Engenheiro alerta para sinais que indicam problemas em obras

Publicado em 21/07/2014 - 19:54 Por Sabrina Craide - Repórter da Agência Brasil - Brasília

Rachaduras, trincas em vigas ou estalos são sinais de que uma obra pode ter problemas e até desabar. Prestar atenção nesses detalhes é fundamental para prevenir acidentes como o que deixou uma família soterrada no último sábado (19), em Aracaju, resultando na morte de um bebê de 11 meses. Segundo o professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, o prédio deve ter rachado ou trincado antes de cair.

“Nenhum prédio, por problemas de fundações e estruturas, desaba sem avisos. Muitas vezes são avisos que só um especialista em patologia [problemas em edificações] pode perceber. A fiscalização, por não ser especializada, pode não ter percebido o problema”, diz o professor, que também é patologista de edificações. Segundo a Empresa Municipal de Obras e Urbanização de Aracaju (Emurb), o imóvel estava em fase final de acabamento e tinha a licença para a obra.

Os técnicos da prefeitura só entrariam novamente na obra na hora de dar o habite-se para a construção, documento que permite o início da utilização do edifício. “Quando o responsável viesse solicitar o habite-se, nós iriamos ao local fazer a vistoria da obra para ver se ela se atendeu ao projeto e ao alvará”, disse a presidente da Emurb, Maria do Socorro Cacho, à Agência Brasil. Segundo ela, a empresa pública não é responsável por acompanhar a execução do projeto.

Se a obra está com a documentação em dia, três são as causas principais de desabamentos, segundo Berberian: projeto ruim, má execução ou material de baixa qualidade. “Em geral, se tem uma falha só e as outras duas questões estão boas, o prédio pode até cair, mas o desabamento não é brusco nem catastrófico, e sempre dá sinais antes”, avalia. Em áreas praianas, como Aracaju, a areia costuma ser ruim, com conchas marinhas e excesso de sal, lembra o especialista.

O professor explica que, antes de começar uma construção, os responsáveis devem procurar o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) da região para ter o aval para o projeto. O órgão, no entanto, não avalia a qualidade da planta, só exige que haja um engenheiro responsável pela elaboração do projeto e pela fiscalização da obra. As prefeituras fiscalizam se a obra está sendo feita conforme previsto no projeto. “Também não é responsabilidade do fiscal dizer se o projeto está bom. No máximo, se ele é uma pessoa treinada em patologia, pode dizer se existe alguma coisa estranha, como trincas. Nesse caso, deve chamar a Defesa Civil ou os bombeiros”, diz.

O Crea de Sergipe divulgou nota dizendo que já iniciou o processo para buscar todas as informações sobre a obra. A entidade esclarece que é responsável por regulamentar e fiscalizar o exercício profissional, e não faz vistorias nem emite laudos ou autorizações de funcionamento. Em visitas a obras, o fiscal solicita a apresentação da Anotação de Responsabilidade Técnica, um documento que define os responsáveis técnicos pelo empreendimento.

O prédio estava sendo construído com quatro andares, localizado no Coroa do Meio, próximo à Orla de Atalaia, um ponto turístico da cidade. A causa do desabamento será investigada e o laudo deverá ficar pronto em até 30 dias. Em visita ao local, o prefeito de Aracaju, João Alves, que é engenheiro, disse que o desmoronamento aparentemente foi causado por algum erro na parte estrutural do prédio, que apenas seria constado por vistorias que devem ser feitas periodicamente pelos responsáveis pela obra.

As três vítimas resgatadas do desabamento do prédio continuam internadas no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse).
 

Edição: Juliana Andrade

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