"História da carochinha", diz Cunha sobre depoimento de Funaro

Publicado em 06/11/2017 - 11:51 Por Felipe Pontes – Repórter da Agência Brasil - Brasília

Brasília - O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha chega na capital para depor no processo em que é acusado de cometer desvios no FI-FGTS (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Brasília - O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha chegou na manhã de hoje à capital para depor no processo em que é acusado de cometer desvios no FI-FGTS Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) voltou a negar hoje ter despesas como a compra de carros e de um apartamento em São Paulo pagas pelo seu ex-operador financeiro Lúcio Funaro, a quem chamou novamente de “mentiroso”. Cunha também negou ter recebido propina para suas campanhas políticas, segundo ele, por “não ser necessário”, uma vez que as doações legais que obtinha eram “mais do que suficientes”.

“[Funaro] nunca me pagou um carro com dinheiro dele, isso é história da carochinha”, afirmou Cunha. "A delação que ele faz agora está me transformando no Posto Ipiranga. Tudo é Eduardo Cunha."

Cunha é interrogado nesta segunda-feira pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, responsável pela Operação Sépsis, na qual são investigadas irregularidades na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa.

Na semana passada, o ex-deputado foi acusado por Funaro de encabeçar um esquema de pagamento de propina envolvendo o Grupo Bertin, em troca da liberação de um aporte milionário do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS), operado pela Caixa.

Na ocasião, o corretor de valores relatou ter participado de um almoço com a presença de Cunha e de Natlino Bertin, controlador do grupo, em um hotel de Brasília. O ex-deputado Cândido Vaccarezza, então no PT, também teria participado. No encontro, foram combinados repasses ilegais ao PT e ao PMDB, segundo Funaro, que assinou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

Na manhã de hoje, Cunha afirmou que “não duvida” do repasse de propina para campanhas do PMDB, que teria sido intermediado pelo ministro Moreira Franco, da Secretaria Especial da Presidência, que à época ocupava a vice-presidência de Fundos de Governo da Caixa. O ex-deputado, entretanto, negou seu envolvimento no esquema.

“Se Moreira Franco recebeu [propina], e em se tratando de Moreira Franco até não duvido, mas não foi por minhas mãos”, afirmou Cunha, que admitiu ter marcado uma audiência, a pedido de Funaro, entre Natalino Bertin e Moreira Franco, mas negou ter participado de qualquer encontro ou ter ciência de qualquer acerto irregular.

A Agência Brasil entrou em contato com a assessoria do ministro Moreira Franco, mas não obteve retorno até a publicação do texto.

Encontros com Temer

Cunha desqualificou as afirmações de Funaro de que o presidente Michel Temer teria recebido ao menos R$ 2 milhões em repasses ilegais do Grupo Bertin para a campanha presidencial de 2010, quando foi candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff. Para Cunha, ao citar Temer, o corretor de valores faz “uma tentativa de chamar atenção”.

O ex-deputado afirmou ter convicção de que, ao contrário do que Funaro relatou em sua delação premiada, o corretor de valores nunca sequer cumprimentou Temer. “Lúcio nunca chegou perto, tenho absoluta convicção disso”, afirmou Cunha.

“Estou colocando isso apenas para demonstrar o histórico das mentiras. Na minha frente nunca cumprimentou o Michel Temer, nem um bom dia”, repetiu o ex-deputado.

Para Cunha, o "Ministério Público engoliu. Essa é que é a verdade. Passou a delação pela pressa de querer fazer a segunda denúncia contra Michel [Temer]. Não tiveram o cuidado de examinar a realidade que Lúcio estava falando. Não tiveram tempo de investigar e comprovar".

O depoimento de Cunha na ação penal resultante da Operação Sépsis continua ao longo desta segunda-feira. Outros três réus já foram ouvidos na semana passada - além de Funaro, Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, e Alexandre Magotto, ex-funcionário do corretor de valores. O ex-ministro Henrique Eduardo Alves, também réu, será o último a ser interrogado.

Edição: Denise Griesinger

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