Sistemas de alerta falharam antes de devastador tsunami na Indonésia

Publicado em 01/10/2018 - 18:59 Por Gaspar Ruiz-Canela – Repórter da Agência EFE - Bangcoc

Mil pessoas participavam de um festival cultural em uma praia na ilha de Célebes, na Indonésia, quando foram surpreendidos pela chegada de um devastador tsunami sem qualquer tipo de aviso porque os sistemas de alerta não estavam funcionando.

Segundo os últimos dados oficiais, 844 pessoas morreram depois do terremoto de magnitude 7,5 graus na escala Richter que provocou uma onda gigante de 3 metros e deslizamentos de terra ao afetar gravemente a consistência do solo em um fenômeno chamado liquefação.

A agência local de meteorologia, climatologia e geofísica, conhecida pela sigla BMKG, emitiu um alerta de tsunami após o terremoto, que ocorreu no fim da tarde, mas o retirou 28 minutos depois por não ter dados confiáveis sobre a situação.

No entanto, as redes sociais já começavam a mostrar imagens da onda gigante atingindo vários pontos de Célebres. Em Palu, no norte da ilha, uma das gravações mostra pessoas correndo desesperadas tentando encontrar algum abrigo para sobreviver.

Após o tsunami que deixou cerca de 280 mil mortos em países banhados pelo Oceano Índico, o governo da Indonésia instalou, com dinheiro repassado pela comunidade internacional, 22 boias com sensores de alerta de movimentos sísmicos no litoral.

No entanto, o sistema falhou parcialmente em 2010, quando um tsunami deixou 272 mortos na ilha de Mentawai, e voltou a apresentar problemas em 2016 durante um terremoto que atingiu a ilha de Sumatra. Na segunda ocasião, porém, o tremor não provocou o surgimento de uma onda gigante.

O porta-voz da Agência Nacional de Gestão de Desastres da Indonésia (BNPB), Sutopo Purwo Nugroho, disse no domingo, dois dias depois do desastre, que os sistemas de alerta de tsunamis não estavam funcionando há seis anos devido à falta de recursos para manutenção.

"Não há uma boia operacional desde 2012, e elas são necessárias para os alertas antecipados. O financiamento foi diminuindo a cada ano", afirmou em entrevista coletiva o porta-voz.

O terremoto da última sexta-feira (28) foi provocado por uma ruptura horizontal da crosta terrestre, mas são os movimentos de falhas verticais que costumam provocar grandes tsunamis como o de 2004.

"Primeiro pensamos que era difícil que ocorresse um tsunami nesse tipo de situação, mas ocorreu. Agora os geólogos estão se perguntando o que ocorreu ali", afirmou à Agência EFE o presidente da Associação de Geólogos da Indonésia, Sukmandaru Prihatmoko.

Uma possibilidade cogitada pelos especialistas é de o terremoto ter provocado algum movimento vertical no subsolo marinho.

Os moradores de Célebes primeiro viram o tsunami arrastar os escombros e as edificações, entre elas uma mesquita destruída em Palu, e depois as casas da ilha, como se a terra tivesse se transformado em líquido.

Esse fenômeno, conhecido como liquefação, ocorre quando um forte tremor atinge um solo com grandes bolsas de água. Ele entra em colapso e libera uma grande quantidade de barro que arrasta prédios como se flutuassem em uma corrente viscosa.

A Indonésia fica sobre o chamado Anel de Fogo do Pacífico, uma região de grande atividade sísmica e vulcânica, onde são registrados mais de 7 mil terremotos, a maioria de intensidade moderada, a cada ano.

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