Banda das Quengas fecha ruas da Lapa com público hétero e LGBT, no Rio

Fundado há 28 anos, bloco promove tolerância e diversidade no carnaval

Publicado em 13/02/2018 - 17:59 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - Bloco Banda das Quengas comemora 28 carnavais na Lapa (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Bloco comemorou 28 carnavais na Lapa, no centro da cidadeFernando Frazão/Agência Brasil

A Banda das Quengas, formada por representantes e simpatizantes do grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) fechou grande parte das ruas da Lapa nesta terça-feira de carnaval (13). A banda foi fundada em 1990, no Bar Brochado, e completou no último domingo (11) 28 anos de existência. Seu nome é uma homenagem à personagem da atriz Joana Fomm na novela Tieta, cujo bordão era “Quengaaaa!”.

“É uma banda LBGT que começou com 50 pessoas. Hoje, não pode mais desfilar por causa do excesso de componentes. A previsão para este ano é entre 40 mil a 50 mil pessoas nesse reduto aqui da Lapa. Hoje, nós ficamos parados”, disse à Agência Brasil o atual presidente da agremiação, Juarez de Morais Santos Filho, que faz questão de dizer que é um heterossexual comandando um bloco de gays.

A banda se reúne atualmente no Bar das Quengas, na Avenida Mem de Sá, onde chama a atenção dos pedestres e de quem passa pela rua de ônibus o varal de roupas íntimas pendurado no segundo andar do estabelecimento.

Copa

No carnaval 2018, não há um tema específico. A camiseta, entretanto, tem uma parte em amarelo, homenageando os pontos turísticos do Rio de Janeiro e, na frente, faz menção à Copa do Mundo de Futebol, que este ano será na Rússia, com os dizeres: “Quenga na Copa da Rússia 2018”.

“A banda é LGBTs, mas o público é variado”, salientou Juarez Santos Filho. “Nós não discriminamos ninguém e ainda somos discriminados”.  A banda montou este ano uma corte, composta por madrinha, Shanadu; padrinho, José Felizardo; personalidade, Orlando Almeida; musa, Laura Alencaster; rei, Lucas Martins; e rainha, Tbengston Martins. Ao final do desfile, a corte das Quengas vai participar à noite do Baile Scala Gay, onde prestará homenagem à atriz, cantora, maquiadora e transformista brasileira Rogéria, falecida em setembro do ano passado, no Rio, e à Luana Muniz, a Rainha da Lapa, morta em maio de 2017.

O DJ Edu cuida das carrapetas, já que alugar um carro de som ficou com custo muito alto, explicou Juarez Santos Filho. As músicas são marchinhas de carnaval antigo, sambas e músicas referentes à classe gay, incluindo as cantoras Anitta e Pabllo Vittar, disse o presidente da banda. A diretoria é composta por seis pessoas.

Rio de Janeiro - Bloco Banda das Quengas comemora 28 carnavais na Lapa (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Tolerância e diversidade marcam desfileFernando Frazão/Agência Brasil

Personagens 

Magali Penélope mora na Lapa há 30 anos. Foi eleita rainha da banda em 2010. “É a banda mais familiar que nós temos aqui no centro da cidade. É uma banda maravilhosa”.

Fantasiado de Irmã Agnes Dei, Dou e Sempre Darei, o pesquisador econômico Josué Delfino veio de São Paulo para participar da Banda das Quengas, que frequenta desde os primeiros anos.

Katya Furacão participa da Banda de Ipanema há 25 anos e há dez anos sai na Banda das Quengas. “Por que eu gosto daqui? Porque aqui não preciso vir linda, maravilhosa. Aqui não tem 'miss', apesar de você estar me entrevistando hoje. Aqui é o carnaval real. Aqui tem senhoras, aposentadas que moram sozinhas na Lapa, tem crianças, tem travesti, tem gay. Eu amo isso aqui”.

Aclamada rainha da banda 2018, Tbengston Martins é também diretor financeiro e de marketing da agremiação quando está na personalidade de Paulo Henrique Martins, professor aposentado, graduado em cinco faculdades e transformista há 40 anos.

A madrinha Shanadu, 'cover' de Alcione e de Leci Brandão, também é assídua frequentadora da Banda das Quengas. “Todo ano, eu venho. Essa é a única banda em que eu saio, por causa da segurança, da tranquilidade, porque é um ambiente familiar. Você não vê briga, não vê confusão. Então, vale a pena vir”.

Madrinha do ano passado e ex-rainha da banda, Luana Ritz disse que é uma experiência maravilhosa, porque todo evento que parte de uma organização considerada minoria segundo a maioria da sociedade e consegue colocar milhares de pessoas na rua, representa uma vitória para a categoria. A banda ajuda ainda a diminuir o preconceito contra a parcela LGBT da população, avaliou Luana. “Sem dúvida alguma. Eu acho que, acima de tudo, além de mostrar o glamour, o luxo, mostra a capacidade que a gente tem do empreendedorismo, de conseguir organizar esses milhares de pessoas na rua. Isso é sinal que nós não somos essa minoria marginalizada que a sociedade tentou impregnar durante décadas. Muito pelo contrário”.

O bordão deste ano da Banda das Quengas é "O carnaval perfeito, o carnaval que não precisa de prefeito", em mais uma crítica ao prefeito Marcelo Crivella, que além de reduzir o apoio ao carnaval carioca, preferiu viajar para a Europa, fugindo da animação das ruas.



Bloco Banda das Quengas acompanha foliões no Rio de Janeiro

Edição: Valéria Aguiar

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