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Educação

Escolas são fundamentais para incentivar leitura, diz escritora

Conceição Evaristo defende também valorização de experiências de vida
Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 20/02/2019 - 19:34
Brasília
Salvador - A escritora mineira Conceição Evaristo é uma das principais convidadas para a primeira edição da  Flipelô (Sayonara Moreno/Agência Brasil)
© Sayonara Moreno/Agência Brasil

Escolas e professores têm papel fundamental no incentivo à escrita e à leitura, afirmou a escritora mineira Conceição Evaristo, primeira homenageada na Olimpíada de Língua Portuguesa.

"A escola e os professores têm responsabilidade grande, principalmente quando se pensa em escola pública, em que a maioria dos estudantes vem de classes populares, em que grande parte dos alunos vai ter contato com o objeto livro ou ter possibilidade de leitura e escrita na escola. A escola tem que ser um lugar que propicia essa atividade, e não um lugar que iniba essa atividade", disse hoje (20) Conceição, ao participar da cerimônia de lançamento do sexto concurso.  

Conceição Evaristo, mediadora na mesa: Rotas e roteiros - produção audiovisual e literatura, no Festival Latinidades  (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
A escritora Conceição Evaristo é a primeira homenageada na Olimpíada de Língua Portuguesa - Arquivo/Agência Brasil

Voltada para professores e estudantes de escolas públicas de todo o país, a Olimpíada de Língua Portuguesa incentiva a produção literária. O tema deste ano é O lugar onde Vivo.

Para Conceição, valorizar as experiências de vida dos estudantes é o primeiro passo para incentivar a escrita. "A escrita é uma experiência sobre tudo que você aprendeu, tudo que escutou, tudo que leu, tudo que observou, tudo que vive. Ela não parte do nada", afirmou a escritora. "Se a escola valorizar esses lugares como lugares importantes na vida e experiência do aluno, ela vai despertar [neles] esse desejo de escrita", acrescentou. 

Segundo especialistas, a língua portuguesa é uma dos grandes gargalos da aprendizagem brasileira. De acordo com os últimos dados do Ministério da Educação, cerca de 70% dos estudantes que concluíram o ensino médio no país não aprenderam nem mesmo o considerado básico em português. Na prática, isso significa que muitos brasileiros deixam a escola provavelmente sem conseguir reconhecer o tema de uma crônica ou identificar a informação principal em uma reportagem.

Ler para escrever

A escritora considera a leitura essencial para reverter esse quadro. "Um dos elementos que podem bloquear [a escrita] é a falta de leitura", ressaltou Conceição. "O excesso de leitura – estou falando da possibilidade de leitura em grande quantidade – provoca o desejo de escrita."

Para ler, é preciso ter acesso aos livros. O Censo Escolar do ano passado mostrou que pouco mais da metade (51,2%) das escolas do país têm bibliotecas ou salas de leitura. Entre as escolas públicas, o percentual é 45,7% e, entre as particulares, 70,3%. Pela Lei 12.244/2010, todas as escolas do país devem ter biblioteca até 2020. A lei determina que as bibliotecas tenham, no mínimo, um livro para cada aluno matriculado.

O resultado desse cenário é averiguado na última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada em 2016, segundo a qual os brasileiros leem, em média, 4,96 livros por ano – apenas 2,43 por inteiro. Os demais são lidos em partes. Além disso, a pesquisa mostra que 44% não leram nenhum livro nos três meses anteriores à aplicação do questionário.  

Entre aqueles que leem mais, as mães ou responsáveis do sexo feminino são apontadas como incentivadoras desse hábito por 15% dos entrevistados. Os professores aparecem em segundo lugar, citados por 10% dos que participaram da pesquisa.

Inscrições abertas

A Olimpíada de Língua Portuguesa é um concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas de todo o país. Podem participar professores da rede pública e seus alunos do 5º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio. É uma iniciativa do Ministério da Educação e do Itaú Social, com coordenação técnica do  Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). As inscrições podem ser feitas até o dia 30 de abril, na internet.

Esta é a primeira edição que conta com uma homenageada. Militante do movimento negro, a escritora Conceição Evaristo nasceu em 1946, em uma favela de Belo Horizonte. É formada em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em literatura brasileira pela PUC-RJ e doutora em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Conceição Evaristo foi também homenageada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do ano passado. Publicou Ponciá Vivêncio, seu primeiro romance, em 2003. É autora ainda de Becos da Memória e Insubmissas Lágrimas de Mulheres.