Coluna - Coisas que aprendemos (ou confirmamos) durante o Mundial

Os destaques da Copa do Mundo de Basquete, que termina no domingo

Publicado em 13/09/2019 - 09:00 Por Igor Santos - Apresentador do programa Stadium da TV Brasil. A coluna do jornalista será publicada pela Agência Brasil semanalmente às sextas-feiras. - Rio de Janeiro

A 18ª edição do Mundial de Basquete - a primeira sob a alcunha de Copa do Mundo - termina no domingo. Ao longo de pouco mais de duas semanas, quem manteve olhos atentos percebeu algumas coisas que trouxeram uma melhor compreensão do cenário atual. Um spoiler: essa coluna não está prevendo o fim dos dias dos Estados Unidos como principal potência do mundo. O (previsível) fracasso norte-americano não se deu em um contexto, digamos, sustentável. A melhor leva de jogadores da NBA, seguida da segunda melhor leva e possivelmente de um pedacinho da terceira, todas recusaram o chamado. Nos Jogos de Tóquio, com o orgulho, em tese, ferido e em uma competição habitualmente mais prestigiada do que a Copa do Mundo, os EUA talvez exibam o que têm de mais valioso e o resultado seja bem diferente do que vimos na China. De qualquer forma, é impossível derrotar quem não entrou em quadra. França, Sérvia e Austrália (na fase de preparação) fizeram o que deviam. Sendo assim, vamos a algumas observações sobre a competição.

1) Parte fundamental do sucesso de Argentina, França, Espanha e Austrália, os times que chegaram mais longe, foi justamente a vontade de estar lá na China. Com exceção dos argentinos, todos os outros possuem jogadores atuando na NBA com papeis destacados. Mas nesse caso eles compareceram. E historicamente comparecem. Na Austrália, cinco deles (Patty Mills, Andrew Bogut, Joe Ingles, Aron Baynes e Matthew Dellavedova) têm pelo menos dez anos de serviços prestados à seleção, abrindo mão de férias mais longas para defender o país. O mesmo acontece com atletas importantes de Espanha e França que atuam na liga norte-americana. O pivô espanhol Marc Gasol, por exemplo, chegou a 12 participações em eventos FIBA desde 2006. Já a Argentina, a menos "calejada" entre as finalistas, não julgou a grife da competição na hora de entrar em quadra. Com o mesmíssimo elenco que surpreendeu na China, a seleção sul-americana conquistou, menos de um mês antes, a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima, um evento historicamente menosprezado no basquete. O comprometimento das melhores equipes da Copa do Mundo aparece na familiaridade dos jogadores entre si e também com as regras do basquete internacional. E quando talento, tática e técnica se equilibraram, prevaleceu a maior vontade.

2) Também foi um torneio de bons destaques veteranos. Nenhum deles maior que Luís Scola. Aos 39 anos, ele foi a referência ofensiva da Argentina. O principal cestinha da equipe. Isso quando se esperava que ele não tivesse condições físicas nem interesse em cumprir esse papel. Afinal, já marcou o próprio nome como parte da geração dourada do basquete argentino e cumpriu carreira de destaque também na NBA. Talvez nem o próprio Scola imaginasse isso, já que antes da Copa do Mundo anunciou que provavelmente essa seria a última competição dele pela seleção. Tudo saiu melhor do que o previsto, a vaga para Tóquio 2020 está garantida e agora já tem até campanha para ele esticar um pouco mais a carreira. Outro que surgiu rejuvenescido foi Anderson Varejão, às vésperas de completar 37 anos. No jogo mais inteligente e estratégico e menos físico da FIBA, ele surpreendeu como uma boa opção ofensiva no Brasil, tendo as melhores atuações justamente contra os adversários mais duros, Grécia e Estados Unidos. Sem clube desde que deixou o Flamengo, ele pode ter garantido mais um bom contrato ou a chance de escrever mais um capítulo como um veterano útil na NBA.

3) As intenções podem ser as melhores, mas a verdade é que a FIBA dificulta bastante o entendimento das competições com alguns regulamentos. Um exemplo que pode ser considerado positivo é a distribuição das quatro vagas que ainda restam para os Jogos de Tóquio. Elas serão disputadas em quatro torneios em separado, sem divisão por continente. Se prejudica a diversidade - e também o lado político de abrir o leque para mais países participarem da festa -, melhora o nível técnico da competição. Por outro lado, os critérios para classificação das equipes para os torneios pré-olímpicos seguem precisando de muitas palavras para serem explicados. Da mesma forma, o formato da própria Copa do Mundo, principalmente a segunda fase de grupos, mais complicou do que empolgou. Teve a Grécia poupando Giannis Antetokounmpo do final do jogo contra os EUA pensando no duelo seguinte, diante da República Tcheca. Na partida contra os tchecos, por causa da diferença no saldo de cestas entre as duas equipes, a Grécia, que ganhava a partida, tentava acelerar o jogo para aumentar a pontuação, enquanto os tchecos, mesmo perdendo, seguravam a bola. É normal ver isso num mata-mata do futebol, com ida e volta, mas no basquete a dinâmica é diferente. Seria mais simples - e provavelmente mais emocionante - simplesmente criar mais uma fase eliminatória, com os 16 classificados da primeira fase já se enfrentando em partida única jogando diretamente pela sobrevivência na competição.

Edição: Verônica Dalcanal

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