UTI de maternidade recebe nome de mulher morta por falhas no atendimento

Publicado em 03/04/2014 - 19:37 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Maternidade Mariana Bulhões do Hospital Geral de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, vai se chamar, a partir de hoje (3), Alyne Pimentel - parturiente que morreu em 2002 por falhas no atendimento médico-hospitalar. A mãe de Alyne, dona Maria de Lourdes da Silva Pimentel foi quem inaugurou a placa colocada no local. Para ela, o ato chama a atenção para o sofrimento que a filha passou, e traz a esperança de que não se repita com outras mulheres.

“A homenagem foi tudo para mim, porque o nome dela está na UTI neonatal, e esse nome vai ajudar as mulheres grávidas para que elas não percam a vida. Ela [Aline] perdeu, mais vai dar a vida para outras pessoas. As autoridades foram acordadas pelo problema que aconteceu com a minha filha e que, daqui para a frente, não fique só no papel. Que elas tomem uma atitude cabível”, disse em entrevista à Agência Brasil.

A inauguração da placa deixou Maria de Lourdes emocionada. “Foi uma emoção como se a minha filha tivesse vivido de novo, como se fosse no nascimento dela, que eu senti muita emoção. Essa homenagem foi como se ela tivesse nascido de novo”, contou.

Alyne Pimentel morreu em 2002, vítima da falta de atendimento médico na rede pública e conveniada de saúde do Rio de Janeiro. Ela era casada e, com 28 anos, estava grávida do segundo filho. Sentindo náuseas, procurou a Casa de Saúde N. S. da Glória, de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, contratada como prestadora de serviços de atenção ao parto pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de apresentar sinais de gravidez de alto risco, dois dias depois, Alyne recebeu alta. Debilitada e com vômitos, voltou à Casa de Saúde e uma ultrassonografia mostrou que o feto estava morto. Alyne passou por indução de parto e 14 horas depois por uma cirurgia de curetagem para retirada de restos de placenta. Após ter hemorragia extrema e queda de pressão sanguínea foi removida para o Hospital Geral de Nova Iguaçu, para receber transfusão de sangue. Sem a ficha médica, ela foi transportada de ambulância e na unidade não havia leito disponível. Alyne entrou em coma e morreu. Todo o sofrimento dela durou cinco dias.

A inauguração da placa representou também o cumprimento de um dos compromissos do Brasil com o Comitê para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra Mulheres, das Nações Unidas, e o reconhecimento do direito à maternidade segura.

Além de garantir o direito das mulheres à maternidade segura e ao acesso à assistência médica emergencial adequada, o comitê da ONU recomendou que o Estado brasileiro faça a formação profissional adequada para os trabalhadores da área de saúde, em especial, em relação aos direitos reprodutivos das mulheres, e que as sanções adequadas sejam impostas a profissionais do setor que violarem os direitos de saúde reprodutiva das mulheres.

 

Edição: Stênio Ribeiro

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