Empreendedoras negras: 79% não têm reservas para enfrentar isolamento

Para 48%, principal necessidade é ter recursos para manter negócio

Publicado em 17/04/2020 - 06:00 Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Entre as empreendedoras negras, 79,4% não dispõem de reservas financeiras para manter seu negócio diante do atual cenário econômico gerado pela pandemia de covid-19, enquanto 48% dizem que a principal necessidade é garantir recursos para manter o negócio ativo. Os dados são da pesquisa Mulheres negras - saúde financeira e expectativas diante da covid-19, divulgada ontem pelas entidades Instituto Identidades do Brasil, Comunidade Empodera, EmpregueAfro e Faculdade Zumbi dos Palmares.

No cenário de isolamento social ocasionado pela pandemia, 44% das empreendedoras  conseguem manter o negócio por apenas um mês com o dinheiro que têm em caixa; 10,3% conseguem se manter por dois meses; 5,1% por três meses e apenas 4% conseguem sobreviver entre quatro e seis meses. 33,7% não souberam informar.

O levantamento apontou que 56% das empreendedoras afirmam ter despesa mensal média entre 1 mil e 5 mil reais, orçamento superior à ajuda oferecida pelo governo federal, de R$600. A coleta dos dados foi realizada entre os dias 31 de março e 2 de abril, 20 dias depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o estágio de pandemia da doença, o que ocorreu em 11 de março.

A relevância de analisar a situação das empreendedoras se dá porque elas são maioria entre o total de entrevistadas para a pesquisa: 72% delas são empreendedoras e 28% profissionais em empresas nacionais ou internacionais.

Profissionais de empresas

No entanto, os efeitos econômicos da pandemia também atingem as profissionais das empresas, já que 44% tiveram algum impacto na sua realidade orçamentária, como descontos em benefícios, desconto pelos dias de trabalho suspenso, até demissões. Uma em cada dez profissionais perdeu o emprego durante o período da pandemia.

“Eu mesma estava empregada até dia 23 de março. Por estar pouco tempo na empresa e estar em um grupo de risco, fui demitida, assim como eu, tantos outros também foram. O amanhã não sei como será e tudo isso é muito angustiante”, disse uma das entrevistadas para a pesquisa, que teve a identidade preservada.

As entidades responsáveis pelo levantamento destacam o caráter emergencial do tema, já que, de acordo com o IBGE, as mulheres negras representam um público equivalente a 60 milhões de pessoas, ou seja, 28% da população brasileira.

A preocupação com essas mulheres tem como base também o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2018, que aponta que a vulnerabilidade das mulheres negras ao desemprego é 50% maior do que a de mulheres não negras, conforme lembrou Raphael Vicente, coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, uma das instituições que integra uma coalizão formada para dar suporte a essas mulheres.

“Por isso, justamente o mapeamento e o esforço para gerar ações concretas que apoiem as mulheres na redução dos possíveis impactos para suas carreiras e para seus negócios, justamente pensando em termos de sustentabilidade econômica da sociedade brasileira como um todo. Porque essas mulheres são, muitas vezes, arrimos de família, são chefes de família, que, não só suas famílias, mas toda a roda econômica que gira em torno delas, se elas ruírem, vão junto”, disse Vicente.

Apoio às mulheres negras

A partir dos resultados da pesquisa, instituições negras formaram uma coalizão para ajudar empreendedoras e profissionais negras no atual cenário. Para isso, a coalizão está pleiteando recursos e parcerias, além da prestação de informações e compartilhamento de conhecimento que possam contribuir para a redução dos impactos e para impulsionar o crescimento nos negócios e na carreira dessas mulheres.

“O trabalho essencialmente da coalizão é fazer essa ponte entre essa empreendedora que está lá na ponta precisando de recursos de toda natureza e insumos, e de outro lado as fontes produtoras desses insumos e desses recursos, sejam eles quais forem”, disse Vicente.

 

Edição: Aline Leal

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