Itaboraí sofre com desemprego depois de adiamento de obras do Comperj

De acordo com a prefeitura, foram demitidos 17,1 mil trabalhadores e

Publicado em 04/10/2015 - 10:50 Por Nielmar de Oliveira - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Itaboraí (RJ) - Restaurante popular da cidade. O desemprego aumentou após a redução das obras do Comperj (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Itaboraí (RJ) - Restaurante popular da cidade. O desemprego aumentou após a redução das obras do Comperj Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nesta semana, o consórcio responsável pela construção das unidades de processamento de gás natural do Complexo Petroquímico da Petrobras (Comperj) informou a dispensa de cerca de 800 trabalhadores. Formado pelas empresas Queiroz Galvão, Iesa Óleo & Gás e Tecna Brasil, o grupo diz que as demissões ocorrem “diante dos insustentáveis impactos sobre o contrato, decorrentes da crise econômica atual e de seus efeitos no câmbio e no mercado financeiro”.  

Desde o início do ano, quando cresceram os rumores de que o projeto do Comperj seria adiado, o desemprego vem aumentando na cidade de Itaboraí. Dados repassados à Agência Brasil pela prefeitura, com base no Cadastro de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, indicam que foram demitidos 17,1 mil trabalhadores e 10,9 mil foram contratados de janeiro a junho, o que corresponde a déficit de 6 mil vagas.
 
O ajudante de obras Diego Luiz da Conceição, 28 anos, é um dos que perderam o emprego. O jovem deixou a terra natal, em Minas Gerais, e partiu para Itaboraí na busca de conquistar um trabalho no complexo. Trabalhou durante alguns meses em uma das obras, mas, segundo o ajudante, começaram os atrasos nos pagamentos e, em seguida, as demissões. 
 
“Fui mandado embora sem aviso prévio e não recebi nada. Estou há seis meses dormindo na rua e os poucos bicos que arrumo são ofertados pelas igrejas da cidade, que também nos fornecem alguma alimentação e roupas doadas pelos fiéis”, relatou à Agência Brasil

Itaboraí (RJ) - Paulo Matos Junior, 38 anos, natural de Campos, no norte fluminense, chegou há seis meses em Itaboraí em busca de melhorar o ganha-pão (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Itaboraí (RJ) - Paulo Matos Junior, 38 anos, natural de Campos, no norte fluminense, chegou há seis meses em Itaboraí em busca de melhorar o ganha-pão Tânia Rêgo/Agência Brasil

Sem dinheiro para voltar para seu estado e com vergonha de encarar os parentes. Diego diz que “o jeito é continuar na rua contando com a ajuda das instituições religiosas e a fé e esperança de que dias melhores virão e as obras finalmente reiniciem”. 

Paulo Matos Junior, 38 anos, natural de Campos, no norte fluminense, chegou há seis meses em Itaboraí em busca de melhorar o ganha-pão, deixando para trás as três filhas. Porém, chegou atrasado. “Estou lá cadastrado [no Sine]. Mas está ruim e a procura é grande. Fico por aí perambulando pela rua à procura de um bico ou outro. Sem dinheiro, como voltar?” 

O pedreiro Marco Aurélio Pacheco, 39 anos, também enfrenta o desemprego após a redução das obras do Comperj. Em Niterói, trabalhava como balconista em uma peixaria. “Estes não eram os planos. Vim na esperança de mandar um dinheirinho para ajudar a minha família, mas agora está ruim de continuar fazendo. Graças a Deus que eu não tenho vício e com isso vou levando: durmo aqui na rua mesmo, mas, infelizmente, o quadro é esse que o senhor está vendo aí”. 
 
O presidente da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL) de Itaboraí, Ricardo Caldas Pestana, estima que, em um primeiro momento, cerca de 25 mil pessoas migraram para a cidade em função do polo, mas “a maioria esmagadora já foi embora”. “Tudo o que foi projetado e está pronto hoje foi feito voltado para o polo e não para uma refinaria que vai gerar apenas 1,5 mil empregos diretos, o que é muito pouco diante da promessa inicial de cerca de 200 mil novos postos de trabalho”, disse.

Itaboraí (RJ) - O pedreiro Marco Aurélio Pacheco, 39 anos, também enfrenta o desemprego após a redução das obras do Comperj (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Itaboraí (RJ) - O pedreiro Marco Aurélio Pacheco, 39 anos, também enfrenta o desemprego após a redução das obras do Comperj Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com a parada das obras, a prefeitura informou, em nota, que tem buscado amenizar a queda no emprego por meio do Sistema Nacional de Emprego (Sine) e parcerias com empresários locais. “A abertura de diversas frentes de obras públicas também tem amenizado o efeito da crise”, informou a prefeitura. 

