Deputado é preso pela PF, acusado de comandar quadrilha de grileiros

10/07/2003 - 15h20

Polícia Federal prende deputado distrital José Edmar por grilagem de terras

Brasília, 10/07/2003 (Agência Brasil – ABr) – A Polícia Federal prendeu hoje cedo, em sua casa, o deputado distrital José Edmar de Castro Cordeiro, do PMDB, acusado de envolvimento com ações de parcelamento irregular do solo (condomínios), crimes contra o meio-ambiente, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, estelionato, corrupção, ameaças e formação de quadrilha. Uma das lideranças do governador Joaquim Roriz na Assembléia Legislativa, José Edmar está preso na Superintendência Regional da Polícia Federal, junto com outros oito integrantes da quadrilha.

A prisão foi realizada por agentes da Polícia Federal, em atendimento a mandado de prisão expedido pela 12a Vara da Justiça Federal, a pedido do Ministério Público da União, com o objetivo de desmontar a cadeia de grilagem de terras públicas no DF. Além da prisão preventiva de nove integrantes da chamada máfia da terra, a medida autoriza 16 mandados de busca e apreensão, bem como o indiciamento de outros 14 envolvidos. Dentre as pessoas com prisão decretada constam os nomes de Rogério Costa Araújo Pereira, João Luiz Duarte de Abreu, Maria José Santos Barros e Miryan Rodrigues Braz.

O esquema também envolve outro deputado distrital que, a exemplo de José Edmar, tem mandato até 2006: o deputado Pedro Passos Júnior, que se orgulha de sua amizade com o governador Roriz, do qual é afilhado político. José Edmar é acusado de representar os interesses da quadrilha de grileiros na Assembléia Distrital, onde encaminha projetos de lei para regularização de terras ocupadas indevidamente. Pedro Passos, ainda segundo dados do inquérito, normalmente utiliza "laranjas" na transmissão de terras para posterior parcelamento irregular de solo, em parceria com seus irmãos Márcio, Alaor e Eustachio.

A mesma operação do Ministério Público, em colaboração com a Polícia Federal, realiza investigações no esquema dos "Irmãos Passos", que responde a 89 inquéritos e 55 ações, nos quais estão envolvidas 30 pessoas usadas para regularizar 34 condomínios em diferentes pontos do Distrito Federal, mas a maior concentração deles fica nas proximidades de Sobradinho. O foco do poder público está centrado também no esquema Arnaldo Córdova Duarte, no qual estão envolvidas 17 pessoas, que respondem a 80 inquéritos e 37 ações referentes à ocupação de terras públicas em sete condomínios.

Depois de desbaratada a turma de José Edmar, a Justiça está, agora, à procura do major Paulo Abreu, da Polícia Militar, sócio-proprietário da Academia Spartacus, de Taguatinga, que é apontado como responsável pela segurança da organização criminosa, além de realizar intimidações dos posseiros, proprietários e ou possíveis invasores de áreas de interesse do grupo. Também são procurados um policial civil licenciado, assessor do deputado, que supostamente fazia a cobrança de propina aos grileiros, e o amigo Maurício de Oliveira Pradera, que extraía areia em área de preservação ambiental e utilizava a empresa MW Factoring para a lavagem de dinheiro.

Quem também está na mira da Justiça é o médico cardiologista Herval Cavalcante P de Sá Martins, amigo do advogado Eri Varela, ex-presidente da Terracap. Ele é dono da Clínica Unicordes, que está em processo de falência, e é apontado como o principal articulador da organização criminosa junto aos órgãos competentes, mediante o oferecimento de vantagens e dinheiro. Herval é sócio de outro grileiro, João Sudário, que atua como procurador de supostos herdeiros de terras no Distrito Federal, e foi responsável pela implantação dos condomínios irregulares Tomahawk e Porto Rico, com ajuda do deputado José Edmar.

Matéria alterada dia 15/06/22 para exclusão de nome de parte devido a decisão judicial.