Venezuela faz censo da população que vive ao longo da fronteira com a Colômbia

Publicado em 27/08/2015 - 12:31 Por Monica Yanakiew – Correspondente da Agência Brasil/EBC - Buenos Aires

Soldados colombianos são observados por militares venezuelanos, enquanto ajudam colombianos a atravessar a fronteira entre os dois países pelo Rio Tachira

Soldados colombianos são observados por militares venezuelanos, enquanto ajudam compatriotas a atravessar a fronteira dos dois países, pelo Rio TachiraMauricio Duenas Castaneda/EPA/Agência Lusa

O governo venezuelano iniciou hoje (27) um censo da população que vive e trabalha ao longo dos 2,2 mil quilômetros da fronteira com a Colômbia. Na semana passada, mais de mil colombianos que viviam ilegalmente no estado venezuelano de Tachira foram deportados ou fugiram, levando o que podiam, depois que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou o fechamento de parte da fronteira e estado de emergência constitucional em seis municípios.

O fechamento foi anunciado há sete dias, depois que um civil e três militares venezuelanos foram atacados pelas costas por homens armados, que fugiram de moto. Os soldados estavam patrulhando a região de Tachira, para impedir o contrabando de alimentos e gasolina subsidiados pelo governo da Venezuela e vendidos a preços mais caros na Colômbia. Maduro atribuiu o ataque a “paramilitares colombianos”.

Na quarta-feira (26), as chanceleres da Colômbia, María Ángela Holguín, e da Venezuela, Delcy Rodríguez, reuniram-se na cidade colombiana de Cartagena das Índias para discutir a crise. “Foi a reunião mais franca e realista que tivemos”, disse Holguín. Ambas concordaram que, embora o contrabando prejudique os dois países, a Venezuela é mais prejudicada, pois enfrenta uma crise financeira e de desabastecimento, devido à queda no preço do petróleo, principal produto de exportação.

Holguín agradeceu a generosidade da Venezuela, que acolheu milhares de migrantes colombianos – muitos dos quais fugiram da guerra civil, que dura 50 anos, envolvendo as Forças Armadas, grupos guerrilheiros, narcotraficantes e paramilitares. Ela disse ainda que o fechamento das fronteiras prejudica muitas famílias inocentes, que vivem do comércio legal entre os dois países.

A chanceler venezuelana Delcy Rodríguez atribuiu boa parte da crise às notícias “mentirosas” divulgadas pela imprensa, sobre os maus-tratos aos colombianos deportados. A crise ocorre em ano eleitoral nos dois paises: em outubro os colombianos elegerão governadores de 32 departamentos (equivalentes aos estados brasileiros) e prefeitos de mais de mil municípios. Em dezembro, a Venezuela realizará eleições legislativas.

Delcy Rodríguez disse que, para evitar mal-entendidos, os dois governos decidiram negociar diretamente, com a participação de autoridades regionais e das áreas econômica e de segurança. Ela disse que pediu à Colombia os nomes dos paramilitares que atuavam no país. A fronteira dos dois países continua fechada.

O governo colombiano pediu autorização à Venezuela para enviar ônibus à região de fronteira e ajudar os deportados a transportar seus pertences. O país também se comprometeu em implementar políticas sociais para ajudar os repatriados a se instalarem em seu país.

Analistas políticos concordam que – apesar da boa vontade manifestada pelos dois governos – os problemas fronteiriços são difíceis de resolver. O governo colombiano ainda negocia a paz com o principal grupo guerrilheiro do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colombia (Farc). Além disso, as diferenças na política cambial dos países estimulam contrabandistas que lucram com a venda de produtos baratos venezuelanos na Colômbia.

Edição: Denise Griesinger

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