Mudanças na polícia de PE podem prejudicar investigações, dizem papiloscopistas

Publicado em 24/05/2017 - 18:22 Por Sumaia Villela - Correspondente da Agência Brasil - Recife

Uma mudança nas atribuições dos cargos da Polícia Científica de Pernambuco pode prejudicar as investigações de crimes no estado, em um momento em que o número de homicídios vem aumentando. A afirmação é do presidente da Associação dos Peritos Papiloscopistas de Pernambuco (Appape), Carlos Eduardo Maia. Papiloscopista é um dos cargos da Polícia Civil que tem entre suas funções a coleta e análise de impressões digitais e retratos falados.

A crítica é ao Decreto nº 44.469/ 2017, publicado ontem (24) no Diário Oficial do Estado de Pernambuco. O documento atualiza a descrição de atribuições dos nove cargos da Polícia Civil, da qual a Polícia Científica é subordinada. De acordo com Maia, a categoria não iria mais ao local de crime para fazer as coletas das amostras e foi retirada a responsabilidade de emitir a conclusão de análises, passando tudo aos peritos criminais. “A gente acaba virando um auxiliar. Produz todo o material, mas leva para o perito criminal e pergunta: é a pessoa?”, diz.

Maia diz que não há redução salarial ou prejuízo pessoal na mudança; a prejudicada, argumenta, seria a sociedade. “Hoje nós somos 294 peritos [papiloscopistas] para fazer toda a identificação humana do estado de Pernambuco. Eles detêm a perícia criminal. São aproximadamente 620. Se eles não comportam nem a perícia deles, e a gente também tem problemas, como eles vão comportar as duas coisas?”

Neste ano, até o fim de abril, 2.037 pessoas foram assassinadas em Pernambuco, pouco mais de 44% de aumento em relação ao mesmo período de 2016. Os números indicam regressão no combate a homicídios no patamar de uma década atrás.

Emissão de identidades

No entendimento da associação, até mesmo a emissão de carteiras de identidade seria prejudicado, já que, na leitura feita pela categoria das novas atribuições, o papiloscopista não pode mais conceder o documento. “A gente faz a produção e eles [os peritos criminais] vão precisar liberar a carteira”, diz.

Hoje (24) foram suspensas pelos papiloscopistas a confecção das carteiras de identidade nos Expresso Cidadão do estado. Apenas os RGs prontos estavam sendo entregues. A emissão de laudos papiloscópicos também parou, segundo Carlos Maia, embora negue que o movimento seja de paralisação.

“Estamos com nossas atividades suspensas por causa do decreto. E vamos entregar as funções gratificadas da área de emissão de identidade até sexta-feira (26). Já que a gente não pode liberar, não vamos mais atender”, diz. A direção da Appape foi até a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), hoje (24) para pedir a revogação do decreto.

Governo

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco respondeu por e-mail o objetivo do decreto é “restabelecer as atribuições originais dos peritos papiloscopistas e demais carreiras ligadas à Polícia Científica”, e que a medida “auxiliará no reforço das emissões de RG nas unidades do IITB [Instituto de Identificação Tavares Buril] e Expresso Cidadão, uma vez que se ampliará o efetivo nesses serviços”.

O governo diz que o decreto tem o objetivo de “melhorar as investigações e as perícias nos locais de crime” e “evitar a sobreposição de funções, disciplinando e harmonizando o papel de cada profissional na condução do processo de investigação criminal”. A nota termina avisando que movimentos grevistas serão tratados “com medidas administrativas e disciplinares pela Corregedoria”.

 

Edição: Fábio Massalli

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