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Boxeador em busca de medalha no Pan teve ajuda de ONG que apoia liderança jovem

Roberto Custódio nasceu no Complexo da Maré e, com a Luta pela Paz,
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 20/07/2015 - 20:28
Rio de Janeiro
Roberto Custódio
© Divulgação/FBERJ - Federação de Boxe do Estado do Rio de Janeiro
Roberto Custódio, atleta formado pela ONG Luta pela Paz, disputa medalha no boxe categoria 69 kg, nos Jogos Pan-Americanos de Toronto

Roberto Custódio, atleta formado pela ONG Luta pela Paz, disputa medalha no boxe categoria 69 kg, nos Jogos Pan-Americanos de TorontoDivulgação/ONG Luta pela Paz

O esporte, para vários atletas, é o caminho para a superação, com grandes possibilidades de alcançar a glória o que, no caso de uma modalidade olímpica, significa chegar ao pódio. Classificado para disputar uma medalha amanhã (21) em Toronto, nos Jogos Pan-Americanos, na categoria 69 Kg, o boxeador Roberto Custódio é um dos que abraçaram o esporte como forma de escrever sua história.

Campeão do Pan-Americano de Boxe de 2013, no Chile, Custódio nasceu no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, perdeu o pai ainda criança e foi introduzido no esporte pela organização não governamental (ONG) Luta pela Paz (LPP). “Ele está na seleção brasileira [de boxe] há cinco anos e, para nós, é um orgulho”, disse à Agência Brasil a coordenadora da ONG, Juliana Tibau.

Ao completar 15 anos de atividades sociais, a ONG está se transformando em uma entidade global, com filial em Londres. A iniciativa começou em 2000 como um projeto do Movimento Viva Rio e ganhou independência em 2007, quando assumiu o nome que tem hoje, dado pelo antropólogo social inglês Luke Dowdney. O trabalho da ONG, no entanto, não se restringe ao estímulo à prática do esporte.

“A gente investiu muito na nossa metodologia holística [que amplia a relação e a maneira de ver o mundo, ressaltando os potenciais humanos inatos]”, disse Juliana. Em 2000, foram 15 jovens do Complexo da Maré atendidos. Atualmente, a ONG tem sua metodologia de apoio a jovens de comunidades afetadas pela criminalidade e violência. A entidade está presente em 25 países, totalizando 135 instituições parceiras treinadas e em torno de 250 mil jovens atendidos por meio de seu programa Rede Global.

A filial londrina oferece as mesmas atividades da LPP da Maré, que são baseadas em cinco pilares: esporte (boxe e artes marciais), que é, em geral, a porta de entrada dos jovens; educação; empregabilidade; suporte social e liderança juvenil. “Isso só foi possível porque a gente tem uma filosofia de ter como funcionários jovens da própria Maré. O Conselho Jovem é eleito anualmente e tem representantes de todos os setores do projeto. […] A gente tem uma coordenação muito compartilhada com os principais atores, que são as crianças e jovens do projeto.”

Os pilares são entrelaçados. Quem faz esporte é obrigado a participar de desenvolvimento social, que é uma aula de cidadania.”A gente acredita que, por meio da teoria da mudança, esse jovem vai ter uma visão de futuro diferente da que ele [tinha quando] entrou no projeto”.

Segundo Juliana, o pilar educação não disputa espaço com a escola tradicional, mas resgata o jovem que está fora da escola, incentivando que ele retorne à sala de aula. “É um ensino diferenciado”. Os jovens têm acompanhamento de mentores psicológicos e advogados. Nos quatro feirões organizados por ano pela ONG, empresas convidadas oferecem vagas de trabalho aos moradores do complexo. A LPP incentiva também redes de discussão entre os jovens e a interação com a cidade, formando lideranças juvenis.

Carlos Eduardo Gomes Viana entrou na ONG em janeiro de 2011. “Eu estava há dez anos fora da escola”. Graças à LPP, ele fez o ensino fundamental e concluiu o ensino médio. “Agora, já estou no terceiro período da Faculdade de Pedagogia do Centro Universitário Augusto Motta [Unisuam]”. Carlinhos, como é conhecido na comunidade, é funcionário da ONG desde 2013. “Imagina o que isso foi para mim. Eu estava fora da escola, sem perspectiva de vida, voltei a estudar e agora estou trabalhando em uma instituição que me ajudou e me mostrou que vale a pena estudar. Hoje, praticamente o que eu sou e o que tenho, eu devo à ONG.”

Hoje, Carlinhos é exemplo para muitas crianças do Complexo da Maré. Seu filho, de 11 anos, faz judô na ONG e a sobrinha faz aulas de muay thai (boxe tailandês). “Tem uma galera da rua onde eu moro que faz esporte aqui porque sabe que eu estou no Luta Pela Paz”, conta, com orgulho.