No Rio, torcida sofreu até os últimos minutos, sem perder a esperança

Publicado em 06/07/2018 - 19:25 Por Isabela Vieira, Léo Rodrigues e Vladimir Platonow - Repórteres da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A derrota para a Bélgica mexeu com os nervos dos torcedores que lotaram arenas montadas na capital fluminense, esperando uma vitória brasileira até o último minuto de jogo. A Praça Mauá, o Alzirão e o Parque Madureira foram os principais pontos de concentração, reunindo milhares de pessoas diante de telões desde o início da tarde. Já os torcedores belgas, infinitamente em menor número, foram os únicos que puderam comemorar, reunidos em um hotel no centro.

“O Brasil jogou mais ou menos. Não deu. A verdade é esta. Eu não tenho palavras. Estou chateado. Desculpa aí”, lamentou o pintor Ubirajara da Conceição ao final da partida, no Parque Madureira.

Outros revelaram que já não estavam acreditando na vitória da seleção, mesmo antes do jogo começar. “Para dizer a verdade, eu não estava com muita fé na seleção brasileira. Eu sou brasileiro, a gente torce, mas não estava acreditando não. A seleção deixou a desejar na última Copa e agora nesta. O Neymar enrola muito”, disse Carlos dos Santos, que trabalha como vendedor. 

A tristeza deles, contrastava com a esperança do jovem Henrique Coelho Teles, de 13 anos, estudante da 7ª série do ensino fundamental. Apesar de estar triste com o resultado, ele mantém a fé na seleção para a próxima Copa, no Catar, daqui a quatro anos. “Eu nunca vi o Brasil ser campeão. Achei que ia ser este ano, mas estamos aí. Em 2022, ele vai ser, se Deus quiser", disse Henrique, que não gostou da atuação de Neymar. “Ele não atuou nada. Devia ter parado de cair e fazer um gol”, acrescentou. 

Praça Mauá 

Antes da partida, era difícil encontrar um torcedor que esperasse um jogo fácil. Ainda assim, os presentes estavam confiantes no resultado positivo. Com o rosto pintado, a designer Daiana Miranda acreditava em um duelo de igual para igual. "Neymar precisa nos representar e acabar com essa fama de cai-cai", disse.

Alguns torcedores deram palpite sobre o placar e tinham na ponta da língua todos os detalhes de um jogo heroico. "Vai ser 1 a 0, com gol do Gabriel Jesus no finalzinho do segundo tempo. É bom ele marcar ou então pode sentar no banco e não aparecer mais na Copa", apostava o MC Igor Fernandes Moreira.

Torcedores assistem ao jogo entre Brasil e Bélgica, pelas quartas de final da Copa do Mundo da Rússia 2018, na Praça Mauá.
Torcedores assistem, na Praça Mauá, ao jogo entre Brasil e Bélgica - Fernando Frazão/Agência Brasil

Com os dois gols da Bélgica, o nervosismo tomou conta do ambiente. Torcedores roíam as unhas, reclamavam dos passes errados. Ainda assim, mesmo com o placar adverso ao fim do primeiro tempo, a esperança insistia em se fazer presente. "Nós vamos vingar o Japão e virar esse jogo da mesma forma que a Bélgica fez", dizia o engenheiro Pedro Argento, lembrando o placar de 3 a 2 na partida entre belgas e japoneses nas oitavas de final.

Com a diminuição da vantagem belga, faltava mais um, mas o gol do Gabriel Jesus previsto pelo torcedor não saiu no final e o centroavante deixa a Copa do Mundo sem ter balançado as redes. Alguns não seguraram as lágrimas. A tristeza, porém, recebeu um drible quando Preta Gil subiu ao palco. Ao ritmo da cantora, a secretária Rosilene Ignácio dos Santos era uma que pedia para virar a página. "O povo tem mania de julgar os derrotados. Está errado. Eram duas seleções boas disputando uma decisão. Não é pra qualquer uma. Particularmente estava confiante. Mas bola para frente e daqui quatro anos estaremos mais preparados", disse ela, que agora aposta na conquista da Bélgica.

Belgas

 No Belga Hotel, ponto de encontro da comunidade, próximo à Praça Mauá, o clima foi de “já ganhou” desde o primeiro gol. Confiante, a torcida cantou hinos durante o jogo e celebrou tentativa de gol perdida pelo Brasil. Ou melhor, “salva” pelo goleiro Thibaut Courtois.

“O goleiro foi o grande o heroi da partida”, disse Mervyn Scheepers, que se autointitula belga-carioca. Perguntado se foram as cores da Bélgica, iguais às da Alemanha, que assustaram o time brasileiro, ele riu e respondeu: “O Brasil já levou cinco vezes, nós, nenhuma; está na hora de ganhar a taça".

Nem os torcedores dos diabos vermelhos, como o time belga é conhecido, acreditavam na defesa, que só deixou passar um gol do Brasil, apesar das várias tentativas. A zaga sempre foi apontada por especialistas como ponto fraco do time. “Nunca vi o time jogar com garra, brigar em campo. Estou contente de ver isso”, disse Stefano Missir, funcionário do consulado.

No ponto de encontro, no centro do Rio, movido a uma rodada gratuita de cerveja a cada gol, todos estavam confiantes de que os diabos vermelhos chegam ao fim da Copa. Mesmo que o jovem time belga tenha ainda que passar pela França, considerada forte destaque da competição.

"A França é nossa vizinha, somos íntimos, sabemos como é o jogo deles”, brincou Stefano. “O Brasil era nosso grande desafio e passamos por ele”, disse, quando foi puxado por outros torcedores para a comemoração. “Agora é tudo nosso, o caminho está liberado para a taça.”
 

Edição: Juliana Andrade

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