Manifestação no Rio pede apuração do desaparecimento de estudantes mexicanos

Publicado em 22/10/2014 - 22:13 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Manifestação em frente ao Consulado do México no Rio. Estudantes se reuniram para protestar e exigir do governo mexicano que investigue os responsáveis pelo desaparecimento de 43 estudantes

Um grupo de estudantes mexicanos, que moram no Brasil, entregaram duas cartas, uma endereçada à consulesa do México e outra ao presidente mexicano Tomaz Silva/Agência Brasil

A consulesa do México no Rio de Janeiro, Maria Cristina de la Garza Sandoval, considera inaceitável o desaparecimento de 43 estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, no estado de Guerrero, no Sul do México. No dia 26 de setembro, durante uma manifestação, na cidade de Iguala, estudantes da escola foram atacados pela polícia. Além dos desaparecidos, seis alunos morreram e 25 ficaram feridos.

A consulesa recebeu hoje (22) de um grupo de estudantes mexicanos, que moram no Brasil, duas cartas, uma endereçada a consulesa e outra ao presidente mexicano, Enrique Peña Nieto.  “De maneira muito sincera quero garantir que as mensagens vão chegar às autoridades correspondentes no México e também quero dizer que, de minha parte, compartilho com a dor. Para nós, isto foi um ato bárbaro e inaceitável e também estamos reiterando o compromisso de ir ao fundo deste assunto, compromisso que assumiu o presidente Peña Nieto”, disse a consulesa.

Na carta lida pela estudante de pós-graduação em antropologia na Universidade de Campinas (Unicamp), Berenice Morales, 412 mexicanos e pessoas solidárias à apuração do crime, que assinaram a mensagem, exigem a apresentação com vida dos estudantes desaparecidos e a punição para os responsáveis materiais e intelectuais do ato.

O documento critica ainda a atuação do governo nas investigações. Indica que os desaparecidos são apontados pelo governo como pessoas não localizadas e o Estado não se esforça para cumprir com as obrigações internacionais no que se trata de desaparecimento forçado. A carta aponta também que o presidente tem se negado a receber as mães da Cidade Juárez que, há dias, encontram-se em greve de fome.

“Desafortunadamente, a impunidade é o que tem permitido que, na atualidade, mais de 20 mil pessoas se encontrem desaparecidas no México e outras tantas foram assassinadas sem maiores investigações. O Estado mexicano está violando os tratados internacionais que se comprometeu a respeitar e, neste sentido, resulta em um paradoxo que ante este contexto o México aspire a participar de missões de paz, como recentemente anunciou Enrique Peña Nieto. Como pode participar de missões de paz quando dentro do país atenta-se contra ela, violam-se os direitos humanos e garante-se a impunidade?”, aponta o documento.

Berenice Morales disse que antes do caso dos estudantes de Ayotzinapa ocorreram vários episódios de crimes violentos com mortes de mulheres e estudantes e a população não reagia, mas agora a tragédia chamou a atenção. “Acho que foi, como se diz no México, a gota que derramou do vaso. A gente está farta, cansada de tanta violência, tanta morte e tanta injustiça. Em vários estados e em vários países estudantes estão manifestando esta inconformidade, este cansaço da impunidade e também o medo de sermos estudantes e pensar que isto pode acontecer com nós. Se eles estão mortos, se eles estão vivos, queremos saber o que aconteceu com eles”, completou.

Antes da entrega das cartas à representante diplomática, na sala do consulado, um grupo com integrantes de movimentos sociais, do Sindicato dos Profissionais em Educação do Rio de Janeiro e da Anistia Internacional concentraram-se na porta do prédio. O assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional e cientista político, Maurício Santoro, disse que o organismo tem uma campanha global contra a tortura e o México é um dos países-chave com cerca de 7 mil denúncias. Para ele, o ato contra os estudantes é uma das violações de direitos mais graves vistas na América Latina desde a redemocratização da região nos anos 80. “A escala do que é o desaparecimento desses rapazes é algo ainda pior e além do que a gente estava esperando em termos do que vínhamos acompanhando no México”, destacou.

Edição: Fábio Massalli

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