Argentina reforça segurança para visita de Obama após atentados na Bélgica

Publicado em 22/03/2016 - 17:26 Por Monica Yanakiew - Correspondente da Agência Brasil - Buenos Aires

A Argentina reforçou hoje (22) as medidas de segurança para a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que chega a Buenos Aires no fim da noite. O anúncio foi feito pelo governo argentino horas depois da notícia dos dois atentados que mataram mais de trinta pessoas na Bélgica.

Obama chegará a Buenos Aires depois de concluir a histórica visita a Cuba e será acompanhado por 400 empresários. Antes da visita – que coincide com o aniversario de 40 anos do golpe militar argentino – Obama prometeu abrir os arquivos norte-americanos sobre a ditadura argentina (1976-1983), alguns dos quais só seriam divulgados daqui a dez anos.

Para o presidente da Argentina, Mauricio Macri, que acaba de completar cem dias no governo, a vinda de Obama é um sinal de que o país está “saindo do isolamento”, numa crítica à política externa se sua antecessora, Cristina Kirchner. O último presidente norte-americano a visitar a Argentina para um encontro bilateral foi Bill Clinton, há dezenove anos.

Em 2005, George W. Bush esteve em território argentino para participar de uma reunião de líderes dos países do continente americano – com exceção de Cuba. Bush foi recebido por protestos nas ruas contrários à proposta apresentada por ele de criar uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

“Acho que o gesto da visita do presidente Obama é muito importante para nós porque mostra o interesse, a prioridade do governo dos Estados Unidos na gestão do presidente Macri”, disse a ministra das Relações Exteriores argentina, Susana Malcorra.

“A data me surpreendeu. Eu pensava que ele viria mais tarde, o que demonstra que houve muito boa predisposição por parte da administração [norte-americana]. Vocês sabem que a Casa Branca não organiza essas viagens de forma repentina”, acrescentou.

Antes de embarcar para Cuba, Obama disse, em entrevista a um canal de televisão, que manteve uma relação “cordial” com Cristina Kirchner, mas que as politicas dela “eram sempre anti-norte-americanas” e que ela empregava uma “retórica dos anos 60 e 70”. Com Macri, Obama acredita que as relações serão diferentes, porque o novo presidente “reconhece que estamos numa nova era e precisamos olhar para frente”, segundo o norte-americano.

Desde que assumiu, Macri reduziu impostos sobre as exportações de grãos e carne, eliminou os controles cambiais em vigor desde 2011, e começou a negociar com os chamados “fundos abutres” – que compraram títulos da dívida argentina a preços baixos, depois do calote de 2001, e entraram na Justiça para cobrar o valor total, sem descontos.

Os fundos ganharam a causa, num tribunal de Nova York e, apesar de representarem uma minoria dos credores (1%), conseguiram impedir que a Argentina pague a grande maioria (93%) dos detentores de títulos da dívida, que aderiram às propostas de renegociação. Um juiz de Nova York bloqueou o dinheiro argentino para obrigar o país a cumprir a sentença.

Para Macri – que assumiu o governo numa conjuntura internacional menos favorável, com o principal parceiro comercial (Brasil) em crise e os preços das commodities em baixa – a visita de Obama e dos 400 empresários norte-americanos chega num momento em que a Argentina precisa atrair investimentos estrangeiros. Na agenda, também está previsto que os dois presidentes conversem sobre o combate ao narcotráfico e ao terrorismo.

Vizinhos

A situação dos países da América Latina também será tratada entre Obama e Macri. Ambos apoiam o processo de paz na Colômbia, para acabar com meio século de uma guerra envolvendo o Exército, a guerrilha e grupos paramilitares.

Macri, ao contrário de Cristina Kirchner, tem criticado a prisão de políticos oposicionistas na Venezuela, que ele considera uma violação dos direitos humanos por parte do governo de Nicolás Maduro. O argentino chegou a pedir que a Venezuela seja suspensa do Mercosul, mas não recebeu apoio dos demais presidentes do bloco.

A crise no Brasil também preocupa muito a Argentina, segundo a chanceler Susana Malcorra, que espera uma resolução “rápida” e “de acordo com as instituições democráticas” para o bem do país e do continente. O Brasil é responsável por 40% do comércio exterior da Argentina.

Direitos humanos

A previsão inicial era que Obama ficasse dois dias em Buenos Aires: 23 e 24 de marco. No entanto, diante da reação negativa dos organismos de direitos humanos, os dois governos acharam mais prudente mudar a agenda. No dia 24 – data em que haverá manifestações em homenagem as vítimas do regime militar argentino – Obama estará no sul da Argentina, em Bariloche.

Edição: Luana Lourenço

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