Após anúncio de novas armas nucleares, Kremlin nega corrida armamentista

Publicado em 02/03/2018 - 11:33 Por Da EFE* - Moscou

O Kremlin negou hoje (2) que a Rússia queira iniciar uma nova corrida armamentista e que suas novas armas nucleares, apresentadas ontem pelo presidente russo, Vladimir Putin, sejam dirigidas contra algum país específico. A informação é da agência EFE.

No discurso de quinta-feira (1º), o chefe do Kremlin anunciou que seu país possui um míssil nuclear capaz de inutilizar o escudo antiaéreo americano e qualquer ataque procedente do exterior.

Jornalistas acompanham discurso de Putin em um telão

Jornalistas acompanham ao vivo o discurso do presidente russo Vladimir Putin ao parlamento, em que o chefe do Kremlin apresentou seus novos armamentos nuclearesEFE/Maxim Shipenkov/Direitos Reservados

"O presidente destacou que de nenhuma maneira se pode considerar como o início de uma nova corrida armamentista, já que não é outra coisa senão a resposta da Rússia à ruptura do tratado sobre a defesa antimísseis por parte dos Estados Unidos em 2002", disse aos jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

"O desdobramento por todo o mundo do escudo antimísseis americano poderia romper no futuro o equilíbrio estratégico, a paridade nuclear e, de fato, neutralizar as forças estratégicas da Rússia", acrescentou Peskov, acrescentando que os novos armamentos garantem ao país “a manutenção da paridade estratégica, necessária para a paz e a estabilidade no mundo todo".

Ao ser perguntado se as novas armas são dirigidas contra os EUA, Peskov respondeu que estas "não são uma ameaça para ninguém que não mantenha planos de atacar a Rússia".

O porta-voz também respondeu às críticas dos infográficos animados que acompanharam a apresentação e nos quais se pôde ver mísseis russos sobrevoando um mapa mundi em direção ao estado da Flórida (EUA). "Não se usou mapa algum (no infográfico). Só eram contornos geográficos imaginários, sem nenhuma referência a algum país concretamente", afirmou o porta-voz do Kremlin.

Merkel e Trump manifestam preocupação

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestaram preocupação, após a declaração de Putin, pelo "impacto negativo nos esforços internacionais para um controle de armas".

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, informou nesta sexta-feira que Merkel e Trump tiveram ontem (1º) uma conversa por telefone na qual abordaram o discurso de Putin.

Ambos os líderes destacaram a necessidade de esperar que "se concretizem" os planos do presidente russo, acrescentou o porta-voz, que não deu mais detalhes sobre o que foi abordado na conversa devido à "confidencialidade" imposta a este tipo de conteúdo.

Merkel e Trump têm acordo quanto à obrigação de o regime sírio e seus aliados iranianos e russos implementarem "imediatamente e na sua totalidade" a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que "exige um cessar-fogo imediato na Síria".

Além disso, a chanceler alemã e o presidente americano exigiram que a Rússia termine "sua participação nos bombardeios de Guta Oriental [http://agenciabrasil.ebc.com.br/tags/siria] e motive o regime do presidente sírio Bashar al Assad a acabar com as operações ofensivas" contra áreas com população civil.

Ao mesmo tempo, Merkel e Putin ressaltaram que o regime sírio "deve responder à piora da situação humanitária em Guta Oriental" no que se refere tanto ao uso de armas químicas quanto aos ataques contra civis e o bloqueio à ajuda humanitária.

captura de tela de animação que mostra ogiva nuclear decolando da Rússia

Reprodução do veículo hipersônico Avangard mostra ogiva hipersônica decolando do território russoEFE/Divulgação Kremlin/Direitos Reservados

O discurso de Putin

Ao falar sobre o estado da nação, o presidente da Rússia se comprometeu a reduzir drasticamente a pobreza e a tirar a Rússia de seu " atraso". "Devemos resolver uma das tarefas-chave para a próxima década: garantir um crescimento sustentado das receitas efetivas dos cidadãos e, em seis anos, reduzir pelo menos à metade o nível de pobreza", disse Putin às duas câmaras do parlamento, com transmissão ao vivo a todo o país pela televisão.

O discurso na grande sala de congressos Manezh, em frente ao Kremlin, acontece tradicionalmente no final de dezembro, razão pela qual a data escolhida, dois meses mais tarde e a apenas 17 dias das eleições presidenciais, causou bastante surpresa.

O ato de Putin – que buscará seu quarto mandato presidencial – foi denunciado pela oposição, dado que o discurso aconteceu em plena campanha, apesar de ele não fazer referência à sua candidatura. No entanto, a presidente da Comissão Eleitoral Central (CEC), Ella Panfilova, declarou que não houve nada ilegal já que o presidente não fez "discursos eleitorais".

Putin também propôs renovar a estrutura de emprego e melhorar o salário mínimo e a expectativa de vida. O chefe do Kremlin também falou em “ampliar o espaço de liberdades em todas as esferas, fortalecer as instituições democráticas, o autogoverno local, as estruturas da sociedade civil e a justiça" num discurso recorde de duas horas – geralmente a duração é de 40 minutos.

Quarenta e cinco minutos do discurso foram dedicados ao armamento nuclear. Putin apresentou o novo míssil balístico Sarmat, que tem um "alcance praticamente ilimitado" e que transforma em "inútil" o escudo antimísseis dos Estados Unidos. "Ninguém no mundo tem algo igual, por enquanto. É algo simplesmente fantástico!", afirmou o chefe do Kremlin, antes de exibir o infográfico animado que mostrava a trajetória do míssil sobrevoando um mapa.

Além disso, comentou que o Exército russo já dispõe de "complexos com armamento a laser" e "armas hipersônicas", assim como um míssil de longo alcance lançado de submarinos e capaz de portar uma ogiva nuclear. "Nenhum país no mundo tem, no dia de hoje, as armas que nós temos", destacou Putin, antes de fazer uma última advertência.

"Antes que tivéssemos os novos sistemas de armamento, ninguém nos escutava. Escutem-nos agora! Confio que tudo que foi dito na minha mensagem sirva para acalmar qualquer agressor potencial", finalizou.

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