Setenta anos da libertação de Auschwitz é tema de debate na Biblioteca Nacional

Publicado em 27/01/2015 - 23:08 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

 setenta anos de libertação de Auschwitz em lembrança Dia Internacional em Memória às vítimas do Holocausto (Tomaz Silva/Agência Brasil)

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) realiza mesa-redonda  em lembrança ao Dia Internacional em Memória às vítimas do HolocaustoTomaz Silva/Agência Brasil

Um debate hoje (27) no auditório da Biblioteca Nacional, no centro do Rio, lembrou os 70 anos da libertação de Auschwitz. A mesa-redonda buscou uma reflexão sobre a sombra provocada pela experiência do campo de extermínio e a condição de viver em uma situação que não propriamente a de liberdade, após a saída de lá.

Para o presidente da biblioteca, Renato Lessa, a instituição cultural não se dedica apenas à guarda e consulta de acervos, mas tem uma intervenção na agenda cultural do país e, principalmente, do Rio, por isso procura abrigar reflexões sobre diversos temas. “É um tema da mais alta relevância. A data é muito simbólica. Auschwitz um é ícone do holocausto e sempre é uma oportunidade para discutir os efeitos e as sombras que este evento que marcou o século 20 produziram sobre o futuro. Nós somos o futuro daquele passado.”

Na avaliação do psicanalista Eduardo Vidal, que participou do debate, é importante discutir de que forma uma pessoa que atravessou crises tão graves, como o holocausto, consegue produzir e fazer uma abordagem pela escrita do fenômeno, classificado por ele de devastador. “Não é uma questão de uma época. É uma questão do sujeito atemporal que retoma a discussão com atualidade, não apenas como um acontecimento histórico.”

No dia 27 de janeiro de 1945, soldados soviéticos libertaram os sobreviventes que ainda estavam no Campo de Extermínio de Auschwitz, que tinha sido abandonado pelas forças alemãs. O encontro entre os soldados e últimos internos vivos é narrado pelo escritor judeu italiano Primo Levi, no livro A Trégua. Eduardo Vidal destacou o trabalho de Primo Levi, que foi levado de um campo no norte da Itália para Auschwitz e saiu vivo.

“Primo Levi surgiu como escritor a partir de uma experiência em um campo de concentração, não era escritor antes. Ele diz que a experiência do campo, assim como foi devastadora e não gostaria de passar novamente por ela, também abriu uma possibilidade de articulação impensável antes da experiência. Então podemos pensar como o ser humano, apesar da selvageria que é capaz de fazer com outro, também tem condições de se refazer e, principalmente, a partir da escrita e do simbólico”, explicou.

A artista plástica Leila Danziger apresentou no debate a nova prática dos monumentos que surgem no mundo tentando lidar com a questão do holocausto, como o Monumento aos Judeus Assassinados da Europa, que fica no centro de Berlim. “É um monumento central. O debate para ele ser construído demorou dez anos. Uma série de projetos que foram enviados e recusados.”

Leila Danziger levou ainda para a discussão o trabalho de artistas contemporâneos que se apropriam dos testemunhos de sobreviventes em suas obras. “No campo da arte há um grande interesse pela questão do testemunho. Não só dos sobreviventes dos campos de concentração, mas essa presença de alguém nas minorias que conta sua história, que tenta falar da sua experiência e ganha alguma voz pela arte. A questão do testemunho é muito presente na arte contemporânea.”

O presidente disse que o debate A Trégua: Setenta Anos de Libertação de Auschwitz, ficará gravado e vai ser incluído no site da instituição. Além do debate, a biblioteca preparou uma mostra de livros, reproduções e imagens do seu acervo relacionados a Auschwitz e às consequências do Holocausto.

Edição: Fábio Massalli

Últimas notícias