Relatório mostra que mortes por ação policial em SP quase dobraram em 2014

Casos provocados pela polícia paulista cresceram 97% e pela carioca,

Publicado em 29/01/2015 - 09:27 Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Atualizado em 29/01/2015 - 18:49

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Segundo a organização Human Rights Watch, o Brasil ainda precisa fazer muito para resolver problemas crônicos  Wilson Dias/Agência Brasil

Embora os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro tenham adotado medidas para combater o uso indevido da força letal por parte da polícia, o número de pessoas mortas nessas circunstâncias aumentou “drasticamente” no ano passado. As mortes provocadas pela polícia paulista cresceram 97% e pela carioca, 40%.

Os dados constam do relatório mundial sobre direitos humanos da organização Human Rights Watch (HRW), divulgado hoje (29), e mostram, segundo a entidade, que o Brasil ainda precisa fazer muito para resolver problemas crônicos, como tortura, execuções extrajudiciais e condições desumanas em prisões.

O Relatório Mundial 2015 da HRW está na 25ª edição e analisa os avanços e retrocessos na proteção dos direitos humanos em mais de 90 países. No capítulo destinado ao Brasil, a organização destaca como tema preocupante a permanência da tortura em unidades prisionais. De acordo com o documento, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos recebeu 5.431 denúncias de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante em 2014. Mais de 80% dessas denúncias referiam-se a ocorrências em presídios, delegacias de polícia, delegacias que operam como unidades prisionais e unidades de medida socioeducativa.

Nesse âmbito, a HRW destaca como medida positiva a resolução do Conselho Nacional de Justiça que descreve medidas básicas que juízes devem tomar para orientar a investigação de possíveis casos de tortura. Outra ação considerada avanço é a designação de 11 peritos, pelo Comitê Nacional para a Prevenção e o Combate à Tortura, que conduzirão visitas periódicas e regulares a locais de privação de liberdade civis e militares. O sistema prisional brasileiro tem mais de meio milhão de pessoas, o que supera em 37% a capacidade das unidades, informa o relatório. “Muitas de suas instalações estão devastadas pela violência”, acrescenta o texto.

No cenário internacional, a organização avalia que o Brasil atuou de maneira positiva no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), apoiando resoluções sobre situações críticas de direitos humanos. Também foi assertiva a postura brasileira na Assembleia Geral da ONU, na liderança de esforços para garantir a privacidade na era digital. A HRW avalia, no entanto, que o país tem se omitido em apoiar esforços internacionais para pressionar governos envolvidos em flagrantes abusos, citando o princípio da não interferência.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo diz que, apesar do aumento no número absoluto de mortos em decorrência de intervenção policial, em termos percentuais a situação é praticamente a mesma de 2013. Os dados mostram que, em 2013, 13% dos criminosos envolvidos nos confrontos com a polícia morreram – os 87% restantes foram presos, fugiram ou ficaram somente feridos. Em 2014, o índice de mortos ficou na casa dos 17%, o que não representa um salto significativo.

Segundo a nota, é preciso lembrar que, do primeiro semestre de 2013 para o mesmo período de 2014, houve aumento de 51,9% nas ocorrências de confrontos. A hipótese mais provável para essa alta é o crescimento no número de roubos – fenômeno nacional que tem sido verificado em praticamente todos os estados brasileiros. Segundo levantamento da Polícia Militar, 65,9% dos confrontos entre criminosos e policiais aconteceram em ocorrências de roubo.

A Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro informou que houve aumento de 39,9% no número de homicídios decorrente de intervenção policial em 2014 na comparação com 2013. A secretaria ressalta que os números de 2014 estão 56% abaixo do patamar de 1.330 registros do ano de 2007. Segundo o órgão,  a diminuição coincide com a implantação das unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o que ajudou na redução das mortes em confronto nas comunidades atendidas.

Matéria alterada às 11h30 de 29/01/2015 para correção de informação. Diferentemente do que o texto informava, as mortes provocadas pela polícia paulista cresceram 97% e pela carioca, 40%. O título também foi alterado. A matéria foi novamente alterada, às 18h49, para inclusão do posicionamento da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro.

Edição: Graça Adjuto

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