Perícia aponta sucessão de falhas em obra de ponte que desabou em Fortaleza

Publicado em 12/04/2016 - 16:54 Por Edwirges Nogueira – Correspondente da Agência Brasil - Fortaleza

 

No início da noite de domingo, parte da estrutura de uma ponte que estava em construção no bairro Aerolândia cedeu. Dois trabalhadores morreram e três ficaram feridos

Fortaleza – No início da noite de domingo, parte da estrutura de uma ponte que estava em construção no bairro Aerolândia cedeu. Dois trabalhadores morreram e três ficaram feridosEdwirges Nogueira/Agência Brasil

Falhas de projeto e execução e baixa qualidade de materiais estão entre as causas do acidente na obra de uma ponte, em Fortaleza, no dia 22 de fevereiro, que deixou dois trabalhadores mortos. O laudo com o detalhamento dessas falhas foi apresentado hoje (12) à imprensa na sede da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), em Fortaleza.

Durante um mês e 20 dias, os peritos do órgão estudaram documentos enviados pelas empresas envolvidas na obra (a SH e a Ferreira Guedes), realizaram visitas ao local do acidente e analisaram peças do escoramento que cedeu. Essa estrutura suportava uma viga que estava sendo concretada quando ocorreu o desabamento.

O perito criminal adjunto Lauro Ferreira Rocha Júnior, um dos quatro engenheiros que elaboraram o laudo, explicou que itens do projeto não foram executados na obra, como estaiamentos, feitos com cabos de aço, nas torres que suportavam os escoramentos, além do desalinhamento da fixação em uma dessas torres, constatado em fotos feitas antes do acidente, que pode ter causado instabilidade.

Peças apresentadas pela Perícia Forense do Ceará responsáveis pelo rompimento da estrutura de escoramento da obra da ponte sobre o canal do Lagamar, no Bairro Aerolândia, em Fortaleza

Peças apresentadas pela Perícia Forense do Ceará responsáveis pelo rompimento da estrutura de escoramento da obra da ponte sobre o canal do Lagamar, no Bairro Aerolândia, em Fortaleza. O acidente foi no dia 22 de fevereiro e deixou dois trabalhadores mortosEdwirges Nogueira/Agência Brasil

De acordo com Lauro Ferreira, documentos das empresas apontavam alguns desses erros. “Existiam relatórios de acompanhamento da obra que, em certos pontos, detectaram algumas dessas falhas. No entanto, mesmo assim, houve a execução. Um acidente como esse nunca acontece por um só motivo. A gente sempre acha que tem como evitá-lo, porque as falhas detectadas poderiam ter sido corrigidas.”

A Pefoce também verificou divergência entre os projetos do escoramento. Havia dois documentos: um especificava a montagem em cruz e outro, em formato de X. Segundo o perito, esse último dá maior estabilidade à estrutura, mas optou-se pelo formato em cruz.

Outra evidência é a parte superior do poste de união do escoramento, que foi analisado no Laboratório de Pesquisa e Tecnologia em Soldagem da Universidade Federal do Ceará (UFC). O resultado do estudo revela a baixa qualidade do item, que se rompeu no desabamento da estrutura, mostrando que as soldas não foram capazes de manter as peças unidas.

O laudo da Pefoce complementa e confirma os resultados da comissão formada pela Prefeitura de Fortaleza para analisar as causas do desabamento, divulgados no dia 22 de março. O documento foi entregue ontem (11) ao delegado do 4º Distrito Policial, José Munguba Neto, responsável pelo caso, e passa a ser prova material no inquérito, que deve determinar os responsáveis pelo acidente. Segundo o delegado, as oitivas sobre o caso continuam sendo realizadas, assim como a análise dos relatórios do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Ceará (Crea-CE), da prefeitura de Fortaleza e, agora, da Pefoce. A previsão é de que até o fim do mês de abril o inquérito seja concluído e remetido ao Ministério Público.

Por meio do setor de marketing, a SH informou que está analisando o laudo e que ainda não vai se posicionar. Já o setor jurídico da Ferreira Guedes informou que não teve acesso ao documento e, por isso, não vai se manifestar.

Edição: Denise Griesinger

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