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Estudo mostra ruas e calçadas inadequadas para circulação de pessoas

Todas as capitais apresentam problemas; São Paulo tem melhor pontuação
Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 19/09/2019 - 19:54
São Paulo
Faixa de pedestre no Distrito Federal completa 20 anos (Marcello Casal Jr/Arquivo Agência Brasil)
© Marcello Casal Jr/Arquivo Agência Brasil
Movimento é menor nas ruas de São Paulo em dia de jogo da seleção
© Rovena Rosa/Agência Brasil

Nenhuma capital brasileira apresenta condições adequadas para circulação de pedestres e cadeirantes nas calçadas, ruas e faixas de travessia, revela o estudo Campanha Calçadas do Brasil 2019, divulgado hoje (19) pela Mobilize Brasil, em São Paulo.

O estudo avaliou a condição das calçadas, da sinalização para os pedestres, o conforto e a segurança para quem caminha nos entornos de edificações públicas. O levantamento mostra que, em maior ou menor medida, quem precisa caminhar nas capitais do país acaba encontrando calçadas estreitas, buracos, degraus, postes, faixas de travessia apagadas, semáforos ausentes ou deficientes, ambientes agressivos e poluídos e nenhum local para descanso em dias de calor ou chuva. Em outras palavras, as cidades brasileiras apresentam baixa caminhabilidade.

Segundo Marcos de Sousa, um dos coordenadores da campanha, os resultados mostraram que “as escolas, hospitais e centros de saúde são os piores lugares para caminhar, justamente os lugares com maior presença de idosos e crianças e de pessoas mais humildes”.

“As sedes das Câmaras Municipais, as sedes das prefeituras, ou os edifícios onde está o centro do poder, são bem tratados. Os hospitais, creches, escolas e centros de saúde são os locaisem que encontramos as piores condições possíveis, degradantes, o que faz com que as pessoas tenham que andar na rua, às vezes, arriscando a vida”, disse Sousa.

A média nacional, que ficou em 5,71, é considerada baixa, já que os critérios do estudo estabeleciam que o mínimo aceitável seria a nota 8, em uma escala de zero a dez. Todos os lugares avaliados na pesquisa eram de responsabilidade direta dos governos, em seus três níveis. “Se os governantes não cumprem as leis e normas, como esperar que o morador zele por sua calçada?”, questionou Ricky Ribeiro, diretor do Mobilize Brasil.

“O estudo mostrou, de forma geral, que não existe uma política nacional de mobilidade urbana que, teoricamente, daria prioridade ao pedestre ou ao ciclista”, acrescentou Sousa. “O que a gente vê na prática é que em raríssimos locais a acessibilidade é concreta. Chama a atenção o fato de não existirem corredores acessíveis, corredores caminháveis. O que vemos são trechos pequenos na frente dos edifícios públicos que têm boas condições de caminhabilidade, mas a pessoa, para chegar até ali, tem que percorrer longos trechos passando por buracos, degraus ou ao lado de postes.”

Capitais

A capital brasileira mais bem analisada nesses critérios foi São Paulo, que ficou com a nota 6,93, seguida por Belo Horizonte, com 6,84, e Florianópolis, com 6,73. Belém foi a capital que teve a pior classificação, com nota 4,52, seguida por Fortaleza, com 4,53, e Cuiabá, com 4,79. Brasília ficou na sétima posição, com nota 6,25.

“A cidade menos pior é São Paulo, e ela não atinge nem a nota 7, que ainda é inferior à nota 8, o mínimo adequado para uma situação confortável de caminhabilidade”, disse a arquiteta e urbanista Marília Hildebrand, membro do Mobilize Brasil. “Na cidade de São Paulo, temos bons exemplos de calçadas que percorrem mais de um quilômetro, como as Avenida Paulista e da Avenida Faria Lima. Mas isso são exceções”, afirmou. “A pior capital é Belém, abaixo da nota 5. Quando as avaliações se estendem para as periferias, o problema fica ainda pior.”

Para Marília, a sociedade perde em integração e diversidade quando deixa de apresentar calçadas adequadas para sua população. “Se pensarmos que a calçada também é um espaço público e que ela permite que as pessoas vivenciem a cidade e se desloquem entre os seus espaços, uma má qualidade de calçadas vai influenciar diretamente na falta de integração do cidadão com a cidade”, disse a urbanista. “Sem contar que isso é uma grande restrição para as pessoas com mobilidade reduzida.”

O estudo foi feito por uma rede de colaboradores nas 27 capitais, que saíram às ruas entre os meses de março e julho para fazer o levantamento nas proximidades de locais com grande circulação de pessoas a pé, como hospitais, escolas, mercados, terminais de transportes, edifícios da administração pública, praças e parques, entre outros espaços.

Os avaliadores visitaram, fotografaram, tomaram medições e atribuíram notas de zero a dez para cada um dos 13 itens considerados na pesquisa: regularidade do piso, largura da calçada, inclinação transversal da calçada, existência de barreiras e obstáculos, condições de rampas de acessibilidade, faixas de pedestres, semáforos de pedestres, mapas e placas de orientação, arborização e paisagismo, mobiliário urbano, poluição atmosférica, ruído urbano e segurança.

O relatório completo pode ser acessado em https://www.mobilize.org.br/campanhas/calcadas-do-brasil-2019/