Beltrame diz que sociedade precisa discutir causas da violência em favelas

Publicado em 30/06/2015 - 17:48 Por Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Ao retomar hoje (30) o policiamento do Complexo da Maré, na zona norte da cidade, que por um ano e três meses foi feito pelas Forças Armadas, o secretário de estado de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que a nação precisa “alargar os horizontes” e discutir as causas da violência urbana.

“Tenho dito que este problema não é único e exclusivo da polícia. A polícia é ponta do iceberg, a seta da flecha”, afirmou Beltrame. Para ele, a violência urbana precisa ser enfrentada como um problema nacional. "As causas nunca são discutidas, e a polícia trabalha com a consequência.”

O secretário destacou que, inicialmente, será feito um cerco à comunidade, com a instalação de 16 bases e operações pontuais, com apoio da inteligência. “Visamos à maior redução de possível de danos à comunidade e ao diálogo constante com os moradores, que cobram políticas públicas”. Ele pretende instalar quatro unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na área.

Cerca de 3 mil militares das Forças Armadas atuaram na Maré, uma comunidade de cerca de 140 mil pessoas a pedido do governo do Rio, para conter o poder do tráfico de drogas no local. Agora eles serão substituídos por 1,8 mil policiais militares. “É um plano inicial – se vai aumentar ou diminuir dependerá dos resultados”, disse o secretário.

Durante a cerimônia, o coronel Carlos Alberto Barcellos, da Força de Pacificação, disse que o sentimento que fica é do dever cumprido. “O momento é de refletir e agradecer a todas instituições que participaram conosco do esforço de trazer um pouco mais de segurança e estabilidade”, ressaltou Barcellos, apesar das críticas de moradores e organizações de defesa de direitos humanos à ocupação militar. 

O coronel lembrou que a desarticulação de organizações criminosas, que há anos disputam território e o mercado de compradores de drogas, é complexa. “Não bastam ações na área de segurança pública. É preciso que outras agências do governo estejam presentes e desenvolvam ação de apoio e de cidadania”, ressaltou. “Sem dúvida, nesse sentido, demos nossa contribuição.”

Beltrame defendeu a atuação em conjunto com governo do Rio. “Todas as secretarias precisam ter projetos para a comunidade”, disse ele, citando a prefeitura, que pretende instalar dez escolas de tempo integral. “É uma solução”.

Para os moradores, que em maio tiveram um encontro com o governador Luiz Fernando Pezão, há tempos, a solução militar não era a mais eficiente. “Não queremos UPPs só com armamento, pois estamos vendo que isso não está dando certo. Queremos educação, saneamento, atividades esportivas, cultura”, afirmou, à época, o presidente da Associação dos Moradores da Vila do João, Marco Antônio Barcelo Gomes. Eles denunciaram uma série de abusos ocorridos durante a ocupação.

A presidenta da Associação Conjunto Bento Ribeiro Dantas, na Maré, Cremilda Carvalho, disse, também em maio deste ano, que faltou respeito do Exército com moradores. “Os tanques estão quebrando nossas calçadas, inocentes estão levando tiros. Agora está pior do que antes. Queremos projetos sociais para os adolescentes e jovens que estamos perdendo para o crime."

O complexo de favelas da Maré é considerado estratégico pela proximidade com as principais vias expressas da capital: a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, que dão acesso ao Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão - Antonio Carlos Jobim (RIOgaleão) e à Baía de Guanabara. A polícia registra conflitos entre três das maiores facções criminosas do tráfico e de milícias, todos armados.

Edição: Maria Claudia

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