Atualmente, há 14 obras públicas em execução na cidade, como obras de drenagem, de pavimentação, construção de praças e quadras poliesportivas, além da revitalização da Avenida 22 de Maio (principal da cidade) e da construção de 3 mil unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.

De acordo com a prefeitura, as medidas têm surtido efeito. Em abril e maio, o município chegou a liderar o ranking de empregos no estado entre os 49 municípios com mais de 30 mil habitantes. No período, as admissões somaram 7.875 trabalhadores, enquanto o número de demissões chegou a 5.792 - com saldo positivo de 2.083 novos postos, “mas ainda insuficiente para reverter o déficit”.

"Temos trabalhado muito buscando alternativas para reverter o quadro de desemprego que se instalou em Itaboraí desde a paralisação das obras do Comperj", disse o prefeito Helil Cardozo.

Queda nas receitas

O adiamento das obras do Comperj afetou os cofres de Itaboraí. O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e de Integração com o Comperj, Luiz Fernando Guimarães, informou que a arrecadação tributária, que no auge das obras alcançou R$ 32 milhões, caiu para R$ 8 milhões a R$ 10 milhões. 

Itaboraí (RJ) - Presidente da Câmara dos Diretores Lojistas, Ricardo Caldas Pestana estima que cerca de 25 mil pessoas migraram para a cidade em função do polo, mas que a maioria já foi embora (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Itaboraí (RJ) - Presidente da Câmara dos Diretores Lojistas, Ricardo Caldas Pestana estima que cerca de 25 mil pessoas migraram para a cidade em função do polo, mas que a maioria já foi embora Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com a Operação Lava Jato - que investiga empresas envolvidas em fraudes e pagamento de propina em contratos da Petrobras, muitas deles responsáveis por obras no Comperj – e o adiamento do projeto, a economia local foi afetada.  “As empresas foram embora, a maior parte está envolvida na Lava Jato. Os canteiros estão abandonados no entorno do Comperj e as empreiteiras estão indo embora sem terminar a obra”, lamentou o secretário. 

“Foram quatro anos de expectativa, e de um ano e meio para cá tudo ruiu. Praticamente todas as empresas já cancelaram seus alvarás, e as últimas acabaram em setembro. São cerca de 34 consórcios, em geral com duas a três empresas cada”, acrescentou.  

Porto seco

Segundo Luiz Fernando Guimarães, a ideia agora é transformar a região em um polo de logística para escoamento de produtos, por meio do Arco Metropolitano, como forma de superar a crise. O arco é uma estrada construída no entorno da Região Metropolitana do Rio de Janeiro para desviar o intenso tráfego de veículos que atravessam a cidade do Rio de Janeiro e diminuir os congestionamentos.

“Desde que começaram a ficar mais fortes os buchichos sobre a suspensão do Comperj, ainda em 2013, demos início ao Projeto Além Comperj. Ele consiste em utilizar o Arco Metropolitano como meio de alternativa logística para o escoamento de produtos a partir de um porto seco em Itaguaí. A alternativa é transformar a região em um polo de logística de escoamento de produtos”, disse o secretário à Agência Brasil

Itaboraí (RJ) - O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e de Integração com o Comperj, Luíz Fernando Guimarães, informou que a arrecadação tributária caiu com o adiamento das obras (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Itaboraí (RJ) - O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e de Integração com o Comperj, Luiz Fernando Guimarães, informou que a arrecadação tributária caiu com o adiamento das obrasTânia Rêgo/Agência Brasil

De acordo com o secretário, o trecho do arco, de competência do estado, já está pronto. Falta a liberação dos recursos federais para as obras, que vão de Magé a Manilha, e previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). As obras de duplicação do trecho Magé-Manilha, que somam 25,5 quilômetros e cortam o Comperj, começaram em agosto de 2014 e com previsão de entrega para julho de 2017. Com a conclusão desse trecho, a rodovia do Arco Metropolitano ficará totalmente pronta.

Para o secretário, o Arco Metropolitano pode funcionar como uma retroárea, locais externos onde ocorrem atividades essenciais para o funcionamento dos portos. “Esse é o veio logístico mais importante do negócio: portos, logística, estaleiros. Ele foi idealizado em 1976 [o arco] e a posição geográfica nos permite que ele possa ligar a BR-101 Sul com a BR-101 Norte”, explicou.

“Nós não temos dúvida nenhuma de que se colocarmos um porto seco alfandegado nesta região, a iniciativa vai bombar economicamente e será a salvação da região”, destacou. 

Edição: Carolina Pimentel

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