Mau uso do WhatsApp não pode anular benefícios do aplicativo, dizem usuários

Publicado em 17/12/2015 - 15:15 Por Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil - Brasília

O bloqueio do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp, ainda que por um curto período de tempo, pode causar prejuízos que vão além do âmbito econômico. Segundo especialistas consultados pela Agência Brasil, eventuais maus usos do aplicativo em casos específicos não podem reduzir ou anular os benefícios que essa plataforma traz para a sociedade como um todo.

“Professores e alunos ficaram sem se comunicar por meio do WhatsApp; empresas deixaram de comprar e vender por meio dele. A proibição não foi a um determinado tipo de mensagem ou interlocutor, mas a todos os interlocutores, independentemente do uso que fazem da rede social”, disse o professor Gilberto Lacerda, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), especialista em redes sociais.

Por determinação da 1ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo (SP), o aplicativo estava bloqueado desde a 0h de hoje (17). A medida foi revertida, em caráter liminar, por volta do meio-dia, pelo desembargador Xavier de Souza, da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Apesar da pouca duração, o bloqueio recebeu críticas de especialistas.

“Vários estudos mostram a relevância do WhatsApp para a educação. Esse bloqueio representou uma quebra na comunicação entre professores e alunos, entre alunos e alunos e em grupos de estudos. Distribuidores se comunicam por meio do WhatsApp; governadores usam esse aplicativo para dar transparência às suas ações e para gerir o Estado. O próprio Judiciário, e digo isso por ter trabalhado neste poder, tem canais de comunicação, educação e de trabalho que fazem uso desse canal”, disse Lacerda.

Ajuda para estudantes

Prestando vestibular para cursos na área de Tecnologia da Informação, o estudante Eliel Alves, de 18 anos, passa pelo menos quatro horas diárias no celular. Boa parte desse tempo é dedicada a tirar dúvidas com professores ou colegas. “Eu uso isso [WhatsApp] para ampliar meus conhecimentos. Não há justificativa para me privarem disso”, disse o estudante.

Também estudante, Diane Melissa, de 17 anos, diz que o WhatsApp a ajuda a tomar conhecimento das tarefas escolares. “A gente costuma fotografar o quadro com a matéria para estudar melhor ou para enviar a imagem aos colegas que faltaram à aula”, conta a estudante. “Apesar desse bloqueio ter durado apenas algumas horas, confesso que me senti ilhada e com medo da próxima conta de telefone, já que o aplicativo me faz economizar uns R$ 100 por mês com ligações.”

A exemplo do professor da UnB e dos estudantes, a especialista em internet e marketing – e autora do livro Facebook Marketing – Camila Porto não identifica qualquer razão para que o Judiciário tenha bloqueado o aplicativo. “Não acredito que o WhatsApp fira qualquer direito, a ponto de ser banido, por maior que seja o crime. Vejo-o como uma tecnologia que reduz o custo das empresas e como uma ferramenta de atração, com impacto direto nos negócios e nas comunicações interna e externa dos empreendimentos”, disse Camila.

“Além de gastar mais dinheiro com serviços como o de telefonia [em função do bloqueio deste aplicativo], as empresas deixam de ganhar porque deixam de gerar vendas”, acrescentou. Segundo Camila, o Facebook gera quase US$ 10 bilhões em vendas só no Brasil. Nos Estados Unidos, país líder do ranking de vendas a partir do Facebook, o volume chega a US$ 70 bilhões. “Isso mostra que as redes sociais vão muito além do entretenimento. Dos cerca de 2 bilhões de usuários da internet no mundo, 900 milhões usam o WhatsApp para os mais diversos fins. É praticamente a metade dos internautas do planeta”, acrescentou.

O taxista Jerônimo Manoel, de 63  anos, foi prejudicado pelo bloqueio do WhatsApp. “Tenho um grupo que me informa onde tem corrida, e outro pelo qual os clientes me chamam. Atrapalhou bastante o meu trabalho, porque não uso nenhum outro aplicativo. O que restou foi esperar as ligações.”

Antenado com as tecnologias de comunicação, o servidor público Samuel Portela, de 26 anos, conseguiu se esquivar dos problemas com o WhatsApp usando outras mídias sociais. “Consegui me comunicar por meio do Facebook e do Telegram. Apesar de eles não darem acesso a toda a minha rede, não cheguei a ter problemas.”

Para o professor Lacerda, a experiência de ficar sem a plataforma por algumas horas pode representar, também, uma oportunidade para as pessoas fazerem reflexões sobre a dependência causada por essa tecnologia. “Não deixa de ser uma sacudida interessante, para nos olharmos como indivíduos e vermos a dependência que criamos. Essa dependência tecnológica representa vantagens e perigos que já vêm sendo objeto de estudo de muitas pesquisas. Portanto, o vácuo desse bloqueio pode nos levar a um momento de reflexão sobre isso.”

Edição: Nádia Franco

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