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Refugiados fazem curso do Senac para inserção no mercado de trabalho

A primeira turma do curso de garçom começou em 14 de janeiro
Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 19/02/2019 - 17:30
Brasília
A turma de alunos do curso oferecido pelo Senac DF/Foto: Isaac Amorim
© IsaacAmorim/AG.MJ

Há um ano e seis meses, o venezuelano Christhian Indriago, 31 anos, chegou ao Brasil, junto com a esposa, 28 anos, e o filho, 3 anos. A família se instalou em Roraima, mas há três meses mudou-se para Brasília. Desde que chegou ao Brasil, Indriago, que tem diploma de graduação e atuava na indústria de alumínio na Venezuela, teve de trabalhar como auxiliar de pedreiro para garantir o sustento. Além de batalhar pela sobrevivência em um novo país, lamenta a distância da família. "Meu pai morreu e eu não pude ir ao funeral", conta o venezuelano em entrevista à Agência Brasil

Indriago é um dos nove alunos refugiados que participam da primeira edição do curso de garçom oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A iniciativa, que começou em 14 de janeiro, é feita em parceria com a Secretaria Nacional de Justiça, subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. A ideia é ajudar na inserção dos refugiados no mercado de trabalho brasileiro.

A turma de alunos do curso oferecido pelo Senac DF/Foto: Isaac Amorim
A turma de alunos do curso oferecido pelo Senac DF - Isaac Amorim/AG.MJ

O venezuelano afirmou sentir gratidão pela nova oportunidade, apesar da queda no padrão de vida. Ele destacou, porém, que o acolhimento recebido não é suficiente para estancar a saudade de casa. "Não tem nada como o nosso lar", disse. "Minha avó tem 77 anos. Eu fui criado por ela, não pela minha mãe. Às vezes, eu penso: 'Será que fico aqui por cinco anos?'. Não sei se ela vai morrer primeiro", disse, com voz embargada e lágrimas nos olhos.  

Uma das cinco conterrâneas de Indriago no curso, a engenheira industrial Yenni Torres passou também a residir na capital federal depois de aderir ao projeto de interiorização do governo brasileiro. Com um ano completado este mês, a Operação Acolhida - como é chamada a articulação de ajuda humanitária a refugiados e imigrantes venezuelanos - já transferiu 4.564 pessoas dos abrigos de Roraima para 17 estados.

Yenni disse que compreendeu a dimensão da crise humanitária de seu país ao constatar que o salário não rendia para comprar alimentos para família. Foi quando decidiu, em 2017, buscar uma alternativa em território brasileiro, acompanhada do marido, também engenheiro, de 42 anos, do filho, de 14, e da filha, de 8.

Venezuelana
A venezuelana Yenni Torres é uma das alunas do curso - Isaac Amorim/AG.MJ

No período em que viveu em Boa Vista, Yenni e o companheiro chegaram a vender bolos e pastéis para sobreviver. "Vive-se dia a dia", afirmou. "Eu faço um esforço por causa do meu filho. Porque ele tem direito a estudar, de sair de um colégio para a universidade. Eu pude estudar, por um esforço dos meus pais", desabafou, emocionada.

Curso

Além dos seis venezuelanos, a turma do curso de graçom tem dois refugiados de Camarões, uma de Gana e quatro brasileiros. Eles recebem ensinamentos que abrangem toda a cadeia de um restaurante, desde o recebimento de suprimentos, normas de higiene a características de coquetéis e harmonização de vinhos. "Isso faz com que o aluno tenha uma inserção muito maior dentro dos processos de mercado e pedagógicos. A gente consegue trabalhar com todas as noções daquilo que o mercado necessita", ressaltou Helvio Cassiano, professor do Senac.

O projeto-piloto do curso tem carga de 240 horas e previsão de encerramento para 7 de março. As aulas, oferecidas gratuitamente, estão sendo realizadas no restaurante-escola do Senac, instalado no anexo do prédio do ministério. A unidade foi escolhida por dispor, ao mesmo tempo, de um espaço de buffet, um de serviço à la carte e um bistrô. Ao todo, são servidas ali, diariamente, mil refeições, segundo Cassiano. 

O professor destacou que ao final do primeiro mês de curso, já é vísivel a melhora na autoestima dos alunos. Apesar disso, o fato de terem deixado para trás os familiares é ainda algo que os marca. "Muitos dizem: 'Estou aqui almoçando, mas minha família não tem comida lá'", disse.