Comissão da Alerj reúne denúncias de racismo religioso

Relatório conjunto será usado para denunciar situação à ONU

Publicado em 08/11/2019 - 17:05 Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) trabalha em um relatório sobre racismo religioso no estado e pretende usar o documento para denunciar a situação a entidades internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU). Na manhã de hoje (8), uma audiência pública realizada pela comissão na Casa de Mãe Beata Ile Ase Omijuaro colheu relatos de agressões, ameaças e ataques sofridos por terreiros de religiões de matriz africana.

A reunião contou com cerca de 100 pessoas, incluindo representantes de mais de dez terreiros. A presidente da comissão, a deputada estadual Renata Souza (PSOL), contou que os relatos incluem agressões físicas, invasões e atos de vandalismo na região metropolitana e no interior do estado.

"É importante [colher as denúncias], porque faz com que a gente diagnostique e identifique quais são os terreiros hoje, e os pais e mães de santo, que estão sendo ameaçados na sua liberdade religiosa", diz a presidente da comissão. 

A parlamentar conta que foi criado um grupo de trabalho que produzirá um relatório em parceria com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e o Ministério Público Federal. "Esse vai ser um esforço coletivo para fazer essa denúncia internacional".  

Também deve ser proposta na Alerj a criação de um mês verde, para levantar a discussão sobre o racismo religioso no estado. A escolha do mês de conscientização ainda será debatida com os praticantes das religiões de matriz africana, e a cor verde, segundo Renata, foi definida devido à ligação entre os orixás e a natureza.

"Esses dados são subnotificados. Nem o próprio estado tem dados concretos sobre o racismo religioso e o quanto esses terreiros sofrem", afirma.

O babalorixá Adailton Moreira Costa, de 56 anos, foi o anfitrião da audiência pública e conta que o terreiro fundado por sua mãe existe há 35 anos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Apesar de não ter sofrido agressões, ele conta que os ataques contra outros templos religiosos criam um clima de terror e afetam a todos os praticantes dessas religiões.

"Cada comunidade ou terreiro que sofre uma agressão desse porte atinge a todos nós, nos sentimos agredidos também. É rasgar nossa alma mais uma vez, é uma violência muito grande que cria um sentimento de medo constante".

O religioso afirma que os casos de intolerância vêm sendo denunciados desde a década de 1980, mas a resposta do Poder Público em diferentes gestões não foi suficiente. "Esse ovo da serpente agora está chocado", lamenta, defendendo a utilização do termo racismo religioso para se referir a esses crimes.

"Intolerância religiosa é uma forma muito suave de se falar sobre esse racismo", afirmou. "É uma coisificação de nossas tradições. Não fere somente a religiosidade em si, fere todo o povo negro, porque é um resquício do racismo e do sequestro dos povos africanos tirados de sua terra".

Edição: Lílian Beraldo

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