Presidenta da CEV-Rio diz que diferencial da comissão foi a participação social

Publicado em 14/12/2015 - 20:46 Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) teve como um de seus diferenciais a participação ativa da sociedade civil e dos movimentos sociais, segundo a presidenta da CEV-Rio, Rosa Cardoso. Hoje (14), o relatório final da comissão foi apresentado para a sociedade civil e ativistas de direitos humanos que acompanharam o processo desde o início, em evento na Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ). O relatório final da CEV-Rio foi entregue ao governo do estado em cerimônia na última quinta-feira (10).

“A Comissão da Verdade do Rio foi exemplar, talvez a que trabalhou mais intimamente, mais continuamente com os movimentos da sociedade, de todos os tipos. Não houve nenhuma dificuldade de nós assimilarmos esses movimentos e trabalharmos também com eles diretamente, como esse movimento Ocupa Dops, com quem nós fizemos tantos atos”, disse Rosa, que também participou da Comissão Nacional da Verdade.

Rosa cita a participação dos grupos organizados em visitas a lugares de tortura e de extermínio, como o Hospital Central do Exército (HCE). Ela destaca também o trabalho acadêmico feito em parceria com a CEV-Rio e avanços na apuração de casos emblemáticos, como o assassinato do ex-deputado federal Rubens Paiva e da secretária da OAB Lyda Monteiro.

“Nós avançamos muito nas questões que nós chamamos de humanitárias, que tem a ver com mortes e desaparecimentos, e avançamos também na investigação de outros atores que, em geral, os relatórios de comissões da verdade não focalizam tanto. Por exemplo, populações faveladas, homossexualidade, a repressão à vida durante os governos militares que atrasaram muito um processo civilizatório que poderia estar muito adiantado no Brasil se não houvesse tanto preconceito naquele momento, tanta deseducação da população com relação a um conjunto de questões”.

Para a ex-presa política Ana Miranda, militante do Coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça e do Movimento Ocupa Dops, o relatório final da CEV-Rio é parte da luta por reparação que os movimentos de direitos humanos buscam, mas, para isso, é preciso haver uma mudança de cultura.

“Nós tentamos [participar mais] na Comissão Nacional da Verdade e tivemos pouca escuta. Aqui não, aqui houve fóruns, nós acompanhamos o tempo todo, monitoramos, colaboramos. Então esse relatório final é quase como se fizesse parte da nossa luta. É uma etapa muito importante, mas a luta pela verdade, memória e Justiça não termina aqui. Pelo contrário, se não fizerem disso a letra viva para as escolas, universidades,  não serve em si mesmo. Serve se for aplicada de alguma forma, se houver mudança de cultura por parte do estado, das polícias, das Forças Armadas”.

A equipe da CEV-Rio vai trabalhar por mais quatro meses para organizar o acervo produzido pela própria comissão, referenciar documento, transcrever depoimentos e disponibilizar todo o material no site. O relatório final está disponível na internet e, em janeiro, deve ser lançado em versão impressa.

Edição: Fábio Massalli

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