América Latina deve aproveitar bonança para reformar economia, diz Pnud

Publicado em 12/03/2018 - 18:42 Por Da Agência EFE - Nova York (EUA)

Indústrias

Hoje há dinamismo para avançar a uma diversificação produtiva muito mais agressiva na América Latina, segundo o Pnud  Agência Brasil/Arquivo

Com um novo ciclo de crescimento econômico à vista, a América Latina deve aproveitar os próximos anos para diversificar sua economia e, especialmente, melhorar a qualidade dos seus mercados trabalhistas, sugeriu George Gray Molina, economista-chefe para América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Em entrevista à Agência EFE, às vésperas do Fórum Econômico Mundial de São Paulo, ele explicou que a transformação econômica é fundamental para continuar a região avançando na luta contra a pobreza e contra a exclusão, após os progressos conquistados na primeira década deste século".

Durante aquele etapa do "boom latino-americano", a região conseguiu tirar da pobreza 74 milhões de pessoas, mas a desaceleração posterior devolveu 18 milhões a essa situação.

Agora, segundo Molina, deveria ser a janela de oportunidade, já que" há dinamismo para avançar a uma diversificação produtiva muito mais agressiva," comentou. Mas, segundo ele, a receita não pode ser a mesma que até então: "o maior perigo seria pensar que mais do mesmo vai resultar em maior conquista social e econômica".

A década passada, lembrou o economista, premiou a inserção trabalhista de baixa qualificação, ajudando a aumentar a renda de muitos e a tirar gente da pobreza, mas esse modelo tem limitações claras. "A produtividade da economia tem que mudar", destacou ele, que comemora o crescente debate que se dá na região sobre a importância de melhorar os mercados trabalhistas.

"Dedo na ferida"

Segundo ressaltou Gray Molina, atualmente se está pondo "o dedo na ferida" e vários países estão desenvolvendo estratégias positivas neste sentido. "A baixa qualificação trabalhista foi boa para criar trabalhos rápidos que geraram receita na base da pirâmide, mas é ruim porque mais do mesmo não vai render", comentou.

Segundo o Pnud, junto às políticas de diversificação econômica são necessárias também "políticas sociais que acompanhem esse processo". E o momento para essa transformação é propicio, aos olhos da ONU, pois se prevê o início de um ciclo econômico positivo no continente após vários anos de desaceleração, incluindo dois de contração.

As estimativas indicam que a América Latina e o Caribe crescerão este ano entre 2,2% e 2,4%, quase o dobro que no ano passado, apoiadas principalmente no Brasil e no México e no avanço do preço das matérias-primas.

O crescimento, no entanto, não voltará aos níveis da década passada, razão pela qual é fundamental concentrar-se em sua "qualidade", se a intenção for seguir avançando em uma região onde 130 milhões de pessoas seguem abaixo da linha da pobreza, assinalou Gray.

Participação feminina

Um assunto central nesse âmbito é impulsionar a inserção da mulher, pois a participação feminina no mercado de trabalho está atualmente em 53%, 27 pontos abaixo da dos homens, o que representa uma "lacuna enorme", lamentou o economista.

"Nós acreditamos que a política social latino-americana poder fazer muito mais pela inserção trabalhista da mulher", opinou.

Para isso, segundo afirmou, é necessário "repensar" os sistemas de cuidado (as mulheres dedicam três vezes mais tempo às tarefas do lar que os homens), reduzir a "segregação ocupacional" (que encurrala as mulheres em certos setores) e impulsionar esquemas de proteção social.

Quanto aos diferentes modelos políticos que existem na região, o especialista destacou que a experiência demonstrou que há diferentes vias para conseguir resultados parecidos.

Como exemplo, citou como os quatro casos de maior redução da pobreza no continente durante os últimos 15 anos e que reúnem dois países mais abertos ao mercado (Peru e Paraguai) e outros dois que apostaram na tese do denominado socialismo do século 21 (Bolívia e Equador).

"Constatamos que não é um modelo único o que gera crescimento e redução da pobreza, mas são vários modelos os que estão aproveitando a conjuntura", garantiu Gray Molina.

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