbitos. Dos quais, 14.772 vítimas eram jovens negros da mesma faixa etária.

Das quase 20 mil mortes notificadas ao longo de 12 anos, cerca de 14,6 mil foram provocadas por homicídios, acidentes de trânsito ou outras causas violentas – os chamados óbitos por causas externas, responsáveis por 71,8% das mortes de jovens de 15 a 29 anos registrados em 2000, e por 80,6% do resultado de 2012. Das vítimas, 12.367 eram negras e 2.270, não negras.

Embora tenha aumentado tanto entre os jovens negros, como entre os não negros, o percentual de mortes por causas externas cresceu de forma mais acentuada entre os primeiros, saltando de 77% dos 765 óbitos registrados em 2000 entre os negros de 15 a 29 anos, para 87,6% dos 1.203 mortes por causas externas registradas entre o grupo etário em 2012.

Em relação ao total de homicídios, o estudo só traz o número de notificações de 2012. Ano em que foram registrados 1.374 óbitos por causas externas entre os jovens da faixa pesquisada. Quase 71% desses óbitos foram registrados como homicídios e 19% como acidentes de trânsito.

Entre os anos 2010 e 2012, o risco de um jovem de 15 a 29 anos morrer no Distrito Federal ou em uma das 12 cidades analisadas na região do Entorno por qualquer causa externa era de 1,6 para cada grupo de mil indivíduos da mesma faixa de idade. Se consideradas apenas as áreas mais pobres, esse risco subia para 2,44 mortes para cada mil. As chances de um jovem negro morrer, no entanto, era 2,9 vezes mais que a de um não negro. A maior diferença entre negros e não negros foi observada em Santo Antônio do Descoberto, onde a chance de um negro morrer foi 4,2 vezes.

Ainda durante o triênio, enquanto a cada grupo de mil jovens negros da periferia, 1,3 morreu assassinado, entre os não negros essa relação foi 0,23 a cada mil. Ou seja, o risco de um jovem negro ser assassinado era 5,7 vezes que um não negro.

A partir dos resultados, os pesquisadores concluíram que, a exemplo do que há tempos dizem os especialistas no tema, é verdade que a violência, principalmente o alto índice de homicídios, apresenta um nítido componente de cor ou raça, evidenciado nas desigualdades entre negros e não negros.

“O estudo aponta que os jovens têm morrido mais por causas externas, violentas, sobretudo os homicídios. E que o jovem negro está mais exposto ao risco que o não negro, sendo a exposição nas cidades da periferia metropolitana ainda maior”, disse à Agência Brasil a demógrafa Lucilene Dias Cordeiro, do Núcleo de Estudos Populacionais da Codeplan. “É um quadro preocupante, que vem se agravando. Daí a importância e a necessidade de políticas públicas voltadas à inserção dos jovens e à promoção da educação, esporte, cultura e lazer”.

As doze cidades do Entorno do DF cujos dados também são analisados são Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás.

Com base em informações do Censo, os pesquisadores apontam que, de 2000 a 2012, a população total da área pesquisada passou de 2,80 milhões para 3,66 milhões. O grupo de indivíduos entre 15 e 29 anos aumentou de 1,37 milhão para estimados 1,035 milhão. No período, o percentual de jovens que se declararam negro cresceu de 55,1% para 61%. Ou seja, em 2012, de cada dez jovens moradores do Distrito Federal e Entorno, seis se declaravam negro.

Edição: Aécio Amado

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