Congresso no Rio discute deficiências no acesso à medicina nuclear no Brasil

Publicado em 23/10/2015 - 08:09 Por Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A subutilização da medicina nuclear no Brasil, a fragilidade na produção e distribuição de radiofármacos e o acesso deficitário a procedimentos diagnósticos e terapêuticos preocupam especialistas na área e serão temas do 29º Congresso Brasileiro de Medicina Nuclear que começa hoje (23) no Centro de Convenções do Hotel Royal Tulip, em São Conrado, zona sul do Rio. O encontro é promovido pela Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Claudio Tinoco Mesquita, o número de serviços de medicina nuclear no Brasil e de especialistas na área está bem abaixo do necessário para as demandas dos pacientes. “Hoje, temos 430 serviços em todos os estados, mas precisaríamos do dobro. Nossa vizinha Argentina tem três vezes mais serviços e os Estados Unidos, cinco vezes mais. Temos cerca de 700 médicos nucleares e precisaríamos de um número três vezes maior”, comentou, ao defender um plano de expansão em conjunto com os governos e a iniciativa privada que amplie o número de serviços, residências médicas nessa especialidade e treinamento para radioteraupeutas, físicos e enfermeiros”.

O Brasil comercializa 37 radiofármacos. Na Europa, esse número passa de 70 medicamentos nucleares, segundo o médico. Outro problema é a concentração do serviço - mais da metade dos centros de medicina nuclear estão na Região Sudeste.

Segundo Mesquita, esses obstáculos e a dependência do Brasil por radiofármacos importados, que variam de acordo com a cotação do dólar, acabam prejudicando serviços como o acesso a exames importantes, como o PET-CT, tomografia que detecta com precisão a existência e progressão de alguns tipos de câncer.

“O PET-CT tem uma grave limitação hoje, muitos estados não têm os equipamentos. Há pacientes que precisam viajar mais de mil quilômetros para fazer esse exame. Além disso, o SUS [Sistema Único de Saúde] cobre a realização do exame apenas para alguns tipos de câncer, quando sabemos que esse número pode ser muito maior”. O SUS cobre o exame nos casos de câncer de pulmão, colorretal, linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin, doenças que, somadas, tiveram cerca de 69,8 mil novos registros em 2014. Na iniciativa privada, o exame pode ser feito para oito tipos de câncer e nos Estados Unidos para mais de 15 tipos.

Para o chefe de Medicina Nuclear do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Machado Neto, convidado do evento, é preciso cautela ao incluir mais procedimentos no SUS do PET-CT, para que haja custo-benefício aos cofres públicos. “O SUS tem uma demanda diferenciada para o tratamento oncológico e requer alguns aspectos para determinar o impacto real na vida do paciente. Acho que o caminho está sendo traçado para uma futura ampliação das indicações, mas não adianta ser benéfico se não der para disponibilizar a todos. Precisamos nos adequar à nossa realidade, ver como beneficiar toda a população e oferecer atendimento integral”, acrescentou.

Desde 2010, foram realizados pelo Inca mais de 5 mil exames de PET-CT. Atualmente, cerca de 150 pacientes são atendidos por mês e 15 pacientes por dia. Machado Neto admitiu que o número de atendimentos está abaixo do ideal. “O fornecimento do radiofármaco necessário para a realização do exame é feito uma vez ao dia e seriam necessárias duas vezes. A capacidade instalada seria de cerca de 20 exames por dia, mas estamos trabalhando para que nos próximos anos tenhamos duas remessas ou dois fornecedores, quando renovarmos os contratos”, comentou.

Para Luiz Machado Neto, os radiofármacos representam grande avanço para a medicina. “São remédios que limitam a dose ao tecido doente ou órgão doente, com quase nenhum dano ao tecido saudável”, comentou. O médico ressaltou que o reator multipropósito brasileiro dará autonomia, em alguns anos, na produção de radiofármacos.  “Enquanto isso, estamos ampliando o número de novos fármacos, que estão chegando aos poucos, de maneira relativamente rápida, que vão modificar um pouco o aspecto da medicina, com novas possibilidades terapêuticas e de diagnóstico”. A medicina nuclear utiliza pequenas quantidades de materiais radioativos para diagnóstico e tratamentos.

Estão sendo esperados no evento especialistas estrangeiros e brasileiros, além de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, da Comissão Nacional de Energia Nuclear e da Agência Internacional de Energia Atômica.

Edição: Graça Adjuto

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