Liga Árabe e organização islâmica convocam reuniões após anúncio de Trump

Publicado em 06/12/2017 - 12:02 Por Da Agência EFE - Cairo, Ancara e Jerusalém

Vista aérea da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. O local, que abriga o Muro das Lamentações e a Mesquita de Al Aqsa é sagrado para muçulmanos, judeus e cristãos.

Vista aérea da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. O local, que abriga o Muro das Lamentações e a Mesquita de Al Aqsa é sagrado para muçulmanos, judeus e cristãos Abir Sultan/EPA/Agência Lusa/direitos reservados

A Liga Árabe convocou hoje (6) uma reunião de emergência dos ministros de Relações Exteriores da região para abordar a intenção dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Segundo a agência EFE, também foi convocada uma reunião da Organização para a Cooperação Islâmica para a semana que vem e há a expectativa de tensionamento na cidade santa.

A convocação da reunião da Liga Árabe para o próximo sábado (9) foi solicitada pela Jordânia, a pedido da Palestina, depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comunicou a vários líderes árabes sua intenção de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

Trump ligou ontem (5) para o rei Abdullah II da Jordânia, o presidente egípcio, Abdul Fatah al Sisi, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para comunicar sua decisão, que pode ser anunciada oficialmente nesta quarta-feira.

A Liga Árabe expressou nos últimos dias sua preocupação com as intenções dos Estados Unidos, que julga que podem destruir totalmente o processo de paz e representar uma ameaça à segurança e à estabilidade na Palestina e na região.

Cooperação Islâmica

Também foi convocada para a próxima semana uma cúpula de líderes da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), na Turquia, sobre o tema. “Na quarta-feira (13), o nosso presidente [Recep Tayyip Erdogan] será o anfitrião em Istambul de uma cúpula extraordinária de líderes da Organização para a Cooperação Islâmica", disse o porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin.

O porta-voz acrescentou que hoje mesmo o rei da Jordânia, Abdullah II, chegará em visita a Ancara para se reunir com Erdogan e abordar a questão de Jerusalém. "Desde esta manhã, (Erdogan) também falou por telefone com os chefes de governo ou de Estado de Malásia, Tunísia, Irã, Catar, Arábia Saudita, Paquistão e Indonésia, e segue falando com eles", disse o porta-voz em entrevista coletiva.

O presidente turco advertiu que a Turquia considera romper suas relações diplomáticas com Israel em resposta a este gesto, que implicaria no reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel e romperia com décadas de convenções diplomáticas internacionais. "Jerusalém é a nossa honra, é a nossa causa comum e, como disse o nosso presidente ontem, é a nossa linha vermelha", acrescentou.

Em visita a Seul, primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim, pediu que Trump reconsidere seu plano. "Na minha opinião, essa decisão de mudar a embaixada dos EUA para Jerusalém poderia aumentar novamente o conflito entre Israel e Palestina, e aumentar o conflito entre religiões", disse Yildrim, em entrevista coletiva.

Expectativa de aumento da violência

Com o possível anúncio de Trump, as forças de segurança israelenses se preparam para o risco de aumento da violência na cidade santa. Ontem começaram as consultas de oficiais de Defesa para fazer frente aos possíveis distúrbios e o Exército israelense preparou "um plano com diferentes níveis de alerta que será ativado conforme for necessário", informou o jornal israelense Ha'aretz.

Segundo o diário, vários batalhões que realizam neste momento treino e manobras foram advertidos de que podem ser destacados ao território ocupado da Cisjordânia no final de semana.

Contatado pela agência EFE, o porta-voz policial Micky Rosenfeld afirmou que "em geral estamos prontos para qualquer situação", mas disse que por enquanto "não há mudanças no terreno em termos de medidas de segurança policial".

As facções palestinas convocaram ontem Três Dias de Ira e Raiva Popular, de hoje até sexta-feira (8), para rejeitar o que qualificaram de "conspiração (norte) americana contra Jerusalém". Ontem à noite, vários manifestantes queimaram em Belém fotos de Trump e nesta manhã foram registrados enfrentamentos entre grupos de jovens palestinos e soldados israelenses em um posto de controle militar próximo à cidade e no campo de refugiados de Al Aroub, ao norte de Hebron, sem registro de feridos.

Em Gaza, o Hamas também convocou um "Dia da Ira" na sexta-feira, o que poderia provocar tensão na fronteira. Apesar da chuva, centenas de pessoas se manifestaram nesta manhã na Praça do Soldado Caído para mostrar rejeição à medida. O porta-voz do movimento, Fawzi Barhoum, classificou hoje a decisão de Trump como um "ataque ao direito palestino, árabe e islâmico a Jerusalém" e pediu a todo o mundo que ajude a "frustrá-lo com todos os meios possíveis".

Para amanhã (7), as facções convocaram uma manifestação ao meio-dia em Ramala.

Líderes manifestam preocupação

O papa Francisco expressou hoje sua preocupação com  a situação e pediu que se respeite o status atual da cidade. "O meu pensamento vai para Jerusalém. Não posso calar minha profunda preocupação com a situação que se criou nos últimos dias", declarou o pontífice, sem citar diretamente o anúncio do presidente dos Estados Unidos.

Francisco também fez um apelo para que se realizem todos os esforços para respeitar o status quo da cidade, conforme resoluções da ONU. "Jerusalém é uma cidade única, sagrada para os hebreus, cristãos e muçulmanos, que venera os locais santos das respectivas religiões e tem uma vocação especial para a paz, acrescentou.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, ligou para o papa comunicar sobre o anúncio de Trump, segundo o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, confirmou à EFE.

A China também alertou para o risco de agravamento da situação no Oriente Médio. "A situação de Jerusalém é muito complicada e delicada, e as partes implicadas deveriam levar em conta a paz da região",  disse em entrevista coletiva o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Geng Shuang. Ele sugere que as partes devem evitar "novos confrontos" e devem influenciar na resolução final sobre o Estado palestino.

O porta-voz lembrou que a China "sempre" apoiou e promoveu o processo de paz no Oriente Médio e respaldou a "causa justa" do povo palestino e seu direito a ter um Estado independente baseado nas fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como capital.

A Rússia também manifestou sua preocupação, embora o Kremlin considere prematuro “falar de decisões que ainda não aconteceram", segundo o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov. Ele afirmou que o presidente Vladimir Putin  "teve ontem várias conversas telefônicas" com líderes internacionais.

"A situação não é fácil, e na sua conversa com (o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud) Abbas, expressou justamente sua preocupação com esta situação e com a possibilidade que se agrave".

Histórico

Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital do seu futuro Estado, está ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e foi anexada em 1980 em uma decisão unilateral israelense que não foi reconhecida pela comunidade internacional.

Hoje nenhum país tem sua embaixada em Jerusalém, mas sim em Tel Aviv. A transferência da sede diplomática americana seria entendida como o reconhecimento da soberania israelense sobre toda a cidade, incluindo a parte ocupada.

As grandes crises recentes na região surgiram em torno da cidade santa: em 1996, com os protestos contra os túneis perto do Muro das Lamentações, em 2000, com a ascensão de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas (origem da Segunda Intifada), e em 2015 e 2016 com a onda de ataques após mensagens de que a Mesquita de Al-Aqsa estava ameaçada.

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