Chacina de Pau D'Arco, no Pará, não pode ficar impune, dizem ativistas

Publicado em 05/07/2017 - 23:05 Por Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - Ato na sede da OAB com familiares dos trabalhadores rurais vitimados durante uma ação policial na fazenda Santa Lúcia, em Pau D Arco, no Pará (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Ato na sede da OAB com familiares dos trabalhadores rurais vitimados durante uma ação policial na fazenda Santa Lúcia, em Pau D'Arco, no Pará Fernando Frazão/Agência Brasil

A morte de dez camponeses, dia 24 de maio deste ano, em uma operação policial em Pau D'Arco, no Pará, não pode cair no esquecimento nem ficar impune. O pedido foi feito por lideranças sociais que acompanham o caso e parentes das vítimas, durante ato público na noite desta quarta-feira (5), na sede regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio de Janeiro.

“A experiência histórica do Brasil é que de todos os homicídios de mortes no campo, nos últimos dez anos, só três pessoas foram julgadas e condenadas. O histórico de nossa realidade é sempre negar, não se investiga a participação do Estado nem do latifundiário. No máximo, se pune o pistoleiro”, disse o advogado da Liga dos Camponeses Pobres do Pará, Felipe Nicolau.

Nicolau disse que a questão agrária no estado é muito grave, com superposição de títulos de terras, muitos com indícios de serem falsificados, usados por fazendeiros para garantir a posse das áreas, o que gera insegurança e violência.

“A questão agrária se agudiza no Pará. Com toda a certeza, o que houve ali foi uma chacina. Muitas vítimas foram torturadas. A ação da polícia foi de matar. Falam na região em uma aliança de latifundiários para intimidar a ocupação de terras”, disse Nicolau. Policiais alegaram que foram recebidos a tiros pelos camponeses, mas a perícia não constatou tiros em nenhum dos militares nem nas viaturas.

Família quase destroçada

 Fernando Frazão/Agência Brasil)

Sterfa da Silva Gonçalves, esposa de um dos trabalhadores rurais vitimados durante a chacina de Pau D'Arco Fernando Frazão/Agência Brasil

Uma das dez vítimas mortas pela polícia foi Ronaldo Pereira de Souza, marido de Sterfa da Silva Gonçalves, que ficou viúva com um bebê que tinha 29 dias na época. Ela também luta para que o caso não caia no esquecimento.

“A gente pede por justiça. É o que eu quero e estamos lutando. A minha vida está bagunçada, pois o meu apoio era ele. Agora estou na misericórdia de Deus, mas a gente não vai desistir da área. Eu não vou desistir. Minha família foi quase destroçada, uma tragédia muito grande”, lamentou Sterfa, de 25 anos, que admite viver com medo, pois não confia na polícia para lhe garantir proteção.

Durante o ato, foi apresentado o documentário Terra e Sangue – Bastidores do Massacre de Pau D'Arco, dirigido por Patrick Granja, que esteve no local, colhendo imagens e depoimentos quatro dias após a chacina.

Edição: Fábio Massalli

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