Museu do Amanhã celebra raízes africanas da zona portuária do Rio

Publicado em 24/06/2017 - 18:11 Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

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Programação começou hoje, no Museu do Amanhã, com a lavagem pública e a apresentação do Afoxé Filhos de Gandhi    Akemi Nitahara/Agência Brasil

Às vésperas do anúncio pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) se o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, será ou não tombado como Patrimônio Mundial, começou hoje (24) uma programação para celebrar a raiz africana da região portuária. É o evento Vivências do Tempo – Matriz Africana.

Organizado pelo Museu do Amanhã, a meta é dar luz à candidatura e mostrar a importância da região na diáspora africana e preservação da memória e da cultura negra no país.

A gerente de Relações Comunitárias do museu, Laura Taves, explica que uma das diretrizes da instituição é trabalhar o território onde está inserida, ou seja, a Zona Portuária do Rio, que é cercada por três bairros e quatro morros, entre eles o Morro da Previdência, a primeira favela do país.

“A gente está numa área histórica importantíssima, numa região por onde entraram muitos africanos escravizados. Chegaram mais ou menos 10 milhões de negros escravizados vivos em todas as Américas e o Brasil recebeu 60% desse contingente. Desses 60%, 40% vieram para o Rio de Janeiro, então é um número muito significante, cerca de 2,4 milhões de pessoas. A estimativa é de que tenha sido 1 milhão só aqui nessa região”, disse Laura.

Ela lembra que o Cais do Valongo foi redescoberto com as escavações do Porto Maravilha e foi criado um grupo de trabalho para a candidatura a Patrimônio Mundial pela Unesco. O dossiê começou a ser montado em 2014 e o anúncio oficial do órgão internacional deve ser feito entre os dias 7 e 8 de julho.

“A gente partiu dessa ideia de trazer visibilidade para esse fato e para todas as reflexões que esse fato traz. A gente consegue chamar a atenção da cidade toda, isso é muito importante. Entender que lugar é esse, quem são essas pessoas, como o Brasil se tornou africano. Quem somos nós, na verdade”, afirmou.

Programação

A programação começou hoje (24) com a lavagem pública e a apresentação do Afoxé Filhos de Gandhi e o Banquete Ubuntu, que significa “Eu sou porque nós somos”, uma feira multicultural ao ar livre com a participação de refugiados, Sabores do Porto, oficina do Passinho Carioca e apresentações do Jongo da Serrinha.

O presidente do Afoxé Filhos de Gandhi, Carlos de Machado, explica que o grupo também integra o conselho que encaminhou o pedido à Unesco e que, agora, a expectativa para o reconhecimento mundial é muito grande.

Segundo ele, a memória do local precisa ser fortalecida para inverter o significado do termo Pequena África, usado para designar a região, de pejorativo para motivo de orgulho.

“O Cais do Valongo é um local por onde passou um número expressivo de escravos vindos da África e que transformou essa região na Pequena África, um título como desmérito pelos nossos ancestrais, como uma área de escravos, como sendo uma coisa ruim. Hoje, queremos transformar essa denominação que não é tão bonita em uma coisa bonita. Que a Pequena África seja realmente um local onde nós tenhamos cultura afro-brasileira, nós tenhamos reconhecimento pelo povo negro e onde, acima de qualquer coisa, a paz reine entre os povos e entre as pessoas” disse Carlos.

Com a tradicional lavagem, o Filhos de Gandhi afastou hoje as energias negativas para abrir as portas da região portuária do Rio para as boas novas que a comunidade espera, diz Machado, como a própria declaração de Patrimônio Mundial.

O que é a lavagem

“A lavagem popular, em vias públicas, foi introduzida pelo Gandhi aqui no Rio de Janeiro em 1966. Ela significa uma limpeza espiritual do local onde está sendo feita a lavagem. É utilizada uma água de cheiro, preparada com ervas, e a vassoura simboliza empurrar para longe as energias negativas daquele local. É uma limpeza espiritual das energias negativas para que as energias positivas possam fluir e tudo que vai ser feito naquele local possa acontecer de forma bastante positiva”, explicou.

Amanhã, a partir das 15h, será debatido no átrio do Museu do Amanhã o tema Corpo da Mulher, com a performance Bombril, da artista mineira Priscila Rezende, e dança com o Balé da Yabás.

Na terça-feira (27), haverá a terceira edição do Seminário Mauá 360, com o tema Cais do Valongo. Na quarta-feira é a vez do Seminário Escravidão e Ações de Liberdade, no Auditório do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Haverá, ainda, a exibição, no Museu do Amanhã, dos filmes Remoção, Contagem Regressiva, Menino 23 e DNA África, seguido de debates.

A programação segue até o próximo sábado (1º) e pode ser consultada no site www.museudoamanha.org.br. Todos os eventos são gratuitos, mas é necessário fazer a inscrição antecipada pela internet.

Edição: Kleber Sampaio

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