Defesa de suspeitos de mortes no Rio diz que catador atirou em tropa

Caso aconteceu na zona norte em abril

Publicado em 16/12/2019 - 20:54 Por Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A defesa dos 12 militares envolvidos na morte do músico Evaldo Rosa dos Santos, atingido por tiros no dia 7 de abril deste ano, no carro em que estava com a família, na zona norte do Rio de Janeiro, alegou que o catador Luciano Macedo, também baleado na mesma ação, vindo a morrer 11 dias depois, atirou contra a tropa, que revidou à agressão. Os militares começaram a ser ouvidos nesta segunda-feira (16), pela Justiça Militar, e os depoimentos prosseguem nesta terça-feira (13).

O advogado Paulo Henrique Pinto de Mello sustentou que Luciano havia participado de um assalto anterior e portava uma pistola, versão corroborada pelos seis militares que depuseram à juíza federal Mariana Aquino Campos, da Justiça Militar da União, nesta terça-feira.

“Os fatos hoje estão comprovando que Luciano não tinha uma vida reta, a própria esposa dele declarou, perante o juízo, que ele tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Depois descobrimos que ele havia sido preso por assalto à mão armada, e há que se entender que uma pessoa normal jamais correria para cima de um tiroteio”, disse o advogado.

Segundo ele, os militares estão tendo a primeira oportunidade de falar ao juízo, apontando que Luciano teria participado de um assalto que ocorreu na região antes da morte do músico. Quanto ao fato de não ter sido encontrada arma com o catador, Mello justificou porque o crime ocorreu próximo a uma comunidade, onde as pessoas são obrigadas a ajudar os criminosos. “O que esses militares estão enfrentando até aqui é um justiçamento”, declarou o advogado.

Promotora discorda

O Ministério Público Militar (MPM), representado na audiência pela promotora Najla Nassif Palma, discordou da tese apresentada pela defesa dos 12 militares, principalmente porque isso estaria indo contra as provas do processo.

“O Ministério Público é contra, porque não há provas nos autos. É uma construção da defesa. O que nós temos são as provas testemunhais que não viram isso [Luciano atirando contra a tropa]. Nós não temos nenhuma arma encontrada com ele. Nós temos o carrinho de catar recicláveis, que é dele, e estava ao seu lado. Temos a esposa grávida [que estava junto] e temos a perícia, que não achou nada de estojos deflagrados na área do Ford Ka [onde estavam o músico e sua família], só achou na área da viatura militar. É uma construção da defesa que, ao ver do Ministério Público, não tem respaldo nas provas dos autos”, declarou a promotora.

De acordo com o MPM, os militares buscavam autores de um roubo e dispararam contra o carro onde estava Evaldo, um Ford Ka branco. O sogro do músico foi ferido na ação, enquanto sua mulher, seu filho e uma amiga que também estavam no veículo não foram atingidos. O catador Luciano foi baleado ao tentar socorrer Evaldo e morreu 11 dias depois, no Hospital Estadual Carlos Chagas. A denúncia do MPM diz que, no total, os militares dispararam 257 vezes, tanto no assalto anterior quando no caso da morte de Evaldo, que teve o carro atingido por mais de 80 tiros.

Edição: Juliana Andrade

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