logo Agência Brasil
Geral

Para Pelé, Aranha precipitou-se ao denunciar racismo em jogo no RS

Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 10/09/2014 - 23:56
Rio de Janeiro

Para o ídolo e ex-jogador de futebol Pelé, o goleiro do Santos, Aranha, precipitou-se quando  manifestou-se publicamente no episódio de racismo em um jogo do Grêmio no Rio Grande do Sul. O Rei do Futebol diz que se fizesse o mesmo que Aranha em toda a partida que disputou e lhe fizeram ofensas racistas, não teria terminado nenhum jogo.

"O Aranha precipitou-se um pouco querendo brigar com a torcida. Se eu fosse parar o jogo ou gritar desde quando comecei a jogar, na América Latina, aqui no Brasil e no interior, toda vez que me chamassem de crioulo ou de macaco, aí todo jogo teria que parar. O torcedor, dentro da sua animosidade, ele está gritando ali. A gente tem que coibir o racismo, mas acho que não é tudo que vai coibir", disse.

Pelé acrescentou que "quanto mais atenção se der para isso, mais vai aguçar esta coisa. Tem que coibir o racismo, mesma coisa que pegar alguém de raça amarela, é racismo também, o pobre, como pessoa discriminada, é racismo também. Então tem que tomar muito cuidado com as ações das pessoas". Pelé destacou que é preciso verificar as reações do público, porque podem ocorrer casos de torcedores que agem de forma negativa com a camisa ou nas instalações de um clube justamente para prejudicar uma agremiação adversária.

Pelé esteve hoje (10) na inauguração de um campo de futebol no Morro da Mineira, no Catumbi, zona central do Rio de Janeiro, que faz parte de um projeto de uma parceria da prefeitura do Rio de Janeiro, por meio do Programa Rio + Social, com o Instituto Pereira Passos e a empresa de energia Shell.

Na inauguração das novas instalações do projeto, Pelé assinou camisas e até chuteiras e cumprimentou  moradores.  No meio do campo, o Rei do Futebol entregou para o presidente da Associação de Moradores do Morro da Mineira, Pedro Paulo Ferreira, uma bola autografada e assistiu a uma apresentação de quatro integrantes de um grupo de passinho (estilo de dança que mistura ritmos como funk, break, samba, frevo e forró). Ao cumprimentar os dançarinos, surpreso com as habilidades deles, perguntou: " Vocês são de borracha?".

Pelé também comentou um pouco sobre a seleção de futebol do Brasil. Ele disse que o atacante Neymar já é uma referência em campo, por isso não precisaria ocupar a função de capitão da seleção brasileira. "Se o Neymar já é uma referência, acho que o capitão podia ser outro. É talvez uma maneira de pensar. Acho que podíamos ter dois homens dentro de campo com duas referências para o árbitro respeitar", disse. "Para se fazer uma seleção não pode ter apenas o número 10. Tem que fazer uma equipe e Neymar sozinho não vai ganhar a Copa do Mundo".

O Rei do Futebol também falou sobre o técnico Dunga, que considera uma pessoa confiável e séria. Pelé disse acreditar na reestruturação do time brasileiro, mas é preciso investir na formação de jogadores e não deixar a tarefa para empresários. "Não é difícil remontar a seleção brasileira se a gente realmente fizer um trabalho mais sério. Um dos problemas que tivemos nos últimos anos, a seleção brasileira, embora tivesse os melhores jogadores do mundo, a formação sempre dependia de empresários. Esse é um cuidado que temos que ter daqui para frente. Para o empresário não interessa muito se o time vai vencer ou não, o empresário quer é botar os seus jogadores [na seleção]", disse.