Parentes e amigos velam corpo de torcedor morto ontem em Fortaleza

Publicado em 14/03/2016 - 16:54 Por Edwirges Nogueira – Correspondente da Agência Brasil - Fortaleza

Com músicas e bandeiras do clube hasteadas, componentes da Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF) receberam, no começo da tarde de hoje (14), o corpo de Jullian de Sousa Cavalcante, de 20 anos, na sede da entidade, no bairro Benfica. O jovem torcedor foi morto neste domingo (13) com um tiro antes da partida entre Fortaleza e Ceará, na Arena Castelão.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Jullian foi atingido durante confronto entre torcedores do Fortaleza e do Ceará, na Avenida Osório de Paiva, no bairro Bom Jardim. A família diz que o disparo foi feito por um policial. “Eles [a polícia] foram para matar e não usaram balas de borracha. Eu vou querer justiça”, desabafou a mãe de Julian, Aurenice Rodrigues.

A morte do torcedor ocorreu em meio a uma sequência de fatos envolvendo torcidas organizadas no Ceará. Na última sexta-feira (11), a Justiça determinou a suspensão das atividades das torcidas organizadas do Fortaleza e do Ceará e a proibição da entrada nos estádios de torcedores com objetos que indiquem o nome dos grupos, como camisetas e bandeiras, além de instrumentos de percussão.

A decisão judicial foi tomada a pedido do Ministério Público do Ceará após tumulto entre integrantes da TUF e da Jovem Garra Tricolor na última quarta-feira (9), durante partida entre Fortaleza e Sport de Recife, no Castelão.

De acordo com o cientista social Raoni Oliveira, que faz parte da TUF, o local onde houve o conflito já é conhecido pela polícia como um dos pontos propícios para encontros entre as torcidas rivais.

Relatos de torcedores que estiveram na Avenida Osório de Paiva dão conta de que a confusão começou após uma bomba de efeito moral ser jogada contra torcedores do Fortaleza. Com a dispersão do grupo, houve o encontro com os torcedores do Ceará. Ambos os grupos, conforme os torcedores, eram acompanhados pela Polícia Militar.

Um torcedor que não quis se identificar, temendo represália da polícia, disse que, em vez do Batalhão de Choque, estavam presentes no local oficiais do Ronda do Quarteirão e do Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas (Raio). “Se as torcidas organizadas não tivessem sido suspensas, nada disse teria acontecido, pois teríamos convocado os torcedores para a sede, de onde sairíamos em ônibus todos juntos”, afirmou o torcedor.

Para Raoni, a morte de Julian se insere num contexto de violência policial praticada contra jovens pobres. “Ontem (13), a polícia que deveria estar no local era o Batalhão de Choque, que atua em distúrbios civis, com balas de borracha, com armas não letais. Julian foi assassinado com uma bala de arma ponto 40. A polícia não é despreparada, e não é à toa que os policiais que atuam na periferia de Fortaleza usam preto e os que estão nas áreas nobres vestem azul. Esse contexto vem, há muito tempo, flagelando quem tem menos condição de encontrar justiça.”

Devido à rivalidade entre as torcidas do Ceará e do Fortaleza, a Secretaria de Segurança montou um esquema específico para atuar no dia em que os clubes jogariam na Arena Castelão, na disputa que é conhecida como “clássico-rei”. Ao todo, 713 policiais foram destacados para fazer a segurança no entorno do estádio nas vias de acesso e nos terminais de integração de ônibus.

Em nota, a secretaria informa que não houve registro de intervenção policial no local do confronto, mas ressalta que consta do balanço das ocorrências durante a partida informação sobre dois policiais feridos durante o distúrbio. O caso está sendo investigado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Segundo a nota, a ocorrência foi registrada na Coordenadoria Integrada Operações de Segurança às 20h20min, após a entrada de Julian no Hospital Frotinha da Parangaba, uma vez que o torcedor foi socorrido por particulares. A secretaria diz que detalhes sobre a ocorrência deverão surgir a partir das investigações, que ficarão sob responsabilidade da DHPP. "Com relação ao termo iintervenção policial', é uma expressão utilizada quando uma pessoa é morta durante o confronto com a polícia", esclarece a nota.

Edição: Nádia Franco

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