Britânicos têm resistência a perder soberania, dizem especialistas sobre Brexit

O Reino Unido decidiu, em referendo, deixar a União Europeia

Publicado em 24/06/2016 - 17:20 Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil - Brasília

Especialistas ouvidos pela Agência Brasil disseram hoje (24) que os britânicos têm resistência à perda de poder do governo e do Parlamento inglês diante da centralização das decisões na União Europeia (UE). E isso, segundo eles, levou ao resultado do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido do bloco.

“Em vários lugares há uma resistência à centralização do poder em Bruxelas [capital da Bélgica e da União Europeia] e às decisões da UE em um momento de crise econômica, que tirariam poder dos parlamentos regionais”, afirmou o cientista político Joviniano Neto, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Para Joviniano Neto, há uma tendência conservadora dos países diante da crise mundial de seguir a ideia nacionalista do fechamento de fronteira, de valorizar as fronteiras nacionais e defender maior autonomia.

Fronteiras

De acordo com o professor, essa é a principal proposta do candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump. “São vários tipos de reação. Há a tendência que pode ser progressista de esquerda, que é o caso da Espanha, de repensar os termos em que o Estado está funcionando. Todos procurando dar resposta à crise atual”, disse.

Ele explicou ainda que, no caso da China, também há uma reorganização para o desenvolvimento da economia interna, mas sem levar à ideia de fechamento de fronteiras, já que há muito a expandir com uma população de um bilhão de pessoas.

O professor e coordenador do curso de relações internacionais das faculdades Rio Branco, em São Paulo, Gunther Rudzit, informou que essa é uma questão geracional. Segundo ele, os mais jovens votaram pela permanência do Reino Unido na UE, enquanto os mais idosos optaram pela saída.

Referendos

“Os que votaram pela saída não vão viver muito mais nessa realidade. Eles são de direita, têm um nacionalismo muito forte. Com isso, há a perspectiva inadmissível de perda de soberania e de decisões para organismos supranacionais da União Europeia”, acrescentou Rudzit, revelando que muitos que eram a favor da saída do país do bloco disseram que esses organismos não têm legitimidade popular para tomar decisões.

Conforme Rudzit, esse é um “grande terremoto político-econômico-social” e que não é possível prever as consequências. “Já houve partidos de extrema direita da França e da Holanda que pediram referendos no mesmo sentido, atitude que pode ganhar grandes dimensões na Europa. Ao mesmo tempo, o processo de integração pode ganhar velocidade."

Para Joviniano Neto, a decisão do Reino Unido é uma consequência da crise econômica mundial, aliada à visão saudosista e das tradições do país. “É a velha autoimagem dos ingleses como antigo centro dos maiores impérios do mundo. Um saudosismo que foi muito explorado nessa campanha [pela saída da UE]”, esclareceu Neto.

O professor da UFBA destacou que o Reino Unido depende muito mais da Europa do que imagina e que haverá um custo para sair da União Europeia e ainda se manter como centro financeiro mundial.

Imigrantes

A questão da imigração também é um ponto polêmico, principalmente em um momento de grave crise migratória em que os países europeus não conseguem chegar a um acordo sobre como deve ser a política para os refugiados.

Segundo Joviniano Neto, a questão da imigração não foi o principal fator, mas favoreceu à decisão dos britânicos de deixar a União Europeia. O professor afirmou que, apesar de estar crescendo a resistência aos imigrantes, ela não é tão forte, já que a Inglaterra tem uma tradição de receber pessoas desde o antigo império.

Entretanto, a imigração de muçulmanos de línguas diferentes em um momento de crise estimula uma reação defensiva, disse Neto, lembrando que, recentemente, Londres elegeu um prefeito muçulmano filho de imigrantes paquistaneses.

Gunther Rudzit divide a mesma opinião de Neto, afirmando que a questão dos imigrantes teve influência, mas não foi a principal razão para a saída do Reino Unido da UE.

Edição: Armando Cardoso

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