Política de campeões nacionais é "quase um cacoete", diz presidente do BNDES

Publicado em 20/06/2017 - 15:10 Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - Paulo Rabello de Castro toma posse na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (Fernando Frazão/Agênci Brasil)

Paulo Rabello Fernando Frazão/Agência Brasil

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello, defendeu hoje (20) a criação de uma estrutura cada vez mais institucionalizada e organizada para a instituição, a fim de evitar a destinação de recursos para "alguns priorizados" e disse que a política de campeões nacionais é um "cacoete". Rabello recebeu economistas e representantes de associações e do governo para um debate em comemoração aos 65 anos do BNDES, na sede do banco, no Rio de Janeiro.

"O BNDES tornou inúmeras empresas campeãs nacionais desde os seus primórdios, tanto públicas quanto privadas. Essa história de campeões nacionais é quase um cacoete com o qual  tivemos que lidar recentemente, e que não corresponde necessariamente à verdade histórica do banco", disse Rabello, referindo-se à política adotada nos anos 2000, que ficou conhecida como "política de campeões nacionais", em que créditos foram destinados a grandes empresas brasileiras para torná-las gigantes globais.

O banco homenageou três economistas com a entrega de medalha “Mérito Desenvolvedor”: os ex-ministros Reis Velloso e Delfim Netto, e o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa.

Ao abrir o debate, Paulo Rabello afirmou que os recursos do banco deveriam ser cada vez mais capilarizados para milhares de empreendedores anônimos, destacando que a instituição foi criada em um Brasil que era voltado principalmente para a agricultura. Segundo ele, a atuação do banco ajudou a desenvolver no país a indústria, o setor energético e as obras de infraestrutura. "Uma indústria forte e diversificada que esse banco conseguiu fazer acontecer junto com empreendedorismo dos brasileiros", disse.

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes destacou que a sociedade demanda transparência do banco, que na sua visão tem papel importante na retomada econômica e na geração de empregos para os 14 milhões de desempregados. "Precisamos de um Estado mais facilitador e menos complicador. Facilitador no sentido de gerar emprego e renda", disse o ministro. Ele destacou a área de auditoria interna do BNDES como um setor que precisa ser "fortalecido".

O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, afirmou que a retomada econômica passa por investimentos em infraestrutura, estímulo à exportação e disponibilidade de crédito produtivo. Caffarelli disse que é preciso conceder crédito, principalmente a empresas que gerem empregos. Ele afirmou que um aumento de investimento em infraestrutura pode elevar o Produto Interno Bruto, já em 2019.

"Não vejo outro caminho a não ser o somatório do crédito produtivo, da infraestrutura e das exportações", disse, prevendo uma retomada mais lenta que a das crises anteriores. "A crise, da qual estamos saindo, é completamente diferente das anteriores. Antes, eram quatro, cinco trimestres. Essa já passou de 20 trimestres [de queda]. A retomada não se dá com a mesma velocidade."

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaff, o BNDES precisa, no longo prazo, atentar para a revolução industrial representada pela inteligência artificial, estimulando a inovação, e, no curto prazo, aumentar a oferta de crédito. "Tem que haver uma reação forte do BNDES. O Brasil precisa que o banco faça, nos próximos seis meses, o que faria em seis anos".

Edição: Maria Claudia

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