Antiga emissora pública grega espera apoio de partido do governo para recomeçar

Publicado em 29/01/2015 - 17:43 Por Da Agência Lusa - Salônica, Grécia

Jornalistas e técnicos da antiga rádio e televisão pública grega (ERT), fechada em 2013, ainda transmitem hoje (29), em Salônica, a partir das antigas instalações. Após a vitória eleitoral do Syriza, eles querem que a estação voltea transmitir programas "mais saudáveis".

Na tarde de quarta-feira, houve plenária geral nas instalações de rádio da ERT 3, a antiga estação pública que o ex-governo da coligação Nova Democracia-Pasok dissolveu abruptamente em 11 de junho de 2013, após 75 anos de transmissões contínuas.

Dezenas de jornalistas dessa estação de rádio e televisão, que transmitia em nível nacional, decidiram prosseguir com a programação. Após fechar a estação, o governo anunciou uma "organização pública midiática, mas sem controle partidário ou estatal" (Nerit), desde então definida como a "televisão do governo".

A jornalista Christina Siganidou divide com dois colegas a apresentação do noticiário noturno da ERT, transmitido a partir das 22h. Ela apresenta ainda um programa cultural semanal e inclui-se entre a metade dos 2.656 jornalistas, técnicos e administradores que se recusaram a aderir ao novo projeto midiático - que não reconheciam como legal - e que acabou por integrar cerca de 600 trabalhadores. "Conseguiram nos dividir. Muitos assinaram a proposta do governo e, entre os que não assinaram, muitos caíram em depressão", disse ela.

A vitória do partido da esquerda radical nas eleições legislativas de domingo (25) devolveu a esperança aos jornalistas. Além de prometer a volta da antiga TV pública, o partido do primeiro-ministro Alexis Tsipras mantém na agenda a exigência de que os inúmeros canais privados - apadrinhados pelos governos anteriores, e que facilmente garantiram licenças nos últimos anos - comecem a pagar impostos e saldem uma dívida de muitas centenas de milhões de euros.

Para a jornalista Christina Siganidou, o fim da ERT teve como objetivo conceder aos veículos privados a generalidade das frequências digitais para transmissão de programas televisivos, contrariar a crescente independência editorial da estação - por tradição, sempre pressionada pelo poder - e a demissão imediata de 5 mil funcionários dependentes do Estado, uma exigência da "troika" internacional.

"Temos desejo de total independência a partir de agora", enfatizou Christina. "Estamos discutindo a formação de um comitê com um membro de cada editoria e em cada cidade no país. Temos de fazê-lo muito depressa. Dois membros da ERT foram eleitos para o Parlamento [pelo Syriza], é muito importante."

A apresentadora de TV explica que continuam regendo-se por uma "organização horizontal", na qual as assembleias gerais se mantêm como "instrumento máximo de decisão". De início, após a interrupção do sinal, os trabalhadores da ERT começaram a transmitir os programas por via alternativa e foram recuperando audiência.

Mas as dificuldades são evidentes. "Durante um ano, recebemos subsídio de desemprego, e desde então não temos nada; somos apoiados por amigos e família. E mudamos o nosso estilo de vida", prossegue Christina. Para ela, após a vitória do partido antiausteridade, as perspetivas passam pela reabertura do canal público "com uma estrutura e programas mais saudáveis".

Nas últimas semanas, a equipe de jornalistas que insiste em manter viva a ERT tem recebido novos apoios e adesões e assistido ao regresso de antigos jornalistas.

"São dificuldades muito agradáveis. Tentamos equilibrar o que foi a ERT e o que temos sido nos últimos 20 meses, tentamos ter um microfone aberto para todos os setores da sociedade que foram excluídos da televisão pública", afirmou Kostas Karikis, programador de televisão.

No caso de reposição da ERT pelo governo Syriza, Karikis exclui qualquer medida administrativa, especialmente contra os antigos colegas que optaram pela Nerit. "Há pessoas que foram obrigadas, que foram enganadas, que não tinham meios de sobrevivência, e aceitaram salários muito baixos. O futuro da TV pública deve começar de novo e de forma justa – a prioridade não deve ser a punição, primeiro a justiça e não a punição."


Fonte: Imprensa grega espera abertura com independência e programas mais saudáveis
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