Coluna - Gigaleak: o controverso vazamento da Nintendo

Material rico para historiadores de games seria fruto de ataque hacker

Publicado em 06/08/2020 - 10:33 Por Guilherme Neto - Apresentador do quadro Fliperama no programa Stadium. A coluna é publicada pela Agência Brasil às quintas-feiras - Rio de Janeiro

Nas últimas semanas, um grande volume de informações e curiosidades sobre jogos antigos da Nintendo vazou na internet. Entre os dados mais preciosos do Gigaleak, como foi apelidado pelos fãs da empresa, estão o código fonte e assets (modelos 3D, ícones, sprites, arquivos sonoros, entre outros) de vários jogos da companhia, muitos deles memoráveis. Não se sabe exatamente como ou quando esse material foi adquirido. Suspeita-se que o vazamento esteja relacionado ao ataque hacker de servidores ligados à iQue, uma joint-venture cofundada pela casa do Mario em 2002 que atua no mercado chinês. O que definitivamente sabemos é que se trata de material confidencial subtraído de forma ilegal.

Embora não revele nenhuma novidade impressionante, ou algum segredo surpreendente guardado a sete chaves, o Gigaleak traz a confirmação visual de muitos detalhes até então apenas mencionados em entrevistas e matérias antigas. Não é difícil imaginar o que aconteceria se algumas ideias descartadas durante o processo de desenvolvimento dos jogos fossem utilizadas na versão final dos jogos.

Uma das descobertas mais mencionadas nesses dias é a presença de Luigi em Super Mario 64. Durante muito tempo, especulou-se a presença do famoso irmão do Mario no game,  no qual nem sequer é mencionado. O próprio Shigeru Miyamoto, criador dos personagens, já havia confirmado em entrevistas antigas que tentou implementar um modo cooperativo para dois jogadores: um jogador controlaria o Mario e outro o Luigi. A ideia, infelizmente, não foi levada adiante. Nos quase 25 anos desde o lançamento, muitos fãs dissecaram os arquivos do jogo em busca de resquícios do personagem. Mas só neste vazamento ele foi encontrado: um modelo 3D sem cores do que seria ou, melhor dizendo, poderia ser o Luigi na versão final. Os fãs logo trataram de colorir o personagem e, por meio de mods - modificações não oficiais feitas por fãs - incluí-lo na versão final do jogo.

Claro que não é a primeira vez que uma mod coloca Luigi em Super Mario 64. Aliás, o próprio remake oficial Super Mario 64 DS para o Nintendo DS tornou o herói do macacão verde jogável, assim como Wario e Yoshi. É a primeira vez, porém, que vemos como o Luigi havia sido inicialmente concebido pela Nintendo na época.

Outras descobertas notórias no Gigaleak incluem um protótipo bem diferente de Yoshi's Island (SNES) estrelado não por Yoshi e bebê Mario, mas sim por um narigudo com chapéu e óculos de aviador. Tem ainda uma pista não utilizada em Mario Kart 64, designs beta de Yoshi em Super Mario World e de pokémons em Diamond & Pearl. Tem até um RPG sobre hóquei nunca lançado. Todo esse material possui uma relevância histórica importante, aos nos possibilitar entender o contexto e como funcionou o processo de desenvolvimento de jogos em uma companhia tão cheia de segredos como a Nintendo.

Apesar disso, muitos historiadores têm se dividido sobre a melhor forma de lidar com todo esse conteúdo. Afinal, o Gigaleak é formado por material provavelmente roubado que, inclusive, conta com informações pessoais que não deveriam vir a público, como conversas privadas entre desenvolvedores. O arquivista MrTalida (como ele se identifica nas redes sociais), aficcionado por jogos eletrônicos, disse em entrevista ao portal americano The Verge que o material preenche muitas das fantasias mais ousadas dos entusiastas da história dos games. Já o designer de jogos Mike Mika acredita que o vazamento possa fazer com que a Nintendo reforce ainda mais as medidas de proteção de suas propriedades intelectuais, tornando mais difícil o acesso a dados históricos como esses.

A cada dia, porém, novas informações são discutidas pelos fãs nas redes sociais e na imprensa. O Gigaleak começou a vazar em maio, mas de forma confusa. Mesmo sem exigir nenhum conhecimento muito profundo, um leigo como eu se perderia em meio a tantas pastas desorganizadas e códigos de programação ultrapassados. Ainda bem que há quem se disponha a mexer nesse palheiro e "traduzir" o material por meio de prints, vídeos, fotos e mods, e ROMs (formato adotado por jogos antigos).  Assim, viram assunto nas redes sociais, matérias na imprensa e, claro, memes.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

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