Programa de recuperação de Maduro não consegue tirar país da crise

Publicado em 21/11/2018 - 06:10 Por Agência EFE - Caracas

O polêmico programa de recuperação da Venezuela, que nessa terça-feira (20) completou três meses desde que foi lançado pelo presidente Nicolás Maduro, não ajudou o país a sair da grave crise econômica, enquanto opositores, empresários e analistas insistem em criticar o pacote.

O legislador antichavista Ángel Alvarado afirmou à Agência EFE que os venezuelanos estão mais pobres que há 90 dias e que a economia está muito longe de se recuperar, apesar das promessas de êxito no curto prazo feitas por Maduro.

Filas na porta de bancos na capital venezuelana, Caracas
Filas na porta de bancos na capital venezuelana, Caracas - Cristian Hernandez/EFE/Direitos reservados

O membro da Comissão de Economia e Finanças do Parlamento venezuelano, o único poder controlado pela oposição, lembrou que o programa de Maduro impôs novos e maiores impostos em meio à hiperinflação que atinge o país e que, segundo dados da Câmara, supera 3% por dia.

"O dinheiro segue perdendo valor e os impostos são mais altos, aqui temos um grande desequilíbrio fiscal que não se vai resolver aumentando os impostos sobre as pessoas. Precisamos de medidas integrais para fechar a brecha fiscal", destacou.

País com as maiores reservas provadas de petróleo do planeta, a Venezuela atravessa severa crise econômica que se expressa em escassez e hiperinflação, um indicador que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que fechará em 10.000.000% no país caribenho em 2019.

Para combater a crise, Maduro lançou um programa que batizou como de "recuperação econômica", que inclui medidas como um substancial aumento do salário mínimo, congelamento de preços de alguns alimentos, reforma tributária e uma reconversão que instaurou um novo cone monetário (conjunto de moedas).

A renda mínima legal ficou ancorada à criptomoeda "petro", em 1.800 bolívares mensais, ainda vigentes, mas a desvalorização a levou dos US$ 30 iniciais a pouco mais de US$ 24 no dia de hoje, segundo a taxa de câmbio oficial.

Se a transação for feita no mercado paralelo, o salário mínimo não superaria US$ 7 mensais.

Por outro lado, a Agência EFE constatou que os alimentos cujos preços foram congelados escasseiam nos supermercados, enquanto o Centro de Documentação e Análise Social da Federação Venezuelana de Professores (Cendas-FVM) informou que a cesta básica teve aumento de 147.229% em um ano.

Alvarado afirmou à EFE que as medidas não contribuem de maneira efetiva para superar os males da economia venezuelana, e que o pacote precisa de maior produção da estatal Petróleos da Venezuela (Pdvsa) e de financiamento internacional, esse último uma área não contemplada pelo programa de Maduro.

"É preciso abrir-se novamente aos mercados financeiros internacionais, para isso é fundamental fazer reformas profundas na economia, suspender todos os modelos de controle e expropriações que existem e, definitivamente, dar maiores incentivos ao setor privado. Se isso não ocorre, eu não vejo maneira de haver uma recuperação econômica", ponderou.

O parlamentar disse também que os preços na Venezuela aumentaram 25 vezes nos últimos três meses e que a proposta de aumentar o preço da gasolina, tão barata que um só dólar da taxa oficial basta para encher os tanques de mais de 30 mil veículos médios, "ficou no papel" pela falta de um plano de cobrança adequado.

O entusiasmo inicial de Maduro pelo programa também parece ter decaído. O presidente fez um discurso, transmitido em rede obrigatória de rádio e televisão durante mais de uma hora, sem referir-se ao tema.

O colapso da economia se viu, além disso, potencializado pela queda da produção na indústria petrolífera da Venezuela, de onde o país obtém 96% das suas receitas.

De acordo com o último relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Pdvsa quase não atingiu a média de 1,17 milhão de barris por dia durante o último mês de outubro, um nível que é 39% inferior ao de todo o ano de 2017.

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