Reduzir maioridade penal será retrocesso, diz Unicef

A afirmação foi feita pelo representante do Fundo das Nações Unidas

Publicado em 13/07/2015 - 15:09 Por Ivan Richard – Repórter da Agência Brasil - Brasília

Representante do Unicef no Brasil, Gary Stahl, fala durante lançamento de relatório com os principais avanços e desafios relacionados à infância e adolescência nos 25 anos de vigência do ECA (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Aumentar tempo de internação de jovens infratores pode  ser  alternativa, diz o representante do Unicef no  Brasil,  Gary  Stahl Antonio  Cruz/ Agência Brasil

O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Gary Stahl, disse hoje (13) – dia em que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos – que a redução da maioridade penal, em discussão no Congresso, significará “um retrocesso” para o Brasil.

“Vejo essa possibilidade [de redução da maioridade penal] como um retrocesso sério para as crianças e adolescente do Brasil e para a liderança brasileira mundialmente”, afirmou. O representante do Unicef participou hoje, em Brasília, da divulgação do relatório #ECA25anos, que faz uma análise de vários indicadores sociais brasileiros desde a implementação do estatuto, em 1990.

Sobre a possibilidade de mudança do estatuto para aumentar o tempo de internação de jovens infratores, proposta pelo senador José Serra (PSDB-SP) e que conta com apoio do governo, Stahl avaliou que pode ser uma alternativa, desde que observado o atendimento socioeducativo.

“Isso depende muito da forma como for feita [a internação]. Há países onde fazem [isso] muito bem porque, para recuperar um adolescente de 16 anos, por exemplo, que nunca recebeu educação, não tem família e é morador de rua, talvez precise de mais de três anos [de internação], mas com garantias de educação, apoio psicológico, nutrição e atenção médica”, observou.

De acordo com o relatório do Unicef, o modelo de responsabilização de adolescentes, previsto na Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) não está sendo implementado de forma efetiva. Com isso, a organização internacional avalia que a redução da maioridade “não só não resolverá a questão da violência como poderá agravá-la”.

Os dados divulgados revelam que, dos adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas em 2011, 86% não haviam completado o ensino fundamental, 75% eram usuários de droga, 72% tinham entre 16 e 18 anos e 57% não frequentavam a escola antes da internação. Conforme o relatório #ECA25anos, dos 21 milhões de adolescentes em medidas socioeducativas, 0,01% havia cometido atos contra a vida.

Coordenador do programa de cidadania da Unicef, Mario Volpi, durante lançamento de relatório com os principais avanços e desafios relacionados à infância e adolescência nos 25 anos do ECA (Antonio Cruz/Agência Brasil)

O coordenador  do Programa de Cidadania  do Unicef, Mario  Volpi, diz que é preciso desmistificar a ideia de que  os  jovens são responsáveis  pela crescente onda de  violência  no  país    Antonio  Cruz/Agência  Brasil

Dos 25.192 atos infracionais praticados por crianças e adolescentes em 2013, 40% foram roubos; 24%, tráfico de drogas; 9%, homicídios; 6%, ameaça de morte; 3%, tentativa de homicídio; e 3%, furto. Além disso, 2% dos casos foram de porte de arma de fogo; 2%, de latrocínio; 2%, de tentativa de roubo; e 1%, de estupro.

Para o coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Unicef, Mário Volpi, um dos responsáveis pelo relatório, é preciso “desmistificar” a ideia de que o jovem é o responsável pela crescente onda de violência no Brasil.

Ele ressaltou ser importante que a imprensa, as organizações internacionais e as organizações não governamentais (ONGs) que trabalham com o tema mostrem resultados positivos de medidas de reabilitação, como, por exemplo, a existência de adolescentes que, mesmo com restrição de liberdade, são autores de livros dentro de unidades de internação.

“É preciso ampliar o conjunto de informações para conhecer melhor esse fenômeno. A desmistificação vai, por um lado, criando e oferecendo informações mais densas e consistentes para a sociedade e, por outro, contando histórias de vida que mudaram a partir de ações previstas no estatuto”, disse Volpi.

 

 

Veja a evolução das discussões sobre os direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil:

Edição: Denise Griesinger

